Capítulo 19 - Uma vida de pirata

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Quando adentramos o navio de Água Negra, e a tripulação correu para içar as velas à procura da embarcação de Ossos, eu aproveitei o momento para respirar

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Quando adentramos o navio de Água Negra, e a tripulação correu para içar as velas à procura da embarcação de Ossos, eu aproveitei o momento para respirar. Encostado no parapeito do nosso navio, fitei o horizonte mais uma vez.

O mar voltava a parecer um lar pra mim, de forma que eu não mais estranhava estar nele. Soltei um longo suspiro, e notei que o céu começava a ficar um pouco mais claro. Não tardaria mais que uma hora para que um novo dia tornasse a nascer.

Cabeça de Porco se aproximou de mim, e bateu no meu ombro. A cara suja e o cabelo embaraçado não diminuíam a simpatia do homem parrudo. Ele e Brunnard eram decerto muito parecidos.

— E quem é essa mulher que vamos resgatar? — Cabeça de Porco questionou. — Tu se ofereceu tão rápido pra ajudar. É alguém que tem teu coração?

— Não, nada assim.

— Ela é feia? — Ele perguntou com seriedade, como se minha imediata dispensa quanto a gostar de Anna só pudesse significar isso. Acabei rindo.

— Também não. Bonita demais. — Eu confessei. — Mas o Ratel de Zalim já tem o coração dessa aí.

— Melhor não fazer dele um inimigo, hm? — Cabeça de Porco murmurou, como se entendesse também que não deveria ir atrás de Anna.

Fungou, fitando a noite cinzenta, e insistiu:

— Mas bonita demais... Quão bonita?

— Bonita... Igual uma sereia. — Eu falei, rindo de sua curiosidade.

— E o Ratel de Zalim é muito boa pinta ou eu teria chance com ela? — Ele questionou.

— O cara é bem apessoado, Cabeça de Porco.

— Merda... — Ele murmurou, frustrado.

— Você é igualzinho a Brunnard, sabia? — Eu comentei, me lembrando imediatamente de seu irmão cabeça-oca. Cabeça de Porco sorriu.

— Tu não pensa em amarrar o burro não, Ândalo? Arrumar uma garota, ter uns pivetes, ter uma casa? — O pirata perguntou, com um tom quase sonhador. — Eu amo o mar, e vou sentir falta. Mas acho que chega a hora que um homem tem de sossegar.

— De onde veio isso, Cabeça de Porco? Da última vez que te vi você não estava assim. — Eu murmurei, zombando do homem, mas ele só fez franzir as sobrancelhas.

— Aquele dia que deixei tu em Zalim, quando voltava pro porto, eu encontrei um amor de muito tempo atrás. O nome dela é Colette, aye? Ela me reconheceu na hora, e ficou conversando comigo no porto... O marido dela morreu, e ela cuidava dos filhos sozinha em Zalim, por isso teve que vender suas atenções para marujos que atracavam lá. Mas ela disse que nunca esqueceu de mim, aye! — Cabeça de Porco confessou.

— É por isso que você quer voltar pra Zalim? — Eu perguntei.

— Tu deve de ter visto, mas a vida de uma viúva em Zalim é muito difícil, camarada. E eu minto se digo que um dia esqueci daquela mulher. Com o ouro, eu vou cuidar dela igual uma rainha, e dos moleques dela, e vou viver uma vida direita. — Cabeça de Porco falou, e me senti estranhamente tocado pelo que ele dissera, pois me lembrei imediatamente de minha mãe e de Hednir.

O Martelo das Bruxas - Volume II: As Crônicas dos Guardiões do AlvorecerOnde histórias criam vida. Descubra agora