Vinte e Dois

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A sala de estar estava em completo silêncio, com exceção das fungadas que Vanessa soltava, completando o combo com os olhos vermelhos de tanto chorar e revelando que a conversa não havia sido nada fácil para ela, mas Pablo continuava ali, sentado sozinho em um dos sofás da casa, enquanto Pietra o encarava diretamente, chegando a deixar o homem desconcertado. Mas o que era um desconforto momentâneo comparado ao abandono de anos que ele cometeu contra ela e sua mãe?

— Você é linda, filha. — Elogiou Pablo, ao achar que aquele silêncio estava indo longe demais.

Pietra se levantou devagar, caminhando até ficar de frente para o homem.

— Eu sei disso. — Respondeu ao elogio. — O que eu não sei é o porquê de você ter vindo nos procurar depois de tanto tempo. — Falou séria, o que só deixou mais claro para Pablo que a garota não seria fácil de lidar. — Pode me dizer?

— Pensei muito sobre a péssima atitude que tive com a sua mãe e decidi voltar para me reconciliar com ela e me aproximar de você, te conhecer melhor. — Disse calmamente, o que enojou Pi.

— Deve ter pensado bastante mesmo... Dezessete anos, para ser mais exata. — Jogou na cara dele.

— Filha...

— O meu nome é Pietra. — O interrompeu. — Se refira a mim como Pietra. — Exigiu e o homem suspirou fundo.

— Pietra... — Se corrigiu. — Eu sei que não agi certo ao ir embora de maneira tão repentina da vida da sua mãe e passar todo esse tempo longe, e eu me arrependo, por isso voltei, disposto a ser presente na sua vida e na de sua mãe. — Se levantou e parou na frente da adolescente, não desviando o olhar do dela. — Assumir o meu papel de pai, porque a presença de um pai é muito importante na vida de um filho.

Pietra riu alto assim que o homem fechou a boca, balançando a cabeça algumas vezes ao gargalhar e demorando alguns segundos para se recuperar do riso.

— Ah, meu Deus, isso só pode ser algum tipo de brincadeira. — Falou e voltou a ficar séria, encarando Pablo. — Assumir o seu papel de pai. — Repetiu. — Fingiu que eu não existia por todos esses anos e agora você quer fazer o seu papel de pai... entendi.

— Desculpa, filha. — Pediu e deu mais um passo em direção a ela, que não se abalou.

— Pega essas suas desculpinhas e enfia no meio do seu cu! — Disse brava. — Está achando que é simples assim? Abandona a minha mãe grávida de mim, some por mais de dezessete anos, volta do nada saindo de algum buraco do inferno dizendo que quer ser presente em nossas vidas e acha que um pedidozinho de desculpas resolve tudo?! — Indagou, mas não deu tempo para Pablo a responder. — Eu não preciso de você na minha vida.

— Pietra, você está nervosa, não sabe o que...

— Eu já estou criada. — Afirmou, o interrompendo. — E muito bem criada, aliás. Aquelas duas mulheres ali fizeram, e ainda fazem, de tudo por mim desde que cheguei ao mundo. Estão presentes em todos os momentos da minha vida, me ajudando, aconselhando, brigando, cuidando de mim, me amando muito e, juntas, temos a família mais incrível do mundo e eu, a melhor educação de todas. E adivinha? Tudo isso sem você. — Sorriu.

— Pietra, não estou negando que sua mãe e a sua avó fizeram um bom trabalho com você, mas um pai é diferente. — Disse e estendeu a mão para tocar a menina, que se esquivou.

— É, você é bem diferente mesmo, até porque me rejeitou, não é? — Falou. — Diferente delas duas.

— Não te rejeitei. — Afirmou e Pietra se perguntou como ele podia ser tão sonso. — Você tem que ouvir a minha versão da história para entender tudo o que aconteceu, existe dois lados e é importante que você saiba...

— Estou pouco me fudendo para a sua versão da história. — O interrompeu mais uma vez, falando séria. —  Assim como estive pouco me fudendo por você ter ido embora por todos esses anos e como estou por você ter voltado. — Os olhos de Pablo e arregalaram levemente e ele deu um pequeno passo para trás, enquanto Pietra de aproximava. — E quero que você vá para o inferno, de onde não devia ter saído, com esse seu papinho sobre exercer o seu papel de pai na minha vida. Isso não vai acontecer, porque não quero te ver nem pintado de ouro.

O silêncio tomou a sala e o homem piscou algumas vezes, abrindo a boca para falar, mas gaguejando.

— Pietra... — Foi a única palavra que conseguiu dizer.

— Vai embora da minha casa. — Mandou e apontou para a saída. — Anda logo, você está surdo?! — Perguntou e caminhou até lá, escancarando a porta principal para que ele passasse.

Pablo olhou uma última vez para Vanessa e Eva, que ficaram em silêncio durante toda a discussão, e então andou até a porta, parando antes de sair e olhando para Pietra.

— Entendo que você esteja nervosa e espero que quando esfrie um pouco a cabeça, me procure para conversarmos. — Falou baixo.

— Espere deitado. — Retrucou. — Na casa do caralho, de preferência. — Completou e bateu a porta.

Os olhos, que já estavam cheios de lágrimas, se fecharam e uma delas rolou pelo rosto de Pietra, que encostou a testa na porta.

— Pi... — Sussurrou Vanessa, caminhando até a filha e tocando as costas dela com carinho. — Calma, por favor. — Pediu. — Eu concordo com o seu pai sobre você escutar o lado dele, até porque...

— Vanessa. — A mais velha das três se sentiu na obrigação de interromper a filha antes que ela dissesse alguma bobagem.

Pietra se virou devagar, encarando os olhos da mãe, ainda vermelhos, e perguntando-se se ela havia bebido. Olhou para a avó em seguida, que balançou devagar a cabeça em negação, porque não era hora das duas discutirem. Estando naquele estado, só machucariam ainda mais uma a outra.

— Eu volto mais tarde. — Murmurou Pi, virando as costas para as duas e saindo de casa batendo a porta.

Nunca agradeceu tanto por Neymar morar tão perto. Andando rápido pela pressa de ser abraçada e consolada pelo melhor amigo, o caminho que durava dois minutos foi completado em questão de segundos e logo Pietra estava chamando pelo jogador no portão, vendo Rafaella aparecer saltitante e caminhar até lá, abrindo para ela.

— Está chorando?! — Perguntou preocupada. — O que aconteceu, Pi?

— Cadê o Júnior?

— No quarto dele. — Respondeu Rafa, vendo a garota sair em disparada para dentro de sua casa. — Eita. — Murmurou com a testa franzida.

Pietra adentrou o cômodo que pertencia a Júnior de modo repentino e o jogador nem se assustou, já acostumado com aquelas chegadas dela. Fechou a porta atrás de si e antes que o amigo pudesse perguntar ou falar algo, se jogou sobre ele na cama, o agarrando com os braços e chorando como um bebê, com o rosto no peito dele, que tentou a acalmar com carinho e palavras de conforto.

...

Destinos Traçados ━━ Neymar Jr.Onde histórias criam vida. Descubra agora