Capítulo 55 - A heroína

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Ah, eu havia me esquecido disso

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Ah, eu havia me esquecido disso... Como foi que eu me esqueci?

Eu tinha quinze anos de idade. Talvez dezesseis. Naquela época eu estava curiosa sobre muitas coisas.

Eu lia esse livro em segredo, um que eu havia conseguido escondida no Porto, porque Mãe Pietá odiava romances. Eu os devorava por horas sem fim, esquecendo até mesmo de comer. E havia esse que era meu favorito... Ele continha a transcrição de todas as operetas e contos do Ratel de Zalim segundo Remy Torben.

Eu sempre imaginava como o Ratel de Zalim deveria ser. Minha imaginação divergia muito, mas eu sempre o pintava como alguém de cabelos negros e olhos dourados, como os de Merlin. Mas atlético e galante como os cavaleiros da cidade.

As meninas nobres aproveitavam a hora do chá para fofocar, e diziam coisas sobre as que já haviam se casado. Coisas sobre como era a noite delas com o marido ou sobre como era beijar os lábios de um rapaz.

Eu evitava opinar para que elas não espalhassem rumores sobre mim, mas em casa quando eu lia algum romance, sempre imaginava que eu era a garota no livro e que eu vivia uma grande história de amor com direito a tudo aquilo. Meu coração até acelerava.

Mas Mãe Pietá não queria que eu tivesse esse tipo de pensamento. Ela dizia que romance era uma bobagem e que todos os homens eram mentirosos e egoístas.

Quando me pegou lendo o livro do Ratel, ela o tomou de mim rispidamente, como se eu estivesse fazendo algo muito errado.

— Se tem tempo para ler essas coisas, deveria estar estudando. — Mãe Pietá foi logo dizendo.

— Eu vou estudar! Eu prometo! Mas me devolva... Eu lerei antes de dormir. — Eu tentei negociar, mas ela se indignou e rasgou o livro na minha frente. Eu quis impedi-la, mas ela me empurrou e eu comecei a chorar.

— Por que fez isso, Mãe Pietá? — Eu perguntei, entre lágrimas.

— Eu fiz isso por você. Você precisa parar de encher a cabeça com essas bobagens. Romance e aventureiros... Tudo isso não é pra uma pessoa como você. Você será uma rainha. Se ficar esperando por algo ridículo assim se tornará uma presa fácil para os tigres. — Ela disse.

— Por que você é assim? Você é uma bruxa! — Eu bradei, tentando reunir as páginas rasgadas no chão, mas ela puxou meu braço com força e me ergueu, me sacolejando até que eu prestasse atenção nela.

— Um dia você vai me agradecer. Sua mãe morreu justamente por acreditar nessas bobagens de romance. — Mãe Pietá falou. — Eu estou tentando te preparar para que seja uma rainha. Uma rainha não deve ficar parada esperando por um herói. Você deve ser o herói.

— Eu não quero ser rainha! Eu odeio ser filha dos meus pais. Eles morreram e me deixaram com você e agora eu tenho que fazer algo que não quero. Eu odeio todos vocês! — Bradei. Mãe Pietá soltou meu braço e me esbofeteou. Aquela foi a primeira e única vez que ela o fez.

O Martelo das Bruxas - Volume II: As Crônicas dos Guardiões do AlvorecerOnde histórias criam vida. Descubra agora