Capítulo 11 - A terra onde tudo cresce

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Pisar em um barco cujo destino final era a morte

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Pisar em um barco cujo destino final era a morte... Era algo que estranhamente me animava mais do que intimidava. Crescendo no Norte, de campanha em campanha, nós baldianos nunca tínhamos contemplado muito do que havia no distante mar, apesar de eu me lembrar com clareza as vezes em que Hednir se sentara na frente da fogueira, contando histórias, ou dizendo sobre como ele e Borr sonhavam desde jovens em explorar o mundo lá fora, em encontrar terras que produziam o ano inteiro, diferente das terras geladas do Norte, em que boa parte do ano era simplesmente frio demais para se crescer algo. Hednir adorava a terra. Antes de ser um guerreiro, ele era um honesto fazendeiro. Então quando não estávamos em campanha, cuidávamos dos animais e da nossa pequena plantação. Sempre que ele nos contava essas histórias sobre como navegaríamos pelo mar, e conquistaríamos o mundo, minha mãe disfarçava e mudava de assunto. Ela nunca compartilhou do mesmo entusiasmo, talvez porque guardasse a mágoa de ser de um povo dominado pelas forças de Borr. Após conhecer o mundo do qual ele tanto me falava, e especialmente o Leste, passei a me perguntar se Borr realmente teria alguma chance, que fosse, de dominar outro território, em que as pessoas não usavam foices e garfos para se defender, mas magia e espadas treinadas. A grande prova de que não éramos invencíveis era o Fantasma ruivo à minha frente, e a forma como ele matara quase duzentos homens totalmente sozinho.

Limpei meu suor enquanto caminhávamos pela floresta, e senti o olhar do ruivo sobre mim. Ele notou que eu o fitava. Apertei o cabo do meu martelo de guerra. Era bom poder estar com ele de novo. Eu sentia uma força que emanava dele, desde o dia em que Issachar e Bisonte me ajudaram a entender a magia, naquele planalto. Havia muito que eu não entendia ainda, ou não conseguia explicar, mas coisas se movimentavam dentro de mim, e o martelo ampliava essa sensação. Enquanto caminhávamos pela floresta, eu sentia cada passo, cada respiração, cada mover de galho. Era como se em determinados momentos eu estivesse de volta naquele planalto, dopado do estranho chá da bruxa.

A garra de lobo em meu pescoço fez minha pele formigar por um instante, e me vi tocando-a. Meu olhar caiu sobre Anna, e notei que um pirata caolho a encarava, lambendo os beiços. Fechei minha tez e o encarei de volta, e ele se encolheu, cabisbaixo. Anna era estranha. Eu não sei porque, mas eu conseguia diferenciar a energia que emanava dela de qualquer outra que jamais sentira, após entender um pouco mais sobre a magia. Eu também senti sua energia enquanto eu me afogava no mar, me envolvendo como um abraço. Era algo quente e aconchegante, mas, ao mesmo tempo, tão feroz quanto uma assustadora besta. Aquela garota miúda e singelamente bela me fazia tremer os ossos toda vez que eu pensava no sentimento que sua magia me causava. E eu me via me perguntando se Bisonte e Issachar não podiam sentir também... Se eles sabiam que ela era algo além do que uma simples garota que brilha.

— Ali está... — Água Negra anunciou, parando o passo, e dando visão a uma longa campina. Era tudo muito verde. Exatamente o tipo de lugar em que tudo que se planta, colhe, tal qual Hednir queria ver. Ao longe, havia uma enorme cadeia montanhosa, que parecia estar a milhas de distância de nós.

O Martelo das Bruxas - Volume II: As Crônicas dos Guardiões do AlvorecerOnde histórias criam vida. Descubra agora