Capítulo 23 - Adeus à Ilha

47 4 11
                                    

         Durante a madrugada, quando Água Negra me mandou partir com o dito Barata à procura dos piratas em terra-firme, me senti chateada por ter sido tirada da ação, e não seguir com o grupo principal

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Durante a madrugada, quando Água Negra me mandou partir com o dito Barata à procura dos piratas em terra-firme, me senti chateada por ter sido tirada da ação, e não seguir com o grupo principal. Talvez o capitão pirata pensasse pouco de mim, e isso me irritava. Além do mais, eu precisava encontrar Anna e protegê-la. Afinal, era meu dever como sua nobre cavaleira!

Eu e Barata andamos por umas boas horas, mas nada encontramos, e acabamos voltando ao acampamento quando o dia já caía. Nós e os pássaros assistimos o amanhecer enquanto esperávamos pela volta do bando. Aproveitei para trançar novamente meus cabelos e escondê-los em um coque.

Andei pelo acampamento a esmo, e acabei encontrando um varal, do qual roubei umas roupas e as usei como faixas para esconder meus seios, e fiz também um lenço para o pescoço. Um homem pássaro ainda me encarou bastante enquanto eu fazia o caminho de volta, e imaginei que talvez ele estivesse reconhecendo o lenço como algo que pudesse ter vindo de seu varal. O pensamento me fez rir, mas eu me sentia mal-humorada. E meu humor só melhorou um pouco quando durante a manhã trouxeram Anna de volta, e Gunnar disse que ela estava bem. Entretanto, o companheiro de Barata havia morrido. E quando ouviu a notícia, o menino adentrou a mata e sumiu. Voltou só horas depois com um arco e uma aljava, e com os olhos inchados.

— Você pratica o arco? — Perguntei, me sentando com ele. O pobrezinho devia estar bem triste. Eu não tinha perdido lá muita gente enquanto eu crescia, então só conseguia imaginar como devia ser horrível perder alguém.

— Nem sei atirar isso. Cabeça de Porco que sabia. Eu roubei de um dos botes quando fugi, era das tais armas que estavam pra vender. — Ele explicou.

— Posso tentar? — Perguntei. E ele fez que sim com a cabeça. Começamos a praticar a flecha e o arco, e Barata até se pôs a rir quando percebeu que a aljava nunca ficava sem flechas, como se fosse um objeto mágico. Apostamos que quem conseguisse acertar mais flechas ficaria com o arco, e eu ganhei de lavada.

Por um instante até me distraí, e sorri um pouco com ele. Os últimos tempos tinham sido difíceis. Me lembrei da noite anterior, e do beijo que o ruivo me dera. Seria estranho ficar pensando naquilo? Ou seria mais estranho que eu sentia um certo nó na barriga ao pensar sobre aquilo? Pra minha sorte ninguém além de Água Negra, e Escarlate tinham visto que eu era menina, e os dois não pareciam se importar muito. O ruivo, provavelmente, não diria a ninguém... Sobre eu ser menina... Ou sobre o resto. E eu, provavelmente, também não devia.

Deixei meus pensamentos quando Anna acordou, e parti com ela para o lago. Após uma discussão do ruivo com sua irmã, a ilha começou a nevar, esfriando do nada. Voltamos em silêncio, e Barata seguiu em meu encalço, me enchendo, para que tivéssemos uma revanche e tentássemos atirar mais flechas até esvaziarmos a aljava. Como ele atirava muito mal, nunca conseguiria esvaziá-la rápido o suficiente.

O Martelo das Bruxas - Volume II: As Crônicas dos Guardiões do AlvorecerOnde histórias criam vida. Descubra agora