O som do tambor de guerra de Hednir soou. Ele tocou antes de guardar em um canto. Organizávamos a casa e nesse sentido o general era a minha mãe. O clima, porém, não queria ajudar. O vento cortou a janela invadindo a casa e enchendo o chão de folhas secas.
Minha mãe tremeu e por algum motivo abaixou a cabeça e começou a chorar silenciosamente. Eu só pude perceber porque seus ombros sacolejavam, trêmulos.
— O que foi, Hilde? — Hednir perguntou, se aproximando dela com carinho.
Me lembro de ficar admirado com como Hednir era gentil com a minha mãe. Ela depositou a cabeça no peito dele e continuou chorando sem dizer uma palavra. E quando ela ergueu o rosto vermelho e os olhos inchados na minha direção, me vi perguntando:
— O que foi, mãe?
Ela se ajoelhou e fez sinal para que eu me aproximasse dela. Acariciou meu rosto e sorriu pequeno.
— Eu me lembrei de algo triste, meu filho. — Ela explicou e fungou. — Na vida nem tudo o que acontece são coisas boas. Mas o que importa é que mesmo diante das coisas ruins você continue seguindo em frente. É que às vezes, no silêncio, é que temos tempo de realmente sentir.
Eu olhei pra ela um tanto confuso, mas ela prosseguiu:
— Apenas não se esqueça, Gunnar. Não importa o que aconteça na vida, nunca vire as costas pro lugar de onde veio.
— Pra Sérpia? — Eu perguntei, ainda mais confuso. Ela riu.
— Não. Pra tudo que nós te ensinamos e pra pessoa que queremos que um dia seja. Pra este lugar bem aqui dentro do meu abraço. — Ela disse, me abraçando.
E naquela época eu não fazia ideia do que ela estava dizendo ou do que havia deixado a minha mãe tão triste. De quais eram as coisas ruins que se acumularam e fizeram seu coração chorar naquele dia. Mas eu estava para descobrir.
O dia havia chegado para que fôssemos resgatar Anna. E eu sabia que no castelo do alto da colina estava também a mulher que um dia minha mãe chamara de irmã. Mesmo sem conhecer a história, tantas coisas agora faziam sentido.
Minha mãe havia perdido seu marido, sua irmã, seus pais e sua casa. Não havia mais nada além de Hednir e eu. Talvez fosse daquilo que ela se lembrou naquele dia.
Eu podia ver o mesmo desespero da minha mãe nos olhos do filho do magistrado, parado no meio da taverna. Como homem, devia doer ter que ser honesto sobre sua incapacidade:
— Eu vou ficar quieto aqui e não vou atrapalhar vocês... Mas me prometam uma coisa então? Me prometam que vão salvar o meu pai e as pessoas que elas levaram. Já são umas vinte... — O rapaz explicou, e fazia um esforço para controlar as lágrimas nos olhos.
Dihsi, o filho do magistrado, tinha vindo trazer o mapa do castelo que o magistrado possuía em seus arquivos pessoais. Issachar parecia ter-lhe convencido a não fazer uma besteira indo atrás das bruxas, mas era claro para nós que aquela decisão era algo que feria o coração do rapaz.
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O Martelo das Bruxas - Volume II: As Crônicas dos Guardiões do Alvorecer
FantasyNo Volume II desta trama, o grupo de aventureiros finalmente colide. Uma aventura com piratas toma lugar em alto-mar, enquanto, em terra, um conflito se desenvolve, e aumenta a tensão entre as nações vizinhas. Diante da infindável perseguição, esses...