Capítulo 4 - Desajustados

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         Depois que deixamos o Norte, achei que finalmente as coisas dariam certo, mas acabamos presos com piratas

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         Depois que deixamos o Norte, achei que finalmente as coisas dariam certo, mas acabamos presos com piratas. O fato de Rorik se adaptar tão bem, me fazia questionar a mim mesma quanto ao porquê dele sempre se encaixar nos lugares e eu não.

         Eu queria sair dali. Eu queria uma vida tranquila no Leste como eu vinha imaginando por anos sem fim, desde que Issachar Felkor me dissera as palavras que eu nunca esqueci.

         Deitada na minha rede, no navio de Água Negra, eu podia até mesmo ver, ao fechar meus olhos, a memória delineando-se diante de mim. De quando o bardo, e Issachar Felkor, e o sulista, a assassina, e a Escarlate estiveram conosco no Norte.

         Reginaldo Benjav, o bardo, tocou canções noite adentro sem nem sequer cantalorar uma palavra. Parecia envolto em grande tristeza.

         E quando a noite já caía, o peguei cambaleando bêbado de volta para sua tenda. O ajudei a caminhar de volta, e ele me fitou com um sorriso engraçado na cara magricela, que só servia para acentuar seu nariz delgado e protuberante.

         — Você não é a garota que dizem ser amaldiçoada? — Ele perguntou.

         O soltei, e ele caiu no chão, mas não demorou a se erguer, soltando um soluço.

         — Gostei de você. — Ele disse. — Talvez eu te faça uma música.

         — Por quê? — Eu perguntei. Ninguém nunca se oferecera para escrever canções sobre mim.

         — Porque eu gosto de desajustados. — Ele disse. — Se não percebeu, nosso grupo está cheio deles...

         — O que seu grupo está fazendo, viajando com um mahin lestino? — Eu quis saber, pois pouco conhecia sobre os nossos irmãos de outro continente, além do fato de que um dia partiram do Norte, e se tornaram nômades no mar.

         — Issachar? — Benjav perguntou.

         Tornou a soluçar, e franziu o rosto como se um gosto ruim lhe viesse à boca.

         — Ele é um ímã de malucos. Talvez porque ele mesmo seja meio... — Ele gesticulou, dando a entender que o homem era louco. — Se você chega muito perto, começa a perceber que o que parece coragem, é na verdade puro desprezo com a própria vida. É triste... Mas é por isso que gosto dele... Com ele, eu poderia escrever uma canção por dia.

         — Você se inspira em malucos para escrever músicas? — Eu perguntei, considerando o bardo um tanto exótico.

         — Não estava ouvindo? — Ele retrucou, gesticulando demais. — Eu escrevo sobre o que gosto. Gostei de você... Se eu tivesse seu poder, eu faria algo muito especial... — Ele divagou, fitando o nada e sorrindo, como se pudesse ver.

O Martelo das Bruxas - Volume II: As Crônicas dos Guardiões do AlvorecerOnde histórias criam vida. Descubra agora