Capítulo 68 - O bom neto à casa torna

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Quando abri meus olhos naquela manhã e Anna não estava mais lá, tudo pareceu estranhamente vazio

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Quando abri meus olhos naquela manhã e Anna não estava mais lá, tudo pareceu estranhamente vazio. Ou talvez fosse apenas meu humor que estivesse cinza e abatido. Minhas lamentações não melhoraram quando Bisonte foi quem me acordou e me chamou para conversar.

Os olhos do grandalhão estavam perdidos, contemplando as ondas ao longe como se elas carregassem memórias consigo. A brisa fria atingiu a sacada do quarto e me fez querer voltar pra dentro, mas não me movi, pois a solenidade de Bisonte me dizia que a mensagem era importante.

— Então... Anna já partiu. — Ele murmurou após limpar a garganta, o que se transformou num forte pigarreio.

— Eu sei.

Bisonte grunhiu o quão baixo conseguia, e o fato de estar amuado me deixou curioso.

— O que houve? — Eu quis saber.

Seus olhos e sua boca entreaberta pareceram procurar palavras no ar, que sua respiração pesada deixara escapar.

— Eu... Estou indo também. — O negro disse, e após um longo momento de hesitação finalmente olhou pra mim. Estendi-lhe a mão.

— Boa viagem. — Lhe disse, mas seus olhos arregalados pareceram julgar minha mão estendida. Bisonte pausou, como se pensasse em algo com cuidado, o que foi contradito por um explosivo abraço.

Tentei soltar-me, mas o negro era de fato tão forte que poderia me sufocar caso quisesse. Às vezes ele simplesmente se esquecia da própria força. Empurrei com grande esforço meu caminho para fora do seu abraço apenas para assistir os olhos dele marejados.

— Está chorando? — Eu me vi perguntando sem controlar muito bem minha expressão de zombaria. Era de fato inusitado ver um homem tão grande reagindo assim.

Bisonte fungou, tentando reganhar sua compostura com uma lufada de ar fresco.

— Claro que não. O ar é que está muito gelado... Deixa os olhos secos. — Bisonte mentiu. Segurei um sorriso ao ouvir uma desculpa tão inteligente lançada de última hora.

Um silêncio entre nós não tardou a trazer de volta a solenidade do momento. Respirei fundo também. O ar gelado realmente fazia arder os olhos.

— Eu espero que encontre a felicidade que está procurando em Elópia... Mas caso não encontre, sabes que sempre poderá voltar para casa. — Eu disse e bati em seu ombro antes de voltar para dentro do quarto e fugir do frio, mas as palavras de Bisonte me fizeram parar meu passo.

— A primeira vez que te conheci você me irritou como pôde. Acho que todos podem dizer isso de você: Anna, Streymoy, Alice, eu, Petris... Você tem a mania de ser bastante enxerido e atormentar os outros com suas pontuações arrogantes.

Me virei para fitá-lo e estava pronto para retrucar, mas o negro prosseguiu:

— Mas eu percebi que se você se incomoda em gastar palavras com alguém é porque você já se importa com aquela pessoa... Talvez por isso todos nós venhamos a amá-lo no fim das contas.

O Martelo das Bruxas - Volume II: As Crônicas dos Guardiões do AlvorecerOnde histórias criam vida. Descubra agora