Capítulo 64 - Julgamento

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Foi difícil dormir naquela noite

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Foi difícil dormir naquela noite. Acho que eu realmente odiava castelos... Issachar riria de mim, mas tenho certeza de que também me faria companhia caso eu pedisse. Fazia poucos dias desde que o vi, mas já sentia sua falta terrivelmente.

O quarto escuro e até úmido no quarteirão velho não era exatamente minha escolha de acomodação, mas Leonel me deixara lá porque era um dos poucos lugares onde ninguém realmente ia.

Meus olhos ardiam encarando o escuro e a luz brilhante da lua que entrava pelas frestas da madeira que cobria a janela. Me encolhi no casaco de Leonel. Ele já havia partido, mas não queria que eu passasse frio.

Ouvi um barulho e me sobressaltei, sentindo um arrepio chegar até meus ossos. Amiudei meus olhos e então avistei um par de olhos no escuro. Um medo me invadiu e senti minha respiração falhar... Eu sabia bem que eram os olhos de algum animal predador. O que ele estaria fazendo ali dentro do quarteirão era minha maior dúvida.

Os olhos se aproximaram e eu me espremi contra a parede sem ter para onde correr. Fechei meus olhos desejando que na verdade eu estivesse tendo um pesadelo, quando senti uma lufada de ar tocar meu rosto. Abri meus olhos devagar e consegui ver melhor o lobo negro diante de mim... O mesmo que havia me ajudado na noite em que fugi de Antar.

— Raul? — Eu perguntei, buscando seu nome na minha memória.

O lobo se sentou na minha frente e suas expressões até vívidas demonstravam um certo aborrecimento antes que ele bufasse e começasse a se transformar.

O processo agoniante de pelos sumindo e ossos se mexendo me revirou um pouco o estômago e voltei a fechar os olhos.

A voz do homem tocou meus ouvidos como uma sinfonia:

— Por que voltou? Quer morrer? — Ele perguntou.

Abri meus olhos devagar, mas um grito ficou entalado na minha garganta quando notei que estava nu. Lancei-lhe o casaco de Leonel.

— Cubra-se, pelo amor do Pardal! — Eu disse do jeito mais antariano possível.

Apesar de sua pose relaxada, o homem cobriu sua virilha com o casaco e continuou parado, me encarando com a tez franzida.

— E então? — Ele voltou a perguntar.

Volvi meu olhar para ele devagar. Da última vez eu não tinha conseguido ver bem sua aparência humana, pois estava focada em não lhe olhar a nudez. Mas agora eu podia ver bem os belos cabelos negros que caíam como uma cascata de um lado de sua cabeça, enquanto o outro lado era raspado e tinha um longo desenho que descia pelo braço forte e torneado.

Tentei ignorar seu tórax desnudo e foquei-me em seu rosto anguloso e seus olhos dourados como os de Merlin eram, exceto talvez que os de Raul realmente pareciam os de um animal.

Minha falta de resposta fez o homem rosnar e pude ver os caninos grandes em meio a dentes belos e brancos. Respirei fundo colocando meu pensamentos no lugar.

O Martelo das Bruxas - Volume II: As Crônicas dos Guardiões do AlvorecerOnde histórias criam vida. Descubra agora