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Pietra não fazia ideia de quem era aquele cara parado na frente de sua casa dizendo que era o seu pai, mas podia afirmar com toda a certeza que já não sentia vontade de conhecer tal progenitor, até porque a sua fase de criança sentindo falta de uma imagem paterna por perto já havia passado há mais de dez anos e a presença de sua avó e sua mãe tinha sido muito mais do que suficiente para que ela crescesse com uma ótima educação e sem sentir falta de mais ninguém, ainda mais de um homem – era certo se referir a ele assim? – que a abandonou.
— De qual portão do inferno você escapou? — Perguntou séria, cerrando os punhos ao lado de seu corpo. — Eu não tenho pai. Vai embora daqui.
— Pietra, você tem pai e esse cara sou eu. — Afirmou, segurando nas grades do portão e, consequentemente, se aproximando mais.
— Vai embora. — Repetiu.
O mais velho suspirou fundo e Pi se deixou observar o rosto dele, tentando encontrar algo familiar, mas não havia nada, já que nunca tinha visto sequer uma foto dele e, felizmente, ela não se parecia em nada com o homem.
— A sua mãe... ela está aí?
Antes que Pietra pudesse deixar ainda mais claro que ele não era bem-vindo, a voz de sua mãe soou atrás de Pablo:
— Pi, você está aí! — Falou aliviada, ajeitando as sacolas pesadas do supermercado em seus braços e se aproximando mais, ignorando completamente o homem presente. Talvez fosse mais um fazendo cobranças, considerando o tanto de contas atrasadas naquela casa. — Me ajuda com essas sacolas, estão pesadas e eu estou carregando elas desde que...
— Vanessa? — A mãe de Pietra foi interrompida.
A voz masculina adentrou seus ouvidos e atingiu diretamente seu coração, o fazendo doer no mesmo instante em que o cérebro dela a fez se lembrar de toda a dor que sentiu ao ser abandonada grávida pelo mesmo homem que, agora, estava na sua frente com um sorriso no rosto como se nada tivesse feito.
— O que... o que você... — Gaguejou e as sacolas caíram de suas mãos.
A filha única de Vanessa se aproximou rapidamente, recolhendo as sacolas do chão e parando bem ao lado da mãe, também encarando Pablo sem fazer a mínima ideia do que falar.
— Meu amor, eu vim recuperar o tempo perdido. — Sorriu ele.
*
Sem acreditar na escolha da mãe em conversar com o homem que as abandonou, Pietra encarava a rua em que havia crescido, encostada no muro da casa que já havia deixado de ser feia há muito tempo após algumas mudanças pensadas pelas três mulheres e batucando o dedo indicador em um dos braços, que estavam cruzados. De longe, qualquer um podia notar que havia algo de errado. E foi o que aconteceu.
— Preta? — Neymar chamou assim que se aproximou e a garota encontrou o olhar dele. — O que houve?! — Perguntou no mesmo instante, chegando mais perto dela e segurando em seu rosto.
Pietra respirou bem fundo antes de abrir a boca, senão choraria.
— Júnior... — a voz embargou —, tem um cara lá dentro conversando com a minha mãe. — Apontou e engoliu o choro.
— Que cara? — Indagou confuso.
Não queria comentar, mas era meio normal ter caras desconhecidos na casa de Pietra, até porque, quando Vanessa ficava bêbada adorava fazer aquelas besteiras de levar qualquer um para debaixo do seu teto, e ela quase sempre estava cheia de bebida.
— O meu “pai”. — Fez aspas com os dedos. — O nome dele é Pablo e ele apareceu aqui de repente.
— Caralho... — Foi tudo o que o garoto conseguiu dizer. — Mas o que ele quer depois de tanto tempo? E como você está? — Perguntou, mesmo sabendo que era um questionamento idiota.
Conhecia Pietra o suficiente para saber que aquela carinha era de quem estava prestes a cair no choro.
— Ele disse que veio recuperar o tempo perdido.
— Dezessete anos?!
— Não é ser muito cara de pau, preto? — Disse indignada. — Depois de abandonar minha mãe grávida e sumir no mundo por todos esses anos, ele vem querendo invadir nossas vidas dessa maneira. E minha mãe deixando, porque está lá dentro conversando com ele. — Falou. — Não sei como ela consegue, eu o mataria aqui na calçada, se fosse ela.
Neymar riu baixinho.
— Deixa essa sua pose de brava de lado quando estiver falando comigo, preta. — Sussurrou e deu um beijo carinhoso na testa dela, mantendo seus rostos próximos. — Me diz como você está com tudo isso.
— Estou para enlouquecer! — Soltou e segurou com força na barra da camisa do melhor amigo. — Não sei o que pensar, o que fazer... estou completamente confusa sobre tudo e ao mesmo tempo que quero o colocar contra a parede e encher de perguntas, quero o expulsar daqui o mais rápido possível e fingir que nunca o vi em toda a minha vida, como estava sendo até meia hora atrás. — Desabafou e seu queixo tremeu.
— Ou... podemos juntar uma galera e quebrar ele na porrada. — Sugeriu Júnior, arrancando uma sincera risada de Pietra e sorrindo por tal feito.
— Vamos deixar essa ideia guardada, talvez eu possa querer ela. — Disse divertida e sentiu as mãos do jogador descerem até sua cintura, pousando delicadamente naquela área de seu corpo. Sorriu levemente e acariciou o rosto de Neymar. — Eu queria muito sair com você, sei que iria me fazer relaxar e esquecer todos os problemas, mas perdi totalmente o clima. Me desculpa.
— Está tudo bem, preta. — Afirmou. — Deve tá sendo uma barra para você, eu entendo. Nós podemos sair outro dia. — Pietra agradeceu baixinho e Júnior selou seus lábios em um selinho demorado. — Vai ficar tudo bem. — Sussurrou.
Ela sorriu e se aconchegou nos braços dele, deixando que o garoto fizesse um carinho lento e gostoso em suas costas.
— Tenho que entrar e enfrentar, não é? — Murmurou desanimada.
— Você também tem a opção de fingir que não tem nada acontecendo e sair correndo comigo para qualquer lugar. — O jogador deu ideia e Pietra riu novamente.
— Tentador. — Disse baixinho. — Mas não.
Levantou a cabeça do peito dele e fez beicinho, recebendo um beijo breve.
— Me liga se precisar de alguma coisa, está bem?
— Uhum. — Respondeu. — Nos vemos depois.
Se despediu de Neymar com mais um beijo e caminhou até a porta principal de casa, parando de frente para ela e respirando fundo, quase voltando atrás e aceitando a última proposta de seu amigo e fugindo dali junto a ele, mas se obrigou a respirar ainda mais fundo e abrir a porta, pronta para encarar o rosto de seu pai mais uma vez.
Pai.
Pietra achava aquela palavra tão estranha quanto o aparecimento daquele cara na vida dela e da mãe mais uma vez.
...
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Destinos Traçados ━━ Neymar Jr.
Fanfiction✿*:・゚ ㅤ No dia 05 de fevereiro de 1992, em uma maternidade aleatória do estado de São Paulo, duas mulheres ouviram o choro estridente de seus bebês assim que nasceram e se sentiram realizadas no mesmo instante, sabendo que nada mais faltava para el...