In Bloom

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Quando Kai ouviu a fala de Charlotte abriu um sorriso entusiasmado e segurou a pequena faca com firmeza em sua mão, logo levando ela até a tranca da porta e por mais que tivesse certa dificuldade conseguiu arrombar a antiga fechadura e abrir a porta.
A garota colocou o dedo indicador sobre os lábios como sinal de silêncio e deixou um breve sorriso ladino curvar o canto da sua boca. Ela abriu a porta, e em passos lentos e sorrateiros entrou no quarto. Assim que a mesma adentrou o local, conseguiu ter a visão de uma jovem loira sentada em uma poltrona, usando fones de ouvido da época e lendo o livro que tinha um grande título em sua capa.
"O silêncio dos inocentes."

-Hannibal Lecter escapa no final do livro e aproveita sua liberdade nas ruas do Haiti... Perdão, eu não deveria ter te contado o final -Charlotte dizia de forma calma e irônica, enquanto continuava andando pelo quarto.

A adolescente se levantou da cadeira no mesmo instante e ao ouvir a voz de Charlotte deixou seu livro cair no chão e uma feição de medo dominar seu rosto.

-Não chegue perto de mim! -a loira falou de forma firme e colocou as mãos a frente do corpo como uma forma de defesa.

-Isso depende de você -Charlotte falou com calmaria e passava seus dedos pela escrivaninha como se tentasse tirar uma poeira invisível. -Cadê a sua mãe? Ela tem algo que é meu.

Antes que a garota tivesse a chance de responder a pergunta, a porta do banheiro se abriu. Então, uma bruxa de meia idade saiu pela porta e embora seu olhar estivesse cansado, sua postura se mantinha firme.

-A primogênita de Giuseppe -a voz da velha saiu de forma arrastada. -A que devo a honra, Charlotte?

-Narcisa, os ares do interior não te fizeram bem -Charlotte retrucou com sarcasmo e um breve sorriso provocativo -Você tem algo que me pertence e que me impede de sair de casa antes do sol se pôr. -ela começou a se aproximar em passos lentos enquanto suas unhas rangiam contra a madeira.

-Tudo isso por um anel? -Narcisa respondeu com uma ironia em meio a sua voz rouca. -Você sabe que rendição não é da minha natureza, Charlotte. Minha resposta continua sendo não.

Antes que alguém pudesse dizer mais alguma coisa, Kai foi em passos rápidos até a jovem loira, que até então se manteve calada.
Ele colocou suas mãos com firmeza sobre os ombros da garota e começou a absorver sua magia, de forma que os gritos dela ecoavam pelo quarto.

-E paciência não é da minha natureza -ele disse com cínismo. -Se eu fosse você entregaria o anel para ela, porque eu não vou me importar nem um pouco em matar a loirinha aqui... De qualquer forma, você escolhe.

A voz de Kai emanava uma alegria sarcástica que fez com que Charlotte abrisse um sorriso surpreso e se deliciasse vendo ele tomar posse da magia da garota que ainda gritava de dor.
A outra bruxa observou a cena por alguns segundos e seu olhar de firmeza se tornou pavor ao observar sua filha começar a ficar cada vez mais pálida, então em um ato de rendição, ela colocou sua mão sobre o bolso do próprio casaco e jogou o anel de prata nos pés de Charlotte.

-Agora soltem ela! -Narcisa gritou com desespero.

-Bom... -Charlotte se agachou pegando o anel e colocando em seu dedo anelar, logo em seguida ela voltou seu olhar para a bruxa. -Acho que não.

Charlotte lançou um olhar para Kai que no mesmo instante segurou o pescoço da jovem loira e com um movimento brusco o quebrou, fazendo o corpo da garota cair vida sobre o piso.
Narcisa se jogou no chão, seus olhos estavam cheios de lágrimas, e ela segurou o corpo morto da jovem com carinho e tristeza.

-Vocês vão queimar no inferno! -ela dizia em meio a ódio e lágrimas.

-Narcisa, querida -Charlotte comentou, enquanto ia para o lado de Kai. -Uma bruxa sem magia é apenas uma velha ranzinza.

Charlotte apoiou sua mão sobre o ombro de Kai, então entregou a ele a pequena faca que o pertencia.

-Enfie no pescoço e rasgue a sua pele -ela sussurrou no ouvido do mesmo, o olhando como se fosse o diabo em sua consciência.

Mas não foi necessário mais palavras para Kai fazer aquilo que seu "demônio pessoal" havia sugerido. Ele sempre ansiou por sentir aquilo e agora realmente teria essa chance.
Então, sem pensar duas vezes, ele se inclinou com rapidez e enfiou a lâmina fria contra a pele da bruxa, assim como Charlotte havia dito.
Ele rasgou sua garganta, vendo ela morrer em segundos, e o sangue jorrar para todos os lados.

Kai se deliciou com aquela sensação e se sentiu de uma forma que nunca havia sentido antes. Sentia poder, a superioridade de ter uma vida em suas mãos e decidir o que fazer com ela.
Algo diferente passava pela sua mente, e agora parecia que o sangue queimava de forma prazerosa em suas veias. Mas antes que ele comentasse algo com Charlotte, ele pode ver ela se afastar um pouco e esconder o rosto de forma sútil.

-Eii, você tá bem? -ele se levantou jogando a faca no chão e se aproximando da garota.

-Sim... -ela respondeu com dificuldade. -Só não quero que me veja como uma abominação.

O rosto de Charlotte ainda estava voltado para o lado, como uma tentativa de o esconder com seus longos cabelos.
Kai a fitou por alguns segundos e ouviu atentamente suas palavras. Mas ele não entendia, não conseguia entender como ela poderia ser uma aberração e seja lá o que ela escondia, ele não teria medo, não se importaria.

-Se você se olhasse como eu te olho, você perceberia que eu nunca conseguiria te enxergar como uma abominação.

Kai segurou a mandíbula da garota e virou o rosto dela para si. Então, ele teve a visão das pequenas veias crepitando em baixo de seus olhos negros e suas presas tão afiadas quanto as de um animal.
Uma vampira? Era isso que ela era, aliás?
Charlotte manteve seu olhar voltado ao chão, pela primeira vez Kai pôde sentir que ela tinha medo.
O medo de que ele a abandonasse, mas acima disso, o medo de que ele a abominasse.

-Eu já te disse isso uma vez... -a voz de Kai saia como um sussurro enquanto ele passava o polegar sobre a bochecha pálida da herege. -Mas você é um fogo, garota.

Ele sorriu e viu ela fazer o mesmo, retribuindo o sorriso.
Kai se afastou um pouco, abrindo espaço entre ela e a bruxa que continuava jorrando sangue sobre o chão. Ele sabia o que Charlotte queria, e não se importava com aquilo.
Charlotte o observou por alguns segundos, mas logo caminhou até a bruxa morta e a ergueu com força, empurrando seu corpo contra a parede, logo cravando suas presas contra o pescoço da vítima e se deliciando com o sangue que aos poucos se tornava frio.

E quanto a Kai...
Ele se hipnotizou por ver Charlotte se deliciar com aquele sangue.
E se aquela era a imagem do demônio, então ele não via a hora de ir para o inferno.

A Devil RomanceOnde histórias criam vida. Descubra agora