Epílogo - Espírito Livre

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O Sol nascendo na poente distante fazia brilhar a areia como grãos de ouro

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O Sol nascendo na poente distante fazia brilhar a areia como grãos de ouro. Eu nunca havia visto nada além daquilo em toda minha vida, mas não me cansava.

Ouvia histórias de Mavhka sobre o mundo lá fora, sobre um amontoado de água salgada que se estendia tanto quanto o deserto; sobre pessoas com poderes de controlar o clima; sobre dragões e terras distantes e tão antigas quanto Mamba Chou. Mas eu não podia ver nada daquilo. Afinal era a lei de Xebaba... Os únicos que saíram jamais voltaram. Apenas as panteras podiam ir.

Ainda lembrávamos de Tahirah. Quando cruzou o poente, ninguém mais o viu. Xebaba ficava sombria toda vez que falávamos dele. Ela sempre dizia: "o deserto de Ankara é a casa dos Mamba Chou". Deixar o deserto e se aventurar por aí era algo tolo demais. Afinal, o deserto pode ser tanto seu amigo quanto seu inimigo.

Tahirah e Baira eram maiores quando vieram de Mukantagara. Eles gostavam de falar sobre o país da areia e sobre como as coisas eram na cidade. Mas talvez por isso, Tahirah tenha ignorado os conselhos dos mais velhos e decidido voltar... Decido nos abandonar.

Sempre nos perguntávamos se ele havia morrido ou se havia gostado tanto de retornar a Mukantagara que nunca mais encontrou seu caminho de volta a Mamba Chou. Xebaba, porém, dizia que ninguém encontrava o caminho para Mamba Chou. Mamba Chou é quem encontrava você. Talvez Mamba Chou tenha se perdido de Tahirah.

Eu me perguntava de tempos em tempos se eu saísse para o Poente, para ver o grande lugar de água e sal, se Mamba Chou me encontraria. Afinal, se o mundo era grande como Mavhka dizia, seria uma pena morrer sem vê-lo inteiro, não seria?

Kahle kahle, Sahaja. — Ora ora... Medhavin saudou.

Tinha um sorriso amarelo entre os lábios grossos e uma expressão de deboche. Suas tranças sacolejavam com acessórios de ouro, mas ainda assim seus passos eram quase graciosos e silenciosos. Medhavin tinha a dignidade das serpentes da areia, expressas nos tecidos nobres que cobriam parte de seu peito e na lâmina curva em sua bainha, com o símbolo da tribo Altair.

Halala, Medhavin... — Saudei.

Seu corpo grande caiu sentado ao meu lado, e seus olhos negros encararam o Sol poente comigo.

— O que está fazendo aqui? Não deveria estar se preparando? Não deveria estar com os outros jovens no Ukukhula? — Medhavin tentava disfarçar, mas eu sabia que Xebaba havia lhe pedido para se manter de olho em mim.

— Medhavin, você acha que Tahirah morreu?

O silêncio de Medhavin se estendeu o suficiente para que eu soubesse que ele estava pensando em uma mentira gentil.

— Todo Donkhor que conheço é cabeça dura... Se tivesse que arriscar, diria que ele tá vivinho por aí. O problema é que nós Mamba Chou somos de raízes. Somos da areia e vamos morrer na areia... Mas os Donkhor sempre foram de espírito livre, igual o falcão. — Medhavin falou, me olhando de soslaio como se quisesse ler minha mente.

O Martelo das Bruxas - Volume II: As Crônicas dos Guardiões do AlvorecerOnde histórias criam vida. Descubra agora