Capítulo 77 - Consumação

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O dia chegou rápido como o vento

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O dia chegou rápido como o vento. Em todos os lugares eu podia ouvir vozes e mais vozes de pessoas se movimentando e arrumando os últimos detalhes às pressas. Talvez por isso eu tenha cavalgado durante toda a manhã. Quando voltei, metade dos servos estava com nervos à flor da pele, com medo de que eu tivesse desaparecido.

Ignorei seus muitos apelos e ao invés de me banhar, decidi trabalhar e me tranquei por toda tarde no escritório, em busca de terminar minha árdua tarefa de ler os livros de contabilização e os últimos documentos assinados pelo meu avô.

Era decerto um trabalho chato e a ideia de ter que fazê-lo pelo resto da vida me irritava. Ainda assim, eu me surpreendi ao perceber que eu possuía ideias de como melhorar as coisas no Vale para todo mundo e isso me deixava um pouco mais animado. O que quer que fosse, esperava apenas não gerar algum desastre tão grande quanto a realeza de Zalim havia criado.

O bater frenético na pesada porta de madeira me fez sair de meus devaneios. Percebi só então o quanto meu corpo estava rígido, sentindo falta de estar se movimentando ao invés de preso em uma cadeira.

— Entre.

Lady Felkor não demorou a adentrar, adornada em uma dúzia de joias e em um vestido visivelmente caro. Seus cabelos trançados com presilhas douradas eram um esforço ainda maior do que ela faria em qualquer outra ocasião festiva.

— Você vai se atrasar... Ainda nem se banhou? — Ela brigou. — Já está ficando obcecado por trabalho como seu avô.

— Desculpe.

Meu murmúrio pareceu deixá-la surpresa. Acho que eu realmente não tinha mania de me desculpar, mas dessa vez eu estava mesmo errado. Não gostava de me atrasar, mas trabalhar distraía a minha mente do que estava para acontecer. Uma parte de mim em êxtase, outra querendo fugir a galope.

— Tem algo errado? — Lady Felkor perguntou ao notar meu silêncio fúnebre. Fiz que não com a cabeça, mas não fui muito convincente.

— Eu tenho uma estranha sensação de que coisas ruins estão por vir... Mas talvez eu só esteja com medo.

— Medo?

— Da guerra... No fundo, mesmo eu preferia não ter que lutar.

— Um homem que não teme a guerra é um tolo, meu filho...

— Pode ser verdade... Mas me preocupa mais o fato de que morrer lutando me parece melhor do que morrer sentado nesta cadeira.

Não devia ter dito aquilo, pois seus olhos me fitaram com claro pesar.

— Você odeia tanto assim ser um Felkor, Issachar?

Ponderei bem suas palavras, mas tive receio de que minha honestidade lhe ferisse. Me ergui, espreguiçando meu corpo e caminhei na sua direção.

— Não se preocupe, eu não vou fugir.

Passei por ela rumo a porta, disposto a me banhar e me preparar para o casamento, mas suas palavras me pegaram de surpresa.

O Martelo das Bruxas - Volume II: As Crônicas dos Guardiões do AlvorecerOnde histórias criam vida. Descubra agora