8 anos atrás.
Eu aprendi, do jeito mais estranho possível, que Fantasmas da Neve deveriam amar ao frio. Depois da Bruma, eu era a única criança de olhos brilhantes que andava agasalhada dos pés à cabeça. Ninguém entendia também.
Achavam que eu era apenas mais fraca, e que precisava pegar o jeito da coisa. Mas quando um moleque me irritou e o mandei comer bosta, e ele me obedeceu como se estivesse enfeitiçado, todos passaram a questionar o quê eu era de verdade. Principalmente eu.
Vovô me perguntava o que eu tinha feito, e nem eu compreendia. Eu sabia que eu sentira raiva. Muita raiva. E que aquela raiva se transformara em algo capaz de enfeitiçar alguém. Era diferente do poder de qualquer Caçador Branco.
Ao menos, no "ser diferente", eu ainda era parecida com Rorik. Ele também era assustador. Com pouco mais de dez anos de idade, ele conseguia dominar a neve de uma forma que nem os mais velhos conseguiam, o que o tornava uma promessa dentro da União.
E por isso, o chamaram de Prodígio. E a mim... Me chamaram de Mau Agouro.
À medida que eu crescia, as pessoas me odiavam e me evitavam cada vez mais, na mesma medida em que adoravam ao meu irmão.
Eu evitava ao máximo usar meus poderes, mas começava aos poucos a entendê-lo. Ás vezes, eu o testava em ações inocentes com pessoas que eu não gostava muito, entretanto, isso em nada ajudava na forma como me viam.
Quando eu completei quatorze anos, vovô achou que era hora de se livrar do fardo que carregava na vila da Fenda, ou seja, eu.
Me lembro daquele dia... Eu entrei na tenda para fugir de Knut, depois de ter lhe socado a fuça. Rorik não sabia, mas Knut sempre aproveitava para me maltratar junto a outros pivetes da vila.
Acho que, em algum momento, Knut simplesmente cansara de me defender, e de acabar sendo rejeitado também, então se unira a eles em me empurrar, e me fazer pegadinhas, - todas sempre escondidas de meu irmão, pois tinham medo dele. E quando entrei na tenda, afobada, ouvi ruídos atrás da cortina.
Olhei em volta, pensando em me armar de algo, caso fosse Knut quem estivesse ali. Ergui um pedaço de madeira, e me aproximei devagar, puxando o tecido bordado da cortina. Lá estavam Rorik e Peta - uma morena das lavadeiras- , se esfregando escondidos, com quase nenhuma roupa.
— Rorik! Pelo Gavião! — Bradei, dando-lhe as costas, e o ouvi puxar a cortina de volta para que pudesse subir as calças.
— O que está fazendo aqui? — Ele perguntou, como se a tenda também não fosse minha.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Martelo das Bruxas - Volume II: As Crônicas dos Guardiões do Alvorecer
FantasiaNo Volume II desta trama, o grupo de aventureiros finalmente colide. Uma aventura com piratas toma lugar em alto-mar, enquanto, em terra, um conflito se desenvolve, e aumenta a tensão entre as nações vizinhas. Diante da infindável perseguição, esses...