Já começava a me acostumar com a rotina em Ventosa. Me hospedei no Castelo Velho mesmo com as obras em andamento. Acordava cedo, tomava o desjejum e começava a treinar os alistados. Dona Lorena Petris havia indicado uma velha senhora para o trabalho de governanta e o castelo já estava cheio de funcionários que pareciam aumentar dia após dia, me dando o trabalho de lidar com gastos conforme os cofres da província permitiam.
Ainda não havia ouvido notícias da capital, mas dado que ninguém pareceu reclamar da alteração na porcentagem de impostos enviados ao império, Anna devia estar escondendo bem meu novo papel como lorde da província.
Naqueles dias, o vento gelado de inverno enchia o Forte como uma brisa, mas todos apareciam extremamente agasalhados e só removiam os casacos quando começavam a suar diante dos trabalhos intensos e das sessões de treinamento. Já para mim, parecia verão.
Após o almoço eu ajudava um pouco nos reparos do castelo velho de Ventosa, mas os homens ali trabalhavam tão rápido que mal havia mais o que fazer e me restava tempo para lidar com a insuportável papelada e organizar futuros planos de guerra do exército que começava a montar.
Eu havia sido muito bem recebido na província e já quase me parecia que havia vivido ali a vida inteira pela forma receptiva com a qual me tratavam. Maximiliano Berton, parente dos nobres que viviam em Ventosa antes da chegada do império, fizera um brilhante trabalho reunindo os jovens da região que sabiam lutar e no primeiro dia de treinamento eu já estava ensinando táticas de guerra para pelo menos quinhentos homens.
Meu avô sempre dissera que era importante saber o nome das pessoas que estão sob o seu comando, então eu fiz o esforço de aprender o mais cedo possível como se chamava cada um. Para eles era simpatia, para mim era essencial.
Berton, em especial, parecia empolgado com o fato de Ventosa poder voltar a ser um estado militar, já que isso havia sido proibido pelo antigo imperador. Assim, o homem de cabelos grisalhos e barba longa não cessava de elogiar o fato de Anna ter escolhido acreditar mais uma vez em Ventosa e em sua fidelidade.
Mesmo que não tivesse havido uma cerimônia e nem nada do tipo, o fato de eu viver no castelo do Forte e ter apresentado a carta com o selo de Anna já pareciam ser suficientes para que todos me considerassem o novo lorde. Eu recebia cumprimentos, vênias, comida, pedidos e o trabalho nem sequer tinha começado de verdade.
De vez em quando mulheres vinham da vila para o pátio do Forte para assistir os treinos. O número de jovens homens subia a cada dia vindos de uma fazenda ou de outra e enviados pelos pais para representarem a família como soldados. Boa parte deles era forte graças ao trabalho manual, mas não entendiam muito da espada. A outra metade tinha treinado com cavaleiros aposentados, mas nunca tiveram um combate de verdade na vida.
Para mim eram um bando de perdedores e eu considerava um verdadeiro desafio ter que garantir que ficassem em forma o mais rápido possível.
As coisas ficavam sempre mais divertidas quando Myra Petris chegava. A nova cavaleira do império se tornou famosa entre os jovens alistados que também almejavam o título, então eu tinha a chance de vê-la se exibindo e zombar dela sempre que podia.
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O Martelo das Bruxas - Volume II: As Crônicas dos Guardiões do Alvorecer
FantasiaNo Volume II desta trama, o grupo de aventureiros finalmente colide. Uma aventura com piratas toma lugar em alto-mar, enquanto, em terra, um conflito se desenvolve, e aumenta a tensão entre as nações vizinhas. Diante da infindável perseguição, esses...