Capítulo 17 - Reféns

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— Você vê, Anna? — Merlin me perguntou

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— Você vê, Anna? — Merlin me perguntou. De repente, eu estava de volta às Ilhas de Mel, com meus nove anos de idade. Merlin cheirava a mato, enquanto apontava para uma das muitas gaiolas em seu laboratório. Ele pegou o pequeno canário branco em suas mãos, estendendo-o na minha direção.

— Você devia deixá-los ir, Merlin. Eles estão tristes, todos eles... Um pássaro precisa voar. — Eu disse. Eu podia sentir a tristeza dos pequeninos pássaros me invadir. Merlin acariciou minha cabeça. Naquela época, Merlin era como um Sol pra mim.

— Você pode sentir a tristeza deles? — Ele questionou, com um quase sorriso. Seus olhos pareceram segurar lágrimas. — Pode sentir a minha? — Merlin quis saber, segurando o canário para que não fugisse. Toquei seu rosto, sobre a pele áspera que havia sido recentemente barbeada.

— Por que você está triste? — Eu perguntei, me sentindo triste também. Uma lágrima delineou sua face, rolando do olho brilhante e dourado.

— Porque assim como esses pássaros, eu também estou preso em uma gaiola, Anna. — Ele respondeu, coisas que eu não entendia.

— Você está? — Perguntei, sem compreender. Ele sacudiu a cabeça positivamente. Olhei em volta, pensando que talvez ele se referisse à torre, e puxei sua mão para fora de lá. Descemos a escada até o jardim, e Merlin se agachou para me encarar, ainda tendo o canário em suas mãos. Estendi as mãos pra ele, e ele suspirou antes de me entregar novamente o pássaro. Soltei o canário, que alçou voo no céu azul. Eu e Merlin assistimos enquanto a ave se afastava pra longe. Senti suas mãos em meus ombros, e ergui os olhos para ele. — Merlin... — Ele grunhiu em resposta, sem muito ânimo. — Você também é livre... Só não voe pra muito longe de mim. — Falei, segurando sua mão.

E a imagem da memória de nós dois, naquele dia, foi se esvaindo da minha mente, substituída por uma sensação: minha cabeça latejava, e meu corpo também. Era um estranho momento pra me lembrar de Merlin. Abri meus olhos aos poucos, e percebi que eu estava em uma cela. A luz do luar e da tochas que vinha do deque acima, invadindo as frestas de madeira, e o sacolejar lento do chão, me diziam que eu estava em um navio. Tentei ajeitar meu corpo, que doía, quando notei dois pares de olhos no escuro. O colar com a pedra da lua em meu peito brilhou, sem que eu fizesse muito, e os pares de olhos responderam ao brilho, fazendo com que seus corpos se acendessem por completo. Pude então ver as duas criaturas a quem os olhos pertenciam: dois homens com feições meio humanas, meio pássaro. Os dois se encararam, discutindo em um idioma que eu não conseguia compreender. Diante de meu olhar de confusão, um deles se pronunciou:

— É mesmo verdade! — Ele balbuciou, com um forte sotaque.

— Verdade? — Eu perguntei, alternando meu olhar entre eles.

— Sempre ouvimos as histórias sobre uma rainha... Sobre como poderíamos senti-la quando ela viesse. — Ele explicou. — Pensei que era fábula... Mas nunca esperei nada assim. Eu não sei quem você é... Mas eu apenas sei. — Ele falou, e fitou o colega, com um olhar emocionado, como quem tivesse acabado de descobrir uma mina de ouro ou algo do tipo. O brilho de seus corpos pouco a pouco se apagou, tal como meu colar.

O Martelo das Bruxas - Volume II: As Crônicas dos Guardiões do AlvorecerOnde histórias criam vida. Descubra agora