Mesmo com os pulmões contraídos e sem ar, era possível sentir o cheiro de sangue, enxofre e corpos que queimavam pelo fogo constante.
Os saltos ecoavam contra o chão escuro e vazio.
O inferno era algo relativo para todas as milhares de almas que ficavam presas e espalhadas em meio a aquele gigantesco mundo obscuro. Um mundo escuro e sem forma. As almas estavam acorrentadas, mesmo que não conseguissem fugir do seu castigo eterno. As altas labaredas de fogo queimavam e ardiam contra a pele daquelas pessoas. Porém, as torturas eram diferentes.
Parecia até mesmo um serviço inteligente e automático que não parava nunca. As dores físicas e assombrações mentais eram proporcionadas de uma maneira exclusiva para cada um.Charlotte não se importou com os gritos ou o som do fogo carbonizando aqueles corpos. Ela passou direto e em um piscar de olhos estava em uma sala sem formato. Apenas uma vasta escuridão que a deixava sozinha.
—Seria uma boa hora para o grilo falante aparecer —ela disse alto.
—Então, finalmente aceitou a minha ajuda —a voz de Cade soava de maneira elegante e cheia de presunção.
—Acredite, você me pegou em um momento em que eu estou me desesperada.
A herege se virou para poder encarar aquele "fantasma".
—Eu tenho que admitir —ele se aproximou em passos lentos. —Está fazendo um bom trabalho lá embaixo. Se aliou a Sybil, está derrubando os ataques dela e manipulando. É um bom plano... A curto prazo.
Charlotte ficou calada. Sua cabeça estava erguida e seu olhar encarava o de Cade sem recuar.
—O que acha que vai acontecer em alguns meses quando religar a humanidade do Enzo, e "se" conseguir religar a humanidade do Kai? —ele indagava em uma retórica cruel. —Sybil ainda tem um acúmulo de séculos de poder e você ainda está canalizando mais magia para ela.
—Eu entrei na mente de Sybil —Charlotte interrompe. —Vi uma mulher. Ela era daquela aldeia no Mediterrâneo. Ela tentava segurar Sybil e tentava impedir que os outros a punissem por ser uma psíquica. Quem ela era?
Uma suave risada nasal escapou das narinas de Cade.
—A doce Sevilla. Ela era a mãe de Sybil, mas isso você já deveria imaginar isso.
—É, eu estava em dúvida entre mãe e irmã mais velha —ela dá de ombros. —De todo jeito, não são esses detalhes que importam.
—Sevilla era a única pessoa que sabia sobre os dons de Sybil. Era uma boa mãe. Doce, gentil e dedicada —ele explicava dramaticamente, talvez fingisse estar atuando em um teatro. —Quando os moradores da aldeia descobriram, fizeram de tudo para matar Sybil. Sevilla não aceitou, ela lutou corajosamente para salvar a filha.
Charlotte fez um estalo com a língua.
—Pelo que vivemos hoje, eu suponho que ela não venceu a luta.
—Sybil foi levada para a ilha do banimento —continua Cade. —Sevilla não aguentou. Entrou em depressão e revolta por não aceitar o que havia acontecido com a filha. Os aldeões entenderam isso como heresia e a apedrejaram Sevilla até a quase morte.
—Quase morte? —a herege arqueia uma sobrancelha.
Cade riu com suavidade. Ele se afastou em meio a aquela sala vazia.
—Eu a encontrei quando ela estava agonizando. Com um pé entre a vida e a morte... Contei a ela que havia conhecido sua doce filha Sybil —ele coloca as mãos dentro dos bolsos da calça. —Ela achou que eu era Deus, sabia? E então, pediu para ir para o meu "paraíso psíquico".
Charlotte se virou abruptamente. Se não estivesse morta, provavelmente sentiria o coração palpitando contra as costelas.
—Ela está aqui. Sevilla...

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A Devil Romance
FanfictionKai Parker, a ovelha negra do Clã Gemini. Todos já sabemos da história de Kai Parker, o sociopata que matou toda a família... Mas na verdade a história é um tanto diferente do que pensávamos, apesar de tudo, Kai Parker já teve um amor épico, que o a...