Capítulo 41 - Mãe das Bruxas

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Eu pensei ouvir o barulho de um galo cacarejando do lado de fora

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Eu pensei ouvir o barulho de um galo cacarejando do lado de fora. Perdida em pensamentos, meus olhos analisavam o escuro e não me deixavam dormir.

Eu jurava que também podia ouvir na noite minha lembrança saltar para a realidade, com o riso infantil e em coro de eu e Rorik correndo por entre as árvores, enquanto Knut tentava nos alcançar. A raposa fugia de nós, um vulto laranja, assim como os nossos cabelos. Tentamos... Mas nunca a alcançamos.

Vovó dizia que não era comum que uma raposa daquelas insistisse tanto em adentrar o acampamento, mas ela sempre aparecia por lá. Quando a via, vovó ficava emocionada e secava algumas lágrimas antes de começar a contar sobre minha mãe, e sobre como ela era como a raposa vermelha: astuta, bonita, e completamente livre.

Era a grande dor da minha avó que minha mãe nunca tinha retornado da Bruma.

Lembrei-me também de todos os momentos em que desejei que minha mãe estivesse ali, conosco, que brigasse com as mães que me destratavam, e que me dissesse que tudo ficaria bem, e que eu não era "estranha"... Que eu havia puxado a beleza e a astúcia dela.

O canto do galo soou novamente, e me sentei no acolchoado. Era melhor partir. Não tinha o que esperar... Pois uma vez que Rorik se decidia, dificilmente mudava de ideia. Provavelmente não iria mesmo até Nüma. Eu não estava bem com a ideia de não vê-lo mais, mas tinha esperanças de que ele acabasse me seguindo mais tarde.

Guardei as poucas coisas que tinha na bolsa de couro que consegui e deixei a casa de Remy Torben envolta no silêncio da madrugada.

O céu cinzento e as ruas empoeiradas e vazias davam um ar estranho à capital de Stoffel. Anotei com cuidado as dicas que consegui de um dos servos da cozinha de Torben sobre como alguém devia fazer para chegar a Numa.

Com passos constantes, não tardou que as grandes construções de madeira e pedra ficassem para trás e eu começasse a ser cercada por nada além de mato.

Avistei uma carroça no horizonte e corri até ela. Ao me aproximar reparei em um senhor de olhos puxados, sentado na carroça. Ele tinha uma barbicha negra e algumas manchas de sol na pele. Ao me ver ele se pôs a disparar frases no idioma stoffeliano que eu não conhecia bem, então fiquei parada fitando-o com confusão.

— Nüma? — Perguntei quando ele se calou.

— Nüma! Nüma! — Ele disse e sorriu pequeno e aliviado por termos nos entendido. Apontou com a mão para o espaço livre na carroça: — Nüma. — Disse, e fez sinal de que a carroça seguia para esse caminho. Sorri e saltei sobre a palha, me sentando ao lado dele.

Enquanto a carroça trotava pela estrada eu podia ver bem o topo do castelo de Stoffel ficando para trás. Apertei a alça da minha bolsa e me arrisquei numa prece, para que Rorik pudesse vir até mim.

O Martelo das Bruxas - Volume II: As Crônicas dos Guardiões do AlvorecerOnde histórias criam vida. Descubra agora