Caminhei com Anna até um lugar chamado de A Casa do Chá, o mesmo restaurante a que o príncipe Priamos havia me levado, pois a discrição era a regra do lugar. Era um estabelecimento suntuoso, onde os clientes podiam beber chá em pequenos quartos separados.
No Oeste, e especialmente em Stoffel e Long Mu, havia uma grande cultura de comer sentado no chão, o que parecíamos ter herdado um pouco deles no Vale, quando nossos ancestrais Valeses peregrinaram pelo Oeste.
Os quartos de chá eram ornamentados de parede a parede, que eram compostas de madeira e um grosso tecido pintado.
A atendente nos guiou com um sorriso até um quarto, completamente vazio, não fosse pela mesinha de chá no chão de madeira, onde dois travesseiros repousavam. Anna olhou com curiosidade, e assistiu enquanto me sentei em um travesseiro, repetindo o gesto e se sentando de frente pra mim.
Fiz o pedido de chá e um bolo, e a atendente saiu após uma reverência, fechando a porta de correr atrás dela. Não demorou a voltar com o chá e disse que o bolo demoraria. Saiu, e fechou a porta atrás de si.
Anna analisou as pinturas no cômodo pequeno, curiosa.
— O que é este lugar? — Ela perguntou.
— É uma casa de chá. Muitas pessoas importantes usam para reuniões, encontros políticos, e afins, visto que é um lugar discreto. — Eu expliquei. — Aqui é mais seguro para comermos.
Anna desceu o lenço que cobria sua cabeça e escondia um pouco do seu rosto, e suspirou, fitando a mesinha de madeira. Dado seu silêncio, decidi perguntar:
— O que faz aqui em Stoffel, Anna? — Ela ergueu os olhos para mim. Tornou a suspirar, parecendo deprimida.
— Meu navio afundou, e quase morri. E depois me meti com o pirata Água Negra, e quase morri... Encontrei a capitã Teresa Ossos, e ela tinha o meu cartaz de procurada. Eu quase morri de novo... Mas fui salva por Gunnar e os piratas de Água Negra... Me separei do capitão em Long Mu, fui atacada por lá, fugi, e vim parar aqui. — Ela contou.
Diante de sua narrativa, ela parecia mais séria do que a despreocupada Anna de Zalim.
— Streymoy e Petris ainda estão com você? — Eu quis saber. Ela fez que sim com a cabeça. Me lembrei daquele dia no Laranja do Mar, e do homem de olhos dourados que me afrontou. — E quanto ao mago?
— Me perdi dele... Mas hoje ele reapareceu... Está doente. Por isso vim buscar ervas. — Ela explicou. — E você? Está aqui caçando a tal bruxa?
— Não. Estou resolvendo assuntos políticos. — Eu disse. Ela franziu as sobrancelhas.
— Assuntos políticos? — Murmurou. — Então está representando o Vale? — Perguntou. Mordiscou os lábios com uma expressão inquieta. — Isso teria algo a ver com a minha fuga? — Deduziu, o que eu já achava de grande astúcia da parte dela.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Martelo das Bruxas - Volume II: As Crônicas dos Guardiões do Alvorecer
FantasiaNo Volume II desta trama, o grupo de aventureiros finalmente colide. Uma aventura com piratas toma lugar em alto-mar, enquanto, em terra, um conflito se desenvolve, e aumenta a tensão entre as nações vizinhas. Diante da infindável perseguição, esses...