Quarenta

10.9K 1K 282
                                    

São Paulo, Brasil
10/08/2016

Depois de conferir as panelas que ainda estavam no fogão, Pietra se afastou jogando o pano de prato sobre um dos ombros e caminhou até a entrada da cozinha, tendo uma boa visão da mãe e da avó na sala de estar da residência. A TV estava ligada no canal de sempre e as duas conversavam entre si, enquanto Vanessa passava cuidadosamente a sombra nos olhos da mãe, como pedido por ela. Pietra forçou um pouco mais as vistas e franziu a testa ao identificar a cor.

— Verde? — Perguntou confusa, chamando a atenção das duas para ela.

— E amarelo! — A mãe a respondeu sorrindo largamente e viu a filha ainda mais perdida. — Hoje tem jogo do Brasil, Pi. — Lembrou e a menina murmurou um “ah! verdade.”.

Vanessa voltou a atenção para o rosto da mãe, continuando a fazer a maquiagem, e Pi suspirou fundo, encarando a televisão sem realmente prestar atenção no que passava. Sabia que as Olimpíadas já havia começado, até porque a avó não parava de falar na competição e não perdia um dia de jogos se quer, independente da modalidade, mas ela evitava assistir às partidas de futebol do time masculino. Não queria olhar para a TV e dar de cara com o homem que não conseguia esquecer de jeito nenhum, jogando pela seleção brasileira. Já bastava as stalkeadas que dava nas redes sociais dele de vez em quando.

— Ih, está no mundo da Lua. — Escutou e piscou algumas vezes, voltando a atenção para mãe e para a avó, que a encaravam. — Chocolate, sua mãe está falando com você. — Disse Eva.

— Ah, desculpa, mãe. — Pediu. — O que disse?

— Você pode colocar mais um prato na mesa para o jantar? — Perguntou e viu a filha franzir as sobrancelhas, a encarando confusa. — É que eu convidei uma pessoa. — Contou levemente sem graça.

Há algumas semanas Vanessa teve alta da clínica de reabilitação e foi recebida de volta à sua residência com uma pequena festinha preparada pela mãe e pela filha. Estava completamente limpa e passava todo o tempo possível em casa, saindo apenas para buscar um novo emprego e, outras vezes, para se encontrar com alguém que Eva e Pietra não faziam ideia de quem era. As duas não podiam negar o quão preocupadas ficaram nos primeiros dias, com medo da mulher sofrer uma recaída e acabar em um bar qualquer do bairro, mas então o medo passou. Confiaram mais na mulher e não deixaram de notar que ela sempre voltava mais feliz para casa quando via a tal pessoa.

— Quem? — Não segurou a língua, indagando curiosa.

— Um amigo.

— Amigo? — Repetiu.

— Sim, Pietra! Amigo. — Frisou e a mais nova a olhou desconfiada, mas ainda assim assentiu.

— Está bem, eu coloco. — Falou e depois olhou para a avó. — E a senhora, vó? Vai chamar algum namoradinho? — Brincou e não deixou de notar Vanessa bufar pela indiretinha.

— Hum, eu não. — Respondeu Eva, pegando um batom da caixinha se maquiagens. — Seria estranho chamar os três. — Completou e as outras duas gargalharam, negando com a cabeça e observando a mulher passar o batom com atenção, se olhando no pequeno espelho de mão.

— O Gabriel vem, Pi? — Vanessa quebrou o silêncio, voltando a atenção para a filha novamente.

— Eu não chamei.

Destinos Traçados ━━ Neymar Jr.Onde histórias criam vida. Descubra agora