Meu nome é Myra. Myra Petris. Um dia eu era apenas a filha de um fazendeiro, e agora eu era uma cavaleira, deitada numa rede em um navio pirata em alto-mar.
Eu nunca havia me imaginado viajando pelo mar. Em todos os futuros possíveis que tinha pensado para mim, a maioria envolvia estar em terra-firme realizando grandes feitos de heroísmo. E talvez fosse porque era minha primeira vez no mar, mas eu percebi que odiava navios.
Deitada na minha rede, no escuro da noite, haviam coisas que se destacavam. Primeiro de tudo, a madeira estava sempre rangendo. Era úmido. O navio sacolejava todo o tempo. E, bom, ainda tinha o fato de que todos achavam que eu era um homem, porque, aparentemente, homens no mar não conseguem controlar seus impulsos diante de uma mulher, o que fazia dali um lugar perigoso para mim.
Então, venho alimentando a mentira de que eu sou na verdade Ablon Petris. Eu me pergunto o que meus pais diriam se soubessem que sua garotinha foi substituída por um homem pirata.
Ah, e tem também o barulho. Eu trabalhava horrores ajudando a preparar refeições e a limpar o navio, e quando conseguia meu descanso tão devido, podia ouvi-los badernando lá do convés logo acima de mim.
Então lá estava eu, encarando o teto no escuro da noite, enquanto escutava as risadas e as cantorias. E de vez em quando, ouvia alguém ir lá gritar para que os festeiros falassem baixo, em nome dos que estão descansando.
Em outras ocasiões eu aproveitaria por demais a oportunidade de festejar, mas não cria ser bom ficar amiga daqueles piratas, já que praticamente nos sequestraram.
Desde que estávamos por lá, não havia mais visto Anna. Ela estava sempre trancada na cabine da mulher de cabelos vermelhos, a quem chamam de Escarlate. E Gunnar estava trabalhando tanto quanto eu. Eu podia até ouvi-lo roncar da rede dele.
Não sei o que me deu, acabei me erguendo, ao invés de dormir, e me arrastei até o convés. Parte de mim pensava em ser a próxima a gritar para que ficassem quietos. Mas quando os vi em volta da lamparina, bebendo, rindo, e jogando cartas, me senti transportada de volta para a velha taverna de Ventosa, meu lindo condado. E quando percebi, já estava me aproximando para assistir o fim de um jogo.
O ruivo, que tanto me enchera o saco sobre eu me fingir de homem, virou uma carta com um desenho de flor, fazendo a combinação que vencia as cartas do pirata sentado à minha frente.
O ruivo bateu a carta na mesa com um sorriso de orelha a orelha, que pareceu contagiar a roda de homens a minha volta. O grupo caiu na gargalhada porque o companheiro havia perdido para o ruivo. Um ainda bradou:
— Não se preocupe, Janela. Eu aposto que esse Ruivo rouba.
E o pirata, a quem nomearam Janela, se ergueu, com um sorriso de canto. Não havia amargor. Talvez porque eram proibidos de apostar dinheiro, então não perdiam muito.
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O Martelo das Bruxas - Volume II: As Crônicas dos Guardiões do Alvorecer
FantasiNo Volume II desta trama, o grupo de aventureiros finalmente colide. Uma aventura com piratas toma lugar em alto-mar, enquanto, em terra, um conflito se desenvolve, e aumenta a tensão entre as nações vizinhas. Diante da infindável perseguição, esses...