Capítulo 86 - A queda

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Metade dos velhos lordes havia caído em batalha, e por isso metade da sala era de jovens que estavam ali para tomar seu lugar de direito, como cabeças das tribos

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Metade dos velhos lordes havia caído em batalha, e por isso metade da sala era de jovens que estavam ali para tomar seu lugar de direito, como cabeças das tribos. Os escutei em silêncio por horas até que os mais velhos nos convenceram que o melhor seria não atacar o Vale.

Havíamos perdido muitos dos nossos e todos sabiam que era praticamente impossível de se invadir nossas muralhas. Os nortenhos apenas conseguiram aquilo por causa do portal aberto com bruxaria, coisa a qual não iríamos recorrer.

Por esse motivo a marcha pelo território antariano foi feita num gosto amargo de derrota, com carroças carregando os feridos e com mais pausas do que faríamos em uma viagem comum.

Lady Felkor permanecia silenciosa em seu luto, talvez porque nem sequer tínhamos um corpo para queimar. Rastreadores que cavalgaram até as muralhas valesas disseram que as cabeças dos lordes que caíram em batalha estavam expostas do lado de fora do portão.

Isso apenas aumentava a insatisfação e o ódio que todos os jovens sentiam, por não apenas terem perdido seus pais e avós, mas por tê-los pendurados sem dignidade alguma e sem o velório que suas vidas honrosas mereciam.

Passei boa parte da cavalgada em silêncio. Algumas vezes Calisto tentou me animar, me dizendo que ninguém culpava a mim, apesar de eu mesmo o fazê-lo. Afinal, lorde Felkor era quem havia comandado a campanha, e ainda assim perderam.

Quando avistamos as muralhas de Passalus no horizonte, mandei a notícia de que deveríamos erguer acampamento nas planícies verdes ao redor da cidade e próximo ao lago. Para a maioria dos mahins, aquilo não seria um problema. Estavam acostumados a dormir em carroças e a viver das coisas da terra.

Para valeses que não descendiam de nenhuma das tribos, talvez fosse um pouco mais incômodo, mas precisava funcionar. Eu bem sabia que no geral a presença de tanta gente nas terras de Passalus geraria um incômodo aos antarianos, e não queria impor ainda mais a Anna.

Cavalguei com os líderes de tribos até o palácio, esperando estender-lhes uma melhor hospitalidade. Para minha surpresa, nossa procissão na rua principal de Antar não atraiu nenhum tipo de comoção, e até recebemos alguns acenos. Talvez a aparição do Pardal no templo tivesse feito o afeto por mim crescer um pouco mais no coração dos antarianos.

Quando a pequena procissão de cavalos e carroças parou na frente do palácio de Passalus, Anna estava esperando na entrada com um grupo de criadas, como se aguardasse nossa chegada. Devia ter recebido notícias assim que os refugiados apareceram no horizonte. A guarda antariana não deixava nada passar.

Saltei de cima de Tormenta e entreguei suas rédeas ao peão que veio buscá-la. Assisti Anna dar passos sérios na minha direção, mas a interrompi com a mão, avisando-lhe:

— Estou imundo. Preciso me limpar.

Mas ela não se importou e me abraçou apertado. Eu havia me acostumado com valeses repudiando sujeira e se recusando a tocar alguém que não estava limpo, porém, não poderia negar que o abraço não solicitado aqueceu meu coração.

O Martelo das Bruxas - Volume II: As Crônicas dos Guardiões do AlvorecerOnde histórias criam vida. Descubra agora