Dezenove

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São Paulo - SP, Brasil
15/03/2009

Com um sorriso largo no rosto, a mulher mais nova da família Santana se olhava no espelho presente em seu quarto, alisando a camisa branca do Santos Futebol Clube e observando o quão linda a roupa havia ficado em seu corpo, mesmo que muito larga, porque Júnior, que a presenteou com a camisa dizendo que ela merecia ser a primeira a ganhar uma dele por ter insistido e o incentivado a fazer o teste que o levou até o time profissional, não fazia ideia de como funcionava os tamanhos de peças de roupas femininas e pegou a primeira que viu pela frente. Pietra não se importava com aquele detalhe e em todos os dias de jogo vestia a camisa do clube com o número do melhor amigo nas costas, torcendo por Júnior com todas as forças e ficando feliz a cada toque do garoto na bola.

Pronta para assistir mais uma partida de futebol que Neymar jogaria, ela saiu do quarto, dando de cara com a avó e olhando confusa com a mais velha, que estendeu o aparelho celular na direção da neta.

— Júnior. — Contou.

Pi franziu a testa e pegou o celular, levando até a orelha e vendo a avó se afastar para dar privacidade para ela.

— Preta?

— Oi, Júnior. — Respondeu e sorriu. — O que aconteceu? Por que está me ligando? Você não tem jogo daqui a pouco? — Perguntou confusa.

— Tenho. — Disse simplesmente e a garota continuou confusa. — Queria ouvir sua voz, que é horrível por ligação, aliás. — Riu e Pietra revirou os olhos, mas sorriu. — E ouvir você me desejar boa sorte, talvez assim eu consiga finalmente marcar o meu primeiro gol pelo profissional. — Comentou.

— Boa sorte, preto. — Sussurrou. — Relaxa sobre isso de marcar, você está indo muito bem em todos os jogos e ajuda a equipe, a qualquer momento o seu gol vai sair, não se cobre muito.

— Quando eu fizer, eu te dedico.

— Com coraçãozinho para a câmera e tudo? — Brincou Pietra.

Já fazia muito tempo que ela e Neymar haviam deixado aquele lance de ficarem sem compromisso para trás. Mesmo após o jogador terminar seu relacionamento com Amanda e ficar solteiro e disposto a passar o rodo em todas as marias chuteiras que aparecessem na sua frente, ambos não ousaram tocar naquele assunto e continuaram apenas com a amizade de tantos anos, mas viviam soltando algumas coisinhas em forma de brincadeira.

— Com tudo o que você quiser. — Disse Neymar, podendo escutar a risada de Pietra e relaxar um pouco, porque mesmo após estrear se sentia nervoso antes de entrar em campo.

— Te dou um beijo se você marcar e me dedicar um gol hoje.

Foi a vez de ele rir.

— Você não poderia ter me dado motivação melhor. — Sorriu Júnior, mesmo que Pietra não conseguisse ver. Mas ela podia sentir que ele sorria. — Até mais tarde, preta.

— Até. Beijos.

— É o que eu vou te dar assim que chegar aí. — Ele riu, desligando a ligação antes de receber uma resposta.

A garota, que sorria como uma boba, afastou o aparelho do ouvido e caminhou saltitante até a sala de sua casa, encontrando a mãe sentada em um dos sofás com uma vasilha de pipoca em mãos, e a avó deitada em outro, pronta para fingir que assistia ao jogo, quando na verdade dormia durante toda a partida.

— Cheguei. — Anunciou e se jogou ao lado da mãe.

— O jogo já vai começar. — Contou Vanessa.

— O que o Juninho queria? — Vó Eva indagou curiosa e viu a neta sorrir.

— Ele queria ouvir um “boa sorte”. — Respondeu Pi.

— Será que o gol dele sai hoje? — A mãe da adolescente perguntou.

— Estou torcendo por isso. — Sussurrou, encarando a televisão já no canal de esportes.

— Quer uma pipoquinha?

— Pipoca para assistir jogo, mãe?

Vanessa deu de ombros, enchendo a mão com a pipoca que fez e levando até a boca. Continuou olhando para a filha, que bufou e enfiou a mão na vasilha, se afundando no sofá e enchendo a boca assim como a mãe havia feito.

*

Um suspiro fundo foi solto por Pietra ao assistir o time de Neymar perder mais um gol. A equipe vencia por dois a zero, mas ela queria que aumentassem ainda mais a vantagem e que, de preferência, o gol viesse dos pés de seu amigo.

— Só o Júnior para me fazer ficar acordada esperando um mísero gol ao invés de ir tirar o meu soninho da beleza. — Resmungou Eva, chamando a atenção da filha e da neta.

— Vovó, a senhora está mais dormindo do que assistindo.

A mais velha a encarou indignada e Pietra levantou as sobrancelhas em um claro desafio, esperando que a senhora negasse aquele fato, e então Eva torceu o nariz e voltou a atenção para a TV, onde um novo ataque do Santos se iniciava.

Pietra se ajeitou no sofá rapidamente, assistindo atenta todos os movimentos e vendo Roni avançar pelo lado esquerdo da grande área, cruzando a bola à meia altura. A garota soltou um grito quando viu Neymar Júnior mergulhar de cabeça e mandar a bola para o fundo da rede, marcando seu primeiro gol como jogador profissional e fazendo a amiga gritar ainda mais, dando um salto do sofá e pulando de felicidade, sorrindo largamente ao ver Júnior se aproximar da câmera ao comemorar, mostrando um coração e mexendo os lábios de modo que ela conseguisse ler:

— Te amo, preta.

[...]

Gritar o nome de Pietra uma única vez foi o suficiente para Júnior logo ver a garota aparecer na porta de sua casa, correndo até o portão e o abrindo rapidamente, pulando sobre ele e passando os braços no pescoço do jogador, o apertando em um abraço. O menino riu e retribuiu, agarrando a cintura dela e a girando no ar, arrancando um gritinho surpreso de Pietra.

— PARABÉNS, PRETO! — Gritou quando se afastou dele. — Você jogou muito bem e o seu gol foi incrível, eu juro. Gritei como uma maluca e até agora não tenho palavras suficientes para expressar o quão feliz e orgulhosa estou de você e sei que ficarei ainda mais, porque um dia você vai ser o melhor jogador do mundo! — Completou sorridente e deu vários beijos pelo rosto de Neymar, que riu da animação dela. — Amei que você realmente dedicou o gol para mim. Não tem noção do quanto minha vó e minha mãe me zoaram. — Riu.

Se afastou com cuidado de Pietra e segurou em sua mão, a fazendo dar uma rodadinha e olhando a preta da cabeça aos pés.

— Você fica linda quando usa ela. — Afirmou, se referindo à camisa do seu clube. — E eu ainda não acredito que fica mais bonita em você do que em mim.

— Aceita, Júnior. — Sorriu divertida.

O jogador riu baixo e mordeu o lábio inferior em seguida, se aproximando mais e fazendo Pietra dar passos para trás até encontrar o muro da casa.

— Obrigado pelos parabéns. — Disse baixo, levando uma das mãos para o rosto dela. — E pelas palavras. Você sabe que isso tudo é graças a você, uma dedicaçãozinha não é nada perto do que realmente merece.

— Uau, como eu estou podendo. — Sussurrou Pietra, posicionando as mãos dela nas curvas do pescoço de Júnior. — Adorei toda essa bajulação, pode continuar.

Neymar riu mais uma vez.

— Prefiro comemorar o meu gol. — Falou. — Fiz o gol, comemorei fazendo coraçãozinho para a câmera e ainda te disse "eu te amo" para todo mundo ver. Mereço um beijo, não é?

— Só quer um? — A garota fez beicinho.

— Eu não reclamaria se fossem vários. — Respondeu.

— Ótimo. — Murmurou ela, inclinando mais o rosto na direção do dele e raspando seus lábios, esperando que Júnior tomasse a iniciativa.

— Ótimo. — Repetiu e a beijou.

...

Destinos Traçados ━━ Neymar Jr.Onde histórias criam vida. Descubra agora