"Você verá a queda do que tenta proteger... Só poderá culpar a si mesmo".
As palavras do dragão se repetiram como um eco da minha consciência. Pouco a pouco comecei a sentir meu corpo. O som repetitivo de água gotejando em pedra. A dor de cada músculo enrijecido pelo esforço ou pelo mau jeito. Minha própria respiração pesada e irregular.
Arfei antes de abrir os olhos e me sentei num ímpeto. Uma chama bruxuleava com sua luz amarelada, enchendo o lugar de sombras. Meus olhos vasculharam o que parecia ser uma tenda de tecidos, antes que caíssem sobre Anna, se erguendo de sua poltrona com olhos chorosos e se sentando ao meu lado na cama para me abraçar apertado. Não disse nada, mas não demorou a fungar e percebi que estava chorando.
Toquei seus cabelos, tentando acalmá-la, enquanto a memória do que acontecera voltava a mim. Esperei que ela se tranquilizasse antes de perguntar:
— O que houve? O dragão...?
Anna me fitou com o rosto molhado, secando-o com as palmas da mão. Molhou os lábios e engoliu o choro.
— Os soldados confirmaram... Está morto na colina.
— Que horas são agora? — Perguntei, ao perceber que não sabia ao certo se era dia ou noite.
— Já é dia... A chuva parou. Quando acordei, Leonel me disse que você perdeu a consciência também... Estamos no abrigo, mas o resto dos cidadãos já começou a voltar para a cidade. E os soldados fizeram um mutirão para ajudar a reparar os estragos. Ainda assim, houveram muitas vítimas.
Seus olhos fitaram o nada por um instante, melancólicos, e ela deu um suspiro cansado. Voltei a abraçá-la e sua voz saiu chorosa e abafada:
— A Serpente da Tempestade... Ela sempre te faz mal?
Era uma pergunta justa. Da última vez, eu tinha ficado inconsciente por dias.
— Não... Alguma coisa mudou. É como se agora ela estivesse me punindo... Ou tentando me dominar. Sinto que o espírito do dragão que vive nessa coisa está inquieto. Talvez mais problemas estejam por vir.
Anna engoliu um murmúrio triste quando ouviu o que eu disse. Se afastou devagar e me fitou. Acariciei seu rosto pálido.
— Você devia comer algo...
Concordei com a cabeça e ela se ergueu devagar, caminhando até uma mesa onde um pouco de comida estava disposta. Encheu um prato, e também uma xícara com alguma bebida, e os trouxe até mim. Não era uma comida muito elaborada, e eu não esperava que fosse. Eram pães e um mingau frio de grãos que devia ter sido preparado às pressas em meio a todo aquele caos.
— Desculpe... Pedirei que façam algo diferente no almoço. — Ela se explicou, mas mordi o pão meio duro com vontade e virei um gole generoso do chá quase frio.
Anna me assistiu com um sorriso miúdo no rosto.
— Estou pensando em ir até o templo. Quer me acompanhar?
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O Martelo das Bruxas - Volume II: As Crônicas dos Guardiões do Alvorecer
FantastikNo Volume II desta trama, o grupo de aventureiros finalmente colide. Uma aventura com piratas toma lugar em alto-mar, enquanto, em terra, um conflito se desenvolve, e aumenta a tensão entre as nações vizinhas. Diante da infindável perseguição, esses...