Seis

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São Paulo - SP, Brasil
oito anos depois

Pietra mordeu a “bundinha” do lápis com certa força, olhando para a folha à sua frente, praticamente em branco, tirando seus rabiscos e as letras que formavam os enunciados da prova de matemática que decidiria se ela ficaria de recuperação ou não. Se fosse bem, estaria a salvo, mas se não... ela estremeceu só de pensar em precisar de recuperação mais uma vez naquela matéria.

Quando respirou fundo e se inclinou sobre a mesa para se concentrar melhor na prova, sentiu um chute em seu pé.

— Preta. — Neymar chamou em um sussurro, com os braços apoiados em sua carteira e se empertigando na direção de Pietra da maneira mais natural possível para não chamar a atenção da professora.

Pietra voltou a se recostar na cadeira, assim poderia ouvir ele melhor.

— O que? — Sussurrou de volta.

— Tem como você me passar a resposta da questão três? — Pediu.

A garota suspirou baixo, não sabendo como Júnior ainda tinha coragem de pedir respostas para ela, já que na maioria das vezes estavam erradas, principalmente quando a matéria era matemática. Ainda assim, Pietra conferiu se já tinha passado por aquela questão, porque sempre ia nas mais fáceis primeiro.

— Letra B. — Respondeu.

— Tem certeza? Eu fiz uma conta aqui e deu a D. — Disse, olhando para a prova dele e fazendo careta.

— Se você já respondeu, porque está me perguntando? — Pietra resmungou e segurou a vontade de se virar em sua cadeira e encarar o amigo, coisa que fazia frequentemente durante as aulas.

Neymar Júnior e Pietra se tornaram inseparáveis a partir do aniversário de seis anos que passaram juntos, quando Neymar dividiu sua festa de aniversário com a garota. Desde aquele ano, comemoravam todos seus aniversários juntos, não importava onde ou o que estivessem fazendo, só tinham que estar um com o outro. Agora, com quatorze anos, seguiam com a mesma amizade de sempre, e mesmo que não dissessem, ambos desejavam manter aquela bela amizade por bastante tempo.

— Porque eu queria saber se você colocou igual. — O garoto respondeu e Pietra revirou os olhos, voltando a atenção para a prova.

Leu e releu algumas questões, até entender o que elas pediam e tentar resolvê-las. Atrás dela, Neymar também resolvia, mas espiando de todos os lados possíveis e copiando de quem ele achava ser mais inteligente.

— Preta. — Chamou novamente após alguns minutos e chutou o pé da amiga mais uma vez.

— O que é, Júnior? — Resmungou Pietra, apertando com força o lábios em sua mão por ser interrompida.

— Você sabe a seis? — Perguntou baixo.

Pietra franziu o cenho, não entendendo o que ele disse, então se rescostou em sua cadeira e inclinou a cabeça um pouco para o lado.

— O que você disse?

— Perguntei se você sabe a seis. — Neymar explicou, olhando para a professora e vendo ela mexendo no celular. — Eu não entendi nada dela e ninguém...

— Neymar, não estou ouvindo nada do que você está falando. — Pietra o interrompeu.

— Mas que porra, hein, Pietra?! — Falou. — A seis, estou perguntando se você sabe a questão SEIS! Meia-dúzia! — Repetiu alto e continuaria a falar, se não tivesse ouvido uma cadeira arrastando e vendo que a professora agora caminhava na direção dele e de Pietra.

Esta levou as mãos ao rosto, xingando Júnior de diversos palavrões que conhecia e começando a criar outros quando acabou seu estoque.

— Neymar e Pietra, a prova. — A professora pediu, estendendo as mãos na direção dos dois.

— Não. — Pi negou com voz abafada pelas mãos.

— Professora, espera aí, foi só um mal entendido. — Tentou Júnior, sorrindo amarelo para a mais velha. — Não é isso que a senhora...

— Agora! — Ela interrompeu o aluno e os dois bufaram, entregando suas provas. Virou as costas, voltando para a mesa dela e se sentando lá, jogando as provas sobre a mesa. — Vocês vão acabar sendo dois ninguéns. — Disse.

Pietra olhou indignada para a mulher.

Dois ninguéns?!, repetiu mentalmente.

— Do jeito que a sua filha gosta. — Neymar retrucou e ouviu algumas risadas.

— O que disse, Neymar Júnior?! — A professora perguntou alto, se levantando novamente, mas não deu tempo para Júnior a responder e apontou para a saída da sala de aula. — Pra fora, os dois!

— É melhor eu sair mesmo antes que eu fale alguma bobagem aqui. — Pietra disse, se levantando e juntando rapidamente as coisas dela, mesmo que não tivesse feito nada para estar sendo mandada para fora da sala junto à Neymar.

— Como o que, por exemplo, Pietra? — Indagou a mais velha, em um tom irônico.

— Como “vai tomar no meio do seu cu, velha desgraçada!”. — A garota respondeu e deu um sorrisinho, saindo da sala em seguida sem nem olhar para trás.

— E eu assino embaixo! — Ouviu Neymar falar e logo em seguida a porta bater. — Estamos livres agora. O que vamos...

Pietra interrompeu o amigo com socos nos braços dele, ouvindo Júnior reclamar de dor e se afastar dela rapidamente, indo parar quase que do outro lado do pátio da escola.

— Tá maluca, é?! — Perguntou.

— Você me fez entregar uma prova sem terminar de responder todas questões, seu imbecil! — Disse alto. — Se eu ficar de recuperação, Neymar Júnior, eu juro que faço um estrago nesse seu rostinho feio.

— Mentiu na parte do “feio”. — Ele alertou ofendido. — O meu rostinho é lindo e você não vai nem tocar nele, tenho certeza que aquela... coisa vai nos passar direto.

— Ah, é? E como sabe disso? — Pietra indagou e cruzou os braços, apoiando o peso do corpo em uma só perna e batendo o pé no chão, na sua pose de brava de sempre, a qual Neymar achava adorável.

— Ela não aguenta mais nós dois, você não percebeu ainda? — Riu. — Até parece que ela vai querer dar aulas a mais para nós. — Completou e se aproximou da amiga, passando o braço pelo pescoço dela e dando um beijo em sua bochecha como um pedido de desculpas por ter estragado a prova para eles.

— É, talvez você esteja certo. — Disse, não dando o braço a torcer. Não totalmente. — Júnior... você acha que vamos ser dois ninguéns lá no futuro? — Perguntou e olhou para ele.

— Nem sabemos se estaremos vivos amanhã, porque se preocupar com nós em um futuro distante? — Perguntou e Pietra riu, concordando com a cabeça. — E aí, vamos pular o muro e passar o resto do dia no campinho?

A garota riu alto.

— Com certeza seremos dois ninguéns. — Falou, começando a andar com o amigo até a melhor parte do muro da escola que dava para pular.

...

Destinos Traçados ━━ Neymar Jr.Onde histórias criam vida. Descubra agora