A Devil Romance

As It Was

Os dias voavam mais rápido do que as folhas de outono em meio a um vendaval. E em um piscar de olhos já era o dia 30 de outubro.
Durante o pôr do sol em Portland era possível ver as luzes avermelhadas do sol atrás das pequenas nuvens que nublavam o ambiente. Eram exatos 7°C.

Após tantos anos com a morte dos membros da Gemini, o antigo galpão do Clã havia se tornado um salão de festas. E naquele final de tarde e início de noite, se realizava o casamento de um belo casal jovem. Era um casal comum e humano, felizes e cheios de esperanças a respeito de seu futuro mortal e limitado.

—Eu prometo estar com você, amar você e desviar do destino com você... Pelo resto da vida.

O jovem homem de cabelos loiros colocava a aliança no dedo da sua noiva. Ele sorria com paixão e cheio de sonhos.
A noiva sorriu, ela passa a mão pelos longos cabelos ruivos e em seguida limpa uma lágrima que havia escorrido por sua bochecha.
E todos os outros convidados pareciam sentir o mesmo orgulho e doçura com aquela cena. Era uma noite tão genuína e cheia de amor, sorrisos involuntários e sonhadores iam e vinham o tempo todo.

Jamais existiria algo tão belo e puro quanto um casamento...

—Aí, Deus, como isso é difícil —a garota sorriu novamente. Seu tom de voz era brincalhão, todos deram breves risadas com aquilo.

Ela respirou fundo e tentou se recompor, seus olhos fixos em seu noivo e um sorriso meigo e verdadeiro em seus lábios.

—Ethan Montgomery, eu... —a voz falhou.

Ela sentiu uma dor forte surgir em sua coluna e atravessar o seu estômago. Era algo tão excruciante que ela não conseguiu gritar, apenas gemer de dor. Sentindo algo penetrar e perfurar os seus órgãos. Ela conseguia ouvir aquilo...
Uma lâmina atravessando a sua pele, massacrando suas entranhas e se encharcando com seu próprio sangue.

Todos estavam confusos e preocupados... Mas não tinha nada acontecendo, tudo estava aparentemente bem.

—Katie? —o homem segurou ela, seu semblante parecia confuso. —Katie?

Mas nada fazia menos sentido do que o vestido branco de Katie começar a se tornar vermelho.
O sangue pingando no chão e fazendo uma suave melodia ecoar.

Por fim, ela conseguiu gritar pela dor. Seus olhos vidrados de forma amedrontada. A garota não conseguia falar, muito menos sabia o que estava acontecendo.
Ela perdeu a força de suas pernas, seus sentidos começaram a falhar, e ela caiu sobre os braços de seu noivo. Ele tentou segurá-la, então se sentou sobre o chão para tentar confortá-la.
Seus pulmões estavam pesados, o ar começou a sumir... Seu coração doía junto com os batimentos que aos poucos paravam.
Sua visão turva pela dor insuportável e mortal.

A respiração de todos se perdeu por alguns breves segundos quando a imagem de Kai Parker surgiu perto do cadáver. A faca ensangüentada em sua mão um sorriso animado em seu rosto.

—Não... —o jovem noivo segurava o corpo de sua noiva sobre o chão. Mentalmente se perguntando sobre o que estava acontecendo e porquê aquilo estava acontecendo. —Não. Não. Não.

Os olhares aflitos e inquietos continuavam, todos tomados por um choque forte demais para tomarem alguma atitude.

—Eu ia esperar a parte do "até que a morte nos separe", mas tava demorando muito —Kai sorriu com cínismo. Logo, virando seu olhar para o lado. —Não tô certo, vampirinha?

Ao seu lado estava Charlotte Salvatore, usando um vestido branco justo na cintura, com um belo decote e uma fenda na coxa que deixava o coturno marrom de salto alto a mostra.

—Acho que dispenso o "felizes para sempre" dessa noite —ela dizia com maldade, apoiando um de seus braços sobre o ombro de Kai.

Os dois hereges se olharam e sorriram um para o outro. Eles selaram seus lábios em um beijo suave, enquanto Charlotte erguia sua mão sobre o ar.
Quando a mão da herege se ergueu, os gritos de todos os humanos daquele local começaram a ecoar. Uma dor insuportável passando por seus corpos e os fazendo gritar desesperadamente em busca de salvação. Seus órgãos se contraiam, sua pele queimava. O sangue enchia seus pulmões humanos e os fazia agonizar... Quando todos os corpos perdiam suas forças e caiam sobre o chão, não demorou mais do que alguns minutos para que eles acabassem morrendo definitivamente.