Capítulo 44 - O Martelo das Bruxas

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A noite caía cada vez mais silenciosa e escura

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A noite caía cada vez mais silenciosa e escura. O céu nublado escondia as estrelas e o brilho da lua, e não me permitiam ver muito bem as runas desenhadas no meu martelo. Mas eu podia senti-las com os calos dos meus dedos, quase como se elas fossem parte de mim.

O vento cortou a varanda na qual eu me sentava, e senti meu pescoço se arrepiar quando o vento gemeu ao se espremer pelas frestas, num som aterrador. Eu podia ouvi-la novamente. A ninfa do vento chamando meu nome como uma aparição na noite, me convidando para brincar.

— Agora não... — Me vi murmurando em voz alta pela primeira vez desde que a sensação me seguia.

Suspirei ao perceber isso e temi estar ficando louco. Havia já muito tempo que o mundo deixara de ser simples e cada vez mais maluquices se desdobravam diante de mim.

Me lembrei de repente do dia em que Água Negra se transformou em um dragão e me vi sorrindo sozinho, pois parecia ter sido há séculos atrás; na mesma noite em que descobrimos que mais armas como o Rompe-Muralhas poderiam estar nas mãos de Borr.

— Noite assombrosa essa. — Ouvi a voz de Myra dizer enquanto ela se sentava ao meu lado carregando uma lamparina consigo.

Um gato pequeno e branquelo com marcas avermelhadas em volta da orelha e dos olhos veio em seu encalço e se sentou em seu colo, se aninhando. O rosto da menina estava sério e seus olhos se afundavam na face empalidecida e cansada.

— Parece mais uma daquelas noites difíceis que temos tido desde Zalim. — Eu respondi.

Myra sorriu pequeno. Era fácil ver como a mulher estava cada dia menos menina. Mesmo seu habitual temperamento tinha diminuído.

— Não conseguimos mesmo proteger Anna, não é? — Ela perguntou.

Notei o arco e a aljava às suas costas. O arco possuía as mesmas runas que o meu martelo, com inúmeros detalhes em ouro, suficientes para que ela pudesse vendê-lo e comprar uma casa no Leste.

— Sua rainha tem inimigos demais. Quando se tem inimigos demais, você precisa fazer com que eles tenham medo de você. Mas no momento, nós é que temos medo deles. — Eu disse e acabei suspirando pesado. — E esse gato?

— Tem me seguido por aí. — Ela murmurou. — Acha que Anna vai ficar bem?

— Não sei, Myra... Não sei. Eu espero que sim, para que eu possa deixá-la no Leste em segurança e partir. — Respondi.

— Vai pra onde?

— Pro Norte. Mimir disse que há uma resistência... Vou ver o que eles tem e tentar ajudá-los.

— Eu espero que você salve o seu país.

— E eu espero que você salve o seu. — Disse. Ela sorriu pequeno.

Notei o floco de neve pousando no cabelo da mulher e ergui meu olhar para o céu. A neve começava a cair com mais força como uma chuva que veio sem aviso.

O Martelo das Bruxas - Volume II: As Crônicas dos Guardiões do AlvorecerOnde histórias criam vida. Descubra agora