Capítulo 53 - O desejo de Myra Petris

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Quando eu acordei naquele dia eu tinha uma baita dor de cabeça

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Quando eu acordei naquele dia eu tinha uma baita dor de cabeça. Ainda assim me forcei a me erguer e me juntei ao grupo para planejar o resgate de Anna.

Ultimamente eu andava pensando muito sobre o que era mesmo ser um herói. Porque era tudo que eu queria, mas eu nunca encontrava a exata definição...

Eu me lembrava de quando mestre Issachar dissera em Zalim que não devíamos conhecer nossos heróis, porque na maioria das vezes eles nos decepcionavam. Eu não diria que o Ratel de Zalim me decepcionou... Acho que o que me decepcionou foi a realidade.

Quero dizer, meu plano era ser a grande guerreira Myra Petris, que salvou a princesa, etc, etc. Mas eu nunca havia dado rosto a princesa. Ou nome. Ou voz. E agora que Anna tinha rosto, nome e voz no meu coração eu preferia que ela nunca estivesse em perigo, mesmo que isso significasse não "salvar a princesa".

Eu pensava sobre essas coisas quando prometi a Dishi que salvaríamos a todos. Mas quando o Ruivo me perguntou o que eu faria se todos já estivessem mortos, eu não sabia bem como responder. Porque não havia passado pela minha cabeça antes que isso poderia acontecer, e que as pessoas poderiam morrer assim.

A história de um herói parecia menos heróica quando eu pensava nesses detalhes. 

— Tudo bem? — A voz do Ruivo perguntou, mas não ergui meus olhos para fitá-lo.

Todos deviam achar que eu deixei a taverna por alguma birra, mas na verdade eu só estava triste.

Eu pude ver os pés do ruivo parados na minha frente e acabei erguendo a cabeça para vê-lo, apesar de me sentir sem energia para discutir.

— Tô bem. — Eu disse, quase sem humor.

— Eu sei que você quer salvar todo mundo, mas nem sempre a gente consegue. — O Ruivo falou, o que era difícil de engolir.

— Vocês são muito frios... Não se importam com o sentimento das pessoas? — Perguntei.

O filho do magistrado estava chorando, mas eles continuaram imparciais. Eu sabia que era pra eu ter sido imparcial também, só que se eu pensasse sobre como não conseguiríamos salvar a mulher de Dishi, teria que pensar também sobre como poderíamos acabar não conseguindo salvar Anna.

O Ruivo tocou o meu rosto com carinho, mas bati na sua mão, empurrando-a pra longe. Volvi meu olhar para a porta num reflexo, pra ver se ninguém tinha visto aquilo. Eu claramente não tinha orgulho da intimidade que dei àquele ruivo. O fitei e soltei um suspiro quando ele perguntou:

— Está falando deles ou está falando de mim? — Ele quis saber com uma tranquilidade invejável.

Sobre não se importar com os sentimentos das pessoas?

Fitei o chão. Na verdade eu não tinha meditado sobre aquilo. Mas quando eu perguntei se não se importavam com os sentimentos das pessoas, talvez eu estivesse mesmo falando um pouco dele. E não tinha nada a ver com Dishi. Tinha a ver com como o ruivo brincava comigo.

O Martelo das Bruxas - Volume II: As Crônicas dos Guardiões do AlvorecerOnde histórias criam vida. Descubra agora