Um

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PARTE UM.

São Paulo - SP, Brasil
28/01/1998

O carro da mudança estacionou na frente da nova casa da família Santana e assim que a avó abriu a porta do veículo, Pietra pulou de seu colo e deu a volta com uma rapidez impressionante, ficando bem de frente para o portão da casa e inclinando a cabeça para o lado, franzindo o cenho e fazendo careta para expressar todo o seu descontentamento com o que via.

— Nós vamos morar... — fez uma pausa — aqui?! — Indagou, sem ao menos se importar em saber se a mãe ou a avó estavam ali para a escutar.

Já havia aceitado o seu lamentável — como ela mesma se referia — destino assim que a mãe deu fim à discussão sobre a mudança, batendo o martelo e repetindo que nada do que Pietra falasse mudaria a decisão dela. Iriam se mudar, deixar para trás a casa que a criança conhecia de cor e salteado e poderia andar de olhos fechados que não se bateria em nada, porque foi lá onde foi criada desde que saiu da maternidade, para ir para outra casa, um pouco longe da antiga e em um bairro desconhecido, com pessoas desconhecidas, e imensamente feia.

Aquela era a casa mais horrível que Pietra já tinha visto em toda sua vida de (quase) seis anos. O tom estranho de verde musgo descascando nas paredes do lado de fora fazia ela ter certeza de que aquela casa, por dentro, estava um caco completo.

— Está tudo bem, meu chocolate? — Eva perguntou, se aproximando da neta e tocando seu ombro devagar para chamar a atenção da menor para ela.

— Vovó, vamos morar nessa casa horripilante de tão feia?! — Perguntou indignada.

— Feia? — Repetiu, franzindo a testa e olhando para a casa mais uma vez antes de voltar a encarar a neta. — Por que diz isso?

— Porque é! — Respondeu e apontou para o imóvel com as duas mãos. — Está caindo aos pedaços, olha isso. Uma cor feia, portão feio, jardim horrível! Eu não duvido que tenha um bicho morto bem ali. — Apontou veemente para o jardim, que estava tomado por gramas altas, deixando claro que ninguém limpava ali a um bom tempo.

Eva riu baixo, não conseguindo se segurar ao ouvir o tom totalmente indignado da neta ao citar os defeitos da residência que agora as pertencia, e tinha que concordar com alguns pontos, mas jamais diria aquilo, ou então Pietra iniciaria mais uma conversa sobre a mudança que acabaria terminando em discussão entre ela e a mãe.

— Chocolate, você só está pensando isso, porque ainda não viu a casa por dentro. — Falou. — Ela não é feia, só estava vazia por muito tempo, mas daremos um jeito nesse portão, na cor das paredes, tudo. Quando entrarmos, você vai ver só que casa bonita alugamos.

Deu um beijo no topo da cabeça de Pietra e se afastou, indo ajudar a filha e o motorista do caminhão de mudança com seus dois ajudantes à tirar os móveis de dentro do veículo e levar para dentro.

Enquanto isso, Pietra voltou o olhar para a casa e duvidou da palavra da avó.

Não ousou entrar, escolheu ficar sentada na calçada, com os cotovelos apoiados em suas pernas e segurando o rosto com as duas mãos, observando os adultos para lá e para cá levando as coisas do caminhão para dentro de casa. Em alguns momentos, olhava para a rua vazia, se perguntando o que ela faria ali se não tinha nenhum amigo naquela região. Não que fosse cheia de amizade no outro bairro, mas os meninos sempre deixavam ela jogar futebol com eles.

Destinos Traçados ━━ Neymar Jr.Onde histórias criam vida. Descubra agora