Capítulo 85 - Antes da tempestade

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"Você verá a queda do que tenta proteger

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"Você verá a queda do que tenta proteger... Só poderá culpar a si mesmo".

As palavras do dragão se repetiram como um eco da minha consciência. Pouco a pouco comecei a sentir meu corpo. O som repetitivo de água gotejando em pedra. A dor de cada músculo enrijecido pelo esforço ou pelo mau jeito. Minha própria respiração pesada e irregular.

Arfei antes de abrir os olhos e me sentei num ímpeto. Uma chama bruxuleava com sua luz amarelada, enchendo o lugar de sombras. Meus olhos vasculharam o que parecia ser uma tenda de tecidos, antes que caíssem sobre Anna, se erguendo de sua poltrona com olhos chorosos e se sentando ao meu lado na cama para me abraçar apertado. Não disse nada, mas não demorou a fungar e percebi que estava chorando.

Toquei seus cabelos, tentando acalmá-la, enquanto a memória do que acontecera voltava a mim. Esperei que ela se tranquilizasse antes de perguntar:

— O que houve? O dragão...?

Anna me fitou com o rosto molhado, secando-o com as palmas da mão. Molhou os lábios e engoliu o choro.

— Os soldados confirmaram... Está morto na colina.

— Que horas são agora? — Perguntei, ao perceber que não sabia ao certo se era dia ou noite.

— Já é dia... A chuva parou. Quando acordei, Leonel me disse que você perdeu a consciência também... Estamos no abrigo, mas o resto dos cidadãos já começou a voltar para a cidade. E os soldados fizeram um mutirão para ajudar a reparar os estragos. Ainda assim, houveram muitas vítimas.

Seus olhos fitaram o nada por um instante, melancólicos, e ela deu um suspiro cansado. Voltei a abraçá-la e sua voz saiu chorosa e abafada:

— A Serpente da Tempestade... Ela sempre te faz mal?

Era uma pergunta justa. Da última vez, eu tinha ficado inconsciente por dias.

— Não... Alguma coisa mudou. É como se agora ela estivesse me punindo... Ou tentando me dominar. Sinto que o espírito do dragão que vive nessa coisa está inquieto. Talvez mais problemas estejam por vir.

Anna engoliu um murmúrio triste quando ouviu o que eu disse. Se afastou devagar e me fitou. Acariciei seu rosto pálido.

— Você devia comer algo...

Concordei com a cabeça e ela se ergueu devagar, caminhando até uma mesa onde um pouco de comida estava disposta. Encheu um prato, e também uma xícara com alguma bebida, e os trouxe até mim. Não era uma comida muito elaborada, e eu não esperava que fosse. Eram pães e um mingau frio de grãos que devia ter sido preparado às pressas em meio a todo aquele caos.

— Desculpe... Pedirei que façam algo diferente no almoço. — Ela se explicou, mas mordi o pão meio duro com vontade e virei um gole generoso do chá quase frio.

Anna me assistiu com um sorriso miúdo no rosto.

— Estou pensando em ir até o templo. Quer me acompanhar?

O Martelo das Bruxas - Volume II: As Crônicas dos Guardiões do AlvorecerOnde histórias criam vida. Descubra agora