Após minha empreitada entre a tripulação de Jolly John, eu havia me habituado a ideia de estar em um navio, e trabalhar como pirata era uma função a qual eu desempenhava com tranquilidade, não fosse pelo navio pertencer a Água Negra, e por agora eu ter sob meus cuidados Anna e Myra Petris.
Eu havia feito um acordo de cuidar de Anna, mas a verdade era que tudo ia para muito além do meu interesse em receber algo de Issachar ou dos lobos. Pois eu ainda me lembrava... Como se fosse ontem!... Quando o vi caminhar na praça de Zalim, ornamentado por raios, sob o olhar temeroso das pessoas.
E uma parte de mim se perguntava o quão poderoso Issachar realmente viria a ser caso lutasse com toda a sua vontade. Estranhamente, conhecer àquele homem havia despertado uma grande ambição em mim... De não apenas matar a Borr, mas de salvar o Norte que eu tanto ajudei a ferir.
Desde o dia em que eu tivera minhas visões no planalto, eu me vi tomado por uma sensação estranha, crescendo em meu peito. Vez ou outra, eu acordava no meio da noite, ouvindo sussurros, sentindo arrepios, como se houvesse algo rastejando dentro da minha pele, me incomodando, me arranhando, me chamando.
E nesses momentos era como se eu pudesse ver Bisonte novamente, me dizendo sobre como a magia tinha voz... E eu me perguntava se seria a magia a sussurrar dentro de mim, pronta para sair.
O que eu sabia com certeza era que eu devia um favor à Issachar Warwyck, porque apesar de eu sentir tamanho incômodo, eu também sentia como se a coisa que agora crescia dentro de mim começasse a despertar algo, algo pelo qual eu parecia ansiar, apesar de não saber especificamente o quê.
Em retorno, eu protegeria Anna, ao menos enquanto eu ainda conseguisse proteger minha identidade. Eu havia enganado a Escarlate. Eu havia roubado a Água Negra. E se ele soubesse, com certeza eu não demoraria a morrer.
Ainda assim, Escarlate não havia dito muito, além de me avisar que eu deveria me manter calado. E apesar dela não ter me denunciado, eu podia sentir o olhar do Caçador Branco me vigiando, em cada tarefa diária que eu me propunha a fazer.
Anna estava sempre enclausurada na cabine de Escarlate, e Myra estava trabalhando na cozinha, se passando por homem. Eu não via saída para nós... Pois apesar de ainda estarmos vivos, era certamente questão de tempo até que a situação viesse a piorar.
Em uma semana de viagem, procurei manter-me diligentemente no meu trabalho. Naquele dia, após limpar boa parte de um dos deques, me pediram para mover alguns barris para o deque dos canhões. Eu ficava encarregado de muitos trabalhos braçais, talvez por causa do meu porte.
Quando depositei o barril no chão, senti o olhar sobre mim novamente. Virei o rosto, apressado, e tateei meu cinto, pois sempre me esquecia de que haviam me tirado minhas armas. E lá, me fitando, estava um Caçador Branco, mas não era o homem a quem eu sempre via.
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O Martelo das Bruxas - Volume II: As Crônicas dos Guardiões do Alvorecer
FantasiNo Volume II desta trama, o grupo de aventureiros finalmente colide. Uma aventura com piratas toma lugar em alto-mar, enquanto, em terra, um conflito se desenvolve, e aumenta a tensão entre as nações vizinhas. Diante da infindável perseguição, esses...