Às vezes eu pensava sobre o que eu poderia ter feito de errado para que a minha vida fosse por aquele caminho... O caminho onde todas as pessoas com quem me importo acabavam morrendo bem antes de mim. Era quase uma maldição.
Eu tentava não pensar assim, mas em momentos como aquele era difícil não ser negativo. Era difícil não me perguntar se não teria sido eu a atrair coisas ruins para todo mundo. Talvez por isso eu tenha voltado a ter meus pesadelos.
Na manhã daquele dia, quando me pus de pé, fui para a cobertura levando comigo o embrulho de pano.
Desembrulhei a pedra e comecei a afiar as espadas. Já estavam afiadas, mas era o que eu conseguia fazer para permanecer calmo. Por algum motivo não funcionou... O "permanecer calmo". Na segunda passada lancei longe a pedra, impaciente.
Bufei, mas fui surpreendido por um copo de água na minha frente. Quando ergui o olhar e vi que era Bisonte simplesmente aceitei. Ele se sentou do meu lado em silêncio, enquanto eu bebia. O silêncio perdurou por longos minutos até que começamos a ouvir a movimentação do grupo despertando na hospedagem.
— Tahirah. — Eu chamei, mas não sabia bem o que dizer. Então exprimi o que sentia por meio de um pedido: — Me desculpe.
— Pelo quê? — Bisonte perguntou com uma voz calma e rouca.
— Por tudo.
— Tudo o quê?
— Tudo.
Bisonte ficou em silêncio por um momento antes de responder:
— Eu não consigo pensar em nada que você tenha feito de errado... Mas você sempre pede desculpas. — Ele falou e por algum motivo eu acabei rindo.
— Por te arrastar para tantos problemas. — Eu expliquei, voltando à sobriedade. — Mas ao mesmo tempo, eu não sei o que faria se você não estivesse aqui. Acho que acabei aprendendo a depender de você.
Mesmo sem fitá-lo eu pude ouvir o tom de alívio que havia no suspiro de Bisonte.
— Para um cara esperto você é bem idiota. — Bisonte falou.
Antes que eu retrucasse ele explicou:
— Quando as coisas ficam muito ruins assim, e de tempos em tempos elas ficam bem ruins, você se deprime e se culpa por tudo. Ainda assim você nunca demonstra isso pra ninguém e lidera todos com calma e confiança. Eu acho admirável que consiga separar o que sente do que precisa fazer... Nem todo mundo consegue.
— Você é provavelmente a única pessoa que acha isso admirável. — Eu extravasei. — Pra todo mundo lá embaixo eu sou um monstro com coração de pedra.
— Bom, é verdade que ninguém deve parar pra pensar que de todos nós, você é o que mais tem razões para sofrer pela situação da Anna... Mas é porque você guarda para si mesmo e consegue ser objetivo, e nesses casos é bom ser. — Bisonte quis me consolar. — Mas sabe o que também percebo?
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Martelo das Bruxas - Volume II: As Crônicas dos Guardiões do Alvorecer
FantasyNo Volume II desta trama, o grupo de aventureiros finalmente colide. Uma aventura com piratas toma lugar em alto-mar, enquanto, em terra, um conflito se desenvolve, e aumenta a tensão entre as nações vizinhas. Diante da infindável perseguição, esses...