Trinta e Nove

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Barcelona, Espanha

Outro champanhe foi aberto e gritos tomaram a sala de estar da casa de Neymar Júnior, que estava no canto do cômodo assistindo os amigos e familiares beberem e se divertirem na festa em comemoração à sua convocação para a Seleção Olímpica. A competição aconteceria em breve e o jogador estava ansioso para participar e poder conquistar para a seleção brasileira o primeiro título olímpico, ainda mais depois de tudo o que o aconteceu na Copa do Mundo de 2014. Ainda assim, não se sentia cem por cento feliz.

Estava cercado de pessoas que o amava e torcia por ele, porém se sentia excluído em meio a todos, porque, como em todas as outras vezes em que conquistou algo inédito nos últimos anos, sentia saudades de comemorar com a mulher que sempre esteve com ele.

Pietra com certeza soltaria um daqueles gritinhos que costumava soltar ao receber uma notícia incrível quando soubesse e então pularia com tudo sobre ele para um abraço apertado, enquanto dizia o quanto estava feliz e orgulhosa por ver bem de pertinho ele conseguindo realizar mais um de seus sonhos. Os dois combinariam de fazer qualquer bobagem e no fim, muito provavelmente, terminariam a noite no quarto dele conversando sobre tudo o que viesse em suas mentes e comendo bobagens como se o jogador não tivesse que seguir uma dieta rigorosa.

— Acorda, Júnior! — Escutou e piscou três vezes, vendo dedos se estalarem na frente de seu rosto.

Enxergou Rafaella, que tinha as sobrancelhas franzidas enquanto o encarava.

— O que?

— Aonde você estava? No mundo da Lua? — Indagou e o irmão apenas bufou, encarando a festa que continuava acontecendo. — Eu já estava pensando na nossa viagem, sabe? Quando voltarmos para o Brasil, podíamos passar algum tempo em São Paulo, matando a saudade da cidade natal, e só então...

Júnior não se sentiu nem um pouco mal por ignorar todas as palavras que saía da boca da irmã mais nova.

Voltou a pensar em tudo o que havia acontecido em sua vida e no quanto Pietra fazia falta. Mesmo depois de tantos anos, ainda não fazia ideia do porquê da melhor amiga não ter feito questão de ir se despedir dele no aeroporto, ainda mais por ela ter pedido para se despedirem lá e acabou por não deixar ele se declarar da maneira que realmente desejava. Soube que ela chegou atrasada, mas apenas porque sua mãe e irmã o avisaram assim que ele ligou para elas pela primeira vez em solo espanhol, já com o número novo, e porque não fez questão de conferir as mensagens que recebera no antigo.

Pietra agora era só mais uma lembrança, e, algumas vezes, o assunto entre ele e o filho, que amava contar quando passava uma tarde com a madrinha.

— Mas que merda, Neymar Júnior! — Ouviu e revirou os olhos antes de olhar para Rafaella mais uma vez. — Por que está com essa cara de quem não comeu e não gostou?

— Porque você está enchendo a porra do meu saco. — Retrucou.

— Isso não é verdade, você está assim o dia inteiro. Parece até que não está feliz com a convocação, porque nem comemorar está comemorando. — Comentou desconfiada e encarou seriamente o irmão. Neymar percebeu quando o semblante de Rafaella mudou e foi como se eles estivessem em um desenho animado, porque ele jurava ter visto uma lâmpada aparecer sobre a cabeça dela. — Ahhh, eu já entendi tudo! — Afirmou com toda a certeza que tinha. — Juninho, se você sente falta dela, não seria melhor mandar uma mensagem, pelo menos? — Sugeriu.

— Não começa.

— Começo sim! — Falou. — Para de ser idiota, você não tem mais dezesseis anos. — Revirou os olhos com impaciência e Neymar a encarou sem ânimo algum. — Poxa, você e a Pi são almas gêmeas, não deveriam...

— Quanto você bebeu, Rafaella? — Interrompeu a irmã. — Já está falando besteira.

— Júnior, olha aqui. — Disse séria e levantou o dedo indicador, apontando para ele. — Não sei se você se esqueceu, mas a Pietra é uma das pessoas mais incríveis desse mundo e ela sempre esteve do seu lado, mesmo com você fazendo merda atrás de merda. Se você sente saudades, diz isso pra ela. Mas, se você prefere ficar com essa cara de cu para o resto da vida só relembrando os bons momentos, problema é seu! Só lembra que eu vou jogar na sua cara todos os dias que eu te avisei. — Cutucou o peito dele três vezes ao dizer as últimas palavras e depois roubou o copo de bebida do irmão, virando o líquido. — O número dela tá aí. — Entregou o celular e saiu sem esperar resposta.

Neymar piscou algumas vezes, observando Rafa se afastar como se não tivesse acabado de socar o estômago dele com palavras. Encarou o celular da irmã nas mãos e o desbloqueou com um simples arrastar de dedo na tela, buscando pelo aplicativo de mensagens e entrando, tentando ignorar a vontade que tinha de bisbilhotar o que Rafaella conversava com certos amigos dele.

Foi na lupa de pesquisa e digitou “Pi”, não demorando para avistar o número de Pietra. Reconheceu pela foto e, também, pelo nome, porque ela era a única “Pi” presente nos contatos do telefone de Rafaella.

Clicou sobre a imagem, a abrindo e piscando diversas vezes enquanto perdia o ar dos pulmões.

Pietra tinha um largo sorriso no rosto e estava linda como sempre havia sido, aquilo não o surpreendeu nem por um instante, mas o anel de noivado sim. A mulher mostrava o acessório presente em sua mão bem ao lado do rosto e recebia um beijo na bochecha do homem que em breve seria seu marido. Parecia radiante. Mais feliz do que nunca antes.

Nem todo o barulho que tomava a casa de Júnior foi o suficiente para abafar o som de seu coração se quebrando em pedacinhos.

Claro que a vida dela não tinha parado. A dele não parou, e Neymar sabia que três anos não eram como três dias ou três semanas, mas ainda assim, bem lá no fundo, ele torcia para que Pietra ainda fosse apenas dele. Que, mesmo após tanto tempo sem trocarem simples cumprimentos, eles pudessem algum dia se resolverem e voltarem a ser o que eram.

Só então caiu a ficha de que aquilo não aconteceria. E, com certeza, era tudo culpa dele, que não fez questão de procurar pela mulher que já fora sua melhor amiga e entender o que aconteceu para ela não conseguir chegar a tempo de se despedir dele no aeroporto. Por decidir na hora da decepção e da raiva que já era tempo de deixar tudo aquilo para trás e viver coisas novas em um país e clube de futebol novo. Por simplesmente fingir que nada, nunca, aconteceu entre eles dois e que Pietra jamais fizera parte de sua vida. Por tudo.

Soltando todo o ar que descobriu estar segurando, Neymar apagou a tela do celular e olhou ao redor, buscando pela irmã para devolver o aparelho. Quando não a encontrou, caminhou até o sofá e jogou o celular em meio as almofadas, virando as costas para toda a festa e subindo para seu quarto.

Trancou a porta para não ser incomodado e deitou sobre a cama, escondendo o rosto no travesseiro e choramingando como uma criança pequena que acaba de ter o doce roubado de suas mãos.

...

Destinos Traçados ━━ Neymar Jr.Onde histórias criam vida. Descubra agora