Capítulo 60 - A despedida dos amantes

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A noite caiu rapidamente, apesar dos dias parecerem ter parado

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A noite caiu rapidamente, apesar dos dias parecerem ter parado. As lanternas iluminavam a cidade, mas eu estava presa no meu quarto e ainda mais nos meus pensamentos. Era difícil explicar com palavras, mas algo havia mudado drasticamente dentro de mim. Eu simplesmente não reconhecia mais a pessoa que eu fui dias atrás.

— Você está pálida. — Merlin se preocupou, enquanto eu fitava o mundo lá fora pela janela. Senti um asco subir pela minha garganta quando ouvi sua voz, mas engoli com um suspiro.

— Quando quer ir? — Perguntei sem fitá-lo.

— Sei que me odeia agora, mas irá entender no futuro. — Merlin disse e eu abafei um riso irônico.

— Esse é o problema: seu e de Pietá. — Eu disse, me recusando a chamá-la de "mãe" pela primeira vez em toda minha vida. — Vocês sempre tomam decisões por mim com a desculpa de que estão fazendo o melhor e de que eu vou entender. Mas eu não entendo.

Fitei Merlin. Talvez ele tenha visto o ódio em meus olhos, pois sua expressão ficou lívida e quase aterrorizada.

— Você fez alguma coisa para que ele não acordasse, não é Merlin? Para que eu tivesse que ser escrava da sua vontade. — Eu deduzi. Seu acordo para que fizesse Issachar despertar ainda assombrava meus pensamentos.

— Não... — Ele disse num tom incrédulo e triste. — Eu ja-...

O interrompi:

— Não diga que jamais faria isso porque eu sei que é mentira. Tudo o que você diz desde sempre são mentiras. — Eu apontei.

Queria dizer mais coisas, mas agora precisava dele ao menos para que abrisse o portal. Talvez eu estivesse usando seus sentimentos por mim, como eu devia ter feito antes.

— Vamos nesta noite. Não quero que o rei Aleydes repense sua hospitalidade, então ele saberá apenas quando já tivermos ido. — Eu decidi.

Merlin concordou devagar com a cabeça e segurou meus ombros. Eu pude sentir que suas mãos tremiam, mas seus olhos me encaravam com firmeza:

— Não me olhe assim, Anna. Você está partindo meu coração. — Ele falou e eu me segurei para não rir. Ele estava tentando fazer com que eu me sentisse mal por ele?

Toquei seu rosto e o acariciei.

— Eu não iria querer uma coisa dessas. — Eu menti e lhe sorri pequeno. — Agora vá se preparar para partir.

Merlin fez que sim com a cabeça e se afastou lentamente de mim até ganhar a porta e deixar o quarto.

Esperei um pouco antes de sair também e caminhar rumo aos aposentos do grande Tzhan. Vi minha imagem refletida nos vitrais das janelas: talvez ter colocado um vestido antariano me fizesse me destacar demais, mas era melhor do que chegar no Leste vestindo túnicas stoffelianas.

O Martelo das Bruxas - Volume II: As Crônicas dos Guardiões do AlvorecerOnde histórias criam vida. Descubra agora