Capítulo 37 - A história de Issachar - Parte II

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         Às vezes Issachar não era muito sincero com as suas emoções

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Às vezes Issachar não era muito sincero com as suas emoções. Mas o abraço dele dizia muito mais do que suas palavras.

Fiquei quieta até a mão dele deixar minhas costas, então soltei o abraço e o  fitei. Os olhos dele escondiam bem a tristeza.

— Eu tenho uma pergunta... — Eu iniciei, e ele me fitou sem surpresa.

Já devia esperar que eu tivesse muitas perguntas.

— Por que você e sua mãe não foram para o Vale?

— Não tínhamos dinheiro e nossa terra foi confiscada depois da morte do meu pai. Minha mãe foi trabalhar um tempo de costureira para conseguir dinheiro, mas mal dava para pagar hospedagem e comida. E logo ela ficou doente da Febre, e morreu. —  Issachar falou.

Soltou um suspiro.

— Depois disso, eu roubava o almoço para comprar o jantar. E comecei a ficar bom em roubar, e crianças começaram a querer comer das minhas sobras, como animais cercam o ratel para comer o que ele mata. Por isso me chamavam assim. Diziam que eu era destemido e esfomeado como o ratel que aguenta picadas de abelha para roubar mel.

— E aí a bruxa os atacou? — Eu perguntei. Ele fez que se sim com a cabeça.

— Algum comerciante fez um trato com ela pra se livrar de nós. Ela incendiou todo o distrito e queimou as crianças vivas... Tinha uma garota que me seguia por todo lugar, chamada Nina. Eu a vi queimar enquanto pedia que eu a salvasse. O cheiro de carne queimando é algo difícil de esquecer.

Ele contou, e quanto mais falava, mas meu coração se apertava. Era fácil agora entender porque Issachar não gostava muito de falar sobre a sua vida. Ouvi a voz dele continuar a narrativa:

— Eu não consegui vencê-la e ela estava para me matar quando o Pardal do Leste apareceu. — Meus olhos se arregalaram.

— O... Pardal... Do Leste? — Eu balbuciei, estupefata.

— A bruxa fugiu em um portal quando a viu... Nem eu estava acreditando que ela me salvou. Mas o que sei foi que adormeci, e quando acordei estava no Vale. — Issachar falou.

Muitas pessoas no Leste acreditavam que o Pardal era uma deusa. Havia até um templo em Ventosa e em Passalus pra ela. Os agricultores oravam pela fartura e pareciam serem sempre atendidos. Mas também haviam pessoas que não acreditavam  que ela existia. Que ela e os Guardiões da Alvorada eram apenas um conto.

Issachar não parecia um tipo religioso, então eu me perguntava o porque a dita deusa o havia salvado. Talvez nem ele soubesse.

— Quando... — Eu iniciei, tentando colocar ordem nos meus pensamentos. — Foi o Pardal quem te levou para o Vale?

O Martelo das Bruxas - Volume II: As Crônicas dos Guardiões do AlvorecerOnde histórias criam vida. Descubra agora