Acho que já estava acostumada com viagens, pois minha ida até o Vale tinha sido muito mais tranquila do que a primeira vez em que deixei Antar.
Uma das melhores partes tinha sido poder rever Briona e as Saikhans, e acabei passando um bom tempo na Paishin já que Anna estava ocupada preparando os últimos detalhes do casamento e as meninas da Paishin estavam bebendo como nunca, chateadas por não ser nenhuma delas a nova esposa do lorde.
Na noite do casório subi para a Cidade Alta para ver se Anna precisava de ajuda com algo, mas quando cheguei ela estava praticamente pronta, andando de um lado pro outro em um lindíssimo vestido vermelho, enquanto repetia em voz alta palavras valesas escritas em um pergaminho. Quando me viu adentrar, parou o passo e sorriu pequeno, se explicando:
— Os valeses complicam demais casamentos, Myra. Isso que queriam que fosse mais de uma dia de festividade. Tive que negociar, pois não temos tempo... E nem sequer entendo bem essas palavras de votos que tenho que dizer. — Anna parecia completamente cansada e até um pouco aborrecida. — Se eu soubesse que Issachar vivia a vida como Valês, nunca teria me apaixonado. Nós antarianos somos muito mais práticos.
Eu acabei sorrindo com a forma irritada como ela falou aquilo. Ainda assim, ela estava tão linda em seu vestido valês que mais parecia uma deusa.
— Tenho certeza de que mestre Issachar irá amar te ver... Você está linda.
Ela mordeu os lábios como se engolisse um pouco da sua irritação.
— Eu quero poder apreciar este momento, mas tudo está errado...
Ela não havia me dito nada sobre a forma como havia sido atacada em Antar, mas agora eu podia ver bem que aquilo lhe incomodava e muito. Anna soltou um longo suspiro.
— Eu ainda tenho pesadelos, Myra... Sobre a espada atravessando meu lado. Eu tenho medo até da minha sombra. — Ela contou e respirou fundo, como se tentasse afastar a tristeza.
— Mas não está feliz que vai se casar?
— Estou... Mas há tantas outras emoções no meu coração neste momento, que a felicidade parece estar sufocando.
Seus olhos tristes encararam o vazio por um instante, mas ela voltou a suspirar e sua feição mudou quando encarou o pergaminho em suas mãos e voltou a tentar decorar as palavras valesas.
Eu não sabia bem o que lhe dizer porque a verdade era que eu também estava preocupada com ela e com tudo que viria a acontecer uma vez que marchássemos para Antar. Eu ainda precisava mandar notícias para Ventosa e para o Ruivo sobre o que estava acontecendo.
— Quando iremos para a capital?
Ela parou por um instante e me fitou.
— Amanhã. Mas você não deve ir... Deve voltar para Ventosa e informar Água Negra e Rorik sobre o que está acontecendo. Peça a Rorik para continuar o treinamento dos novos recrutas e não se preocupar com a capital por enquanto, e diga a Água Negra que o espero na capital.
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O Martelo das Bruxas - Volume II: As Crônicas dos Guardiões do Alvorecer
FantasiNo Volume II desta trama, o grupo de aventureiros finalmente colide. Uma aventura com piratas toma lugar em alto-mar, enquanto, em terra, um conflito se desenvolve, e aumenta a tensão entre as nações vizinhas. Diante da infindável perseguição, esses...