-Quando tudo começou?
Charlotte questionou. Sua voz quebrou o silêncio repentinamente, como se ela estivesse criando coragem antes de deixar as palavras fugirem de seus lábios.
-O que? -Giuseppe franziu o cenho.
-Quero saber quando começou a me ver dessa forma -ela diz com firmeza. -Você sabe o que eu quero dizer, não me faça completar essa frase.
Era cruel, mas Charlotte sempre quis ter essa resposta. Ela ansiava em descobrir até que parte de sua infância tinha sido uma mentira, embora ela também temesse a resposta.
-Você sempre gostou de saber a verdade de todas as histórias -Giuseppe continua. -Mas não vai querer essa resposta.
-Não finja que se importa comigo. Não pode mais me bater e depois dizer que foi para o meu bem -ela retruca.
Eles se olharam por alguns instantes. O ódio fazia o sangue de Charlotte ferver em suas veias, mas ela esperava o momento certo para deixar suas emoções explodirem.
-Antes de vir atrás de você, decidi procurar algumas coisas. Quis saber o que a minha primogênita tinha feito nos últimos anos -ele voltou a falar.
-Deve ter se decepcionado ao não descobrir nada, não sou famosa -ironiza Charlotte.
-Mas seus assassinatos são -ele interrompe. -Seus pecados são lendários, Charlotte.
A garota arqueou uma de suas sobrancelhas. Ela virou o rosto para o lado, antes de acabar rindo.
-Veio aqui falar sobre os meus pecados? -ela ri novamente. -Estamos no século XXI, não precisa fingir que é católico. Nós dois sabemos que você adorava a Deus apenas por medo da angústia eterna, e não adiantou muito, levando em conta que você foi para o inferno.
-Você fez massacres. Incendiou vilarejos. Matou culpados e inocentes. Manipulou e mentiu -Giuseppe prosseguiu. Como se não se importasse com nada do que ela havia dito. Seu olhar cruel continuava sobre Charlotte. -Em 1865, dois misteriosos massacres aconteceram no vilarejo que tinha aqui perto. Primeiro, um incêndio que matou 8 pessoas. E depois um banho de sangue que resultou em quase 70 mortos.
-Vendo por esse lado, era um vilarejo pequeno -ela gesticulava, como se nada daquilo fosse importante. -Quem liga para 78 pessoas que morreram durante a época vitoriana?
Giuseppe deu uma leve risada. Ele endireitou sua postura com certa dificuldade devido as correntes que o mantinha preso.
-Mas mesmo assim você deixou um garoto vivo para contar a história -ele falou com um sútil cínismo. -Como eu disse, até hoje as pessoas falam sobre seus pecados... Mesmo que não saibam que são seus.
O sarcasmo e acidez desapareceram do olhar de Charlotte em poucos segundos. Ela apoiou as mãos sobre os próprios joelhos. E se sentiu orgulhosa por conseguir encarar seu pai nos olhos sem desviar o olhar.
-Meus pecados... Comparados a bater nos filhos por tédio. Meus pecados comparados a uma vida fingindo ser um homem decente, quando na verdade infernizava um de seus filhos e deixava a outra presa em um porão velho -ela inclinou seu corpo para frente. Sua voz saia com frieza, e seu lábio superior crispava pelo ódio. -Meus pecados comparados ao fato de você ter feito a minha vida ser um inferno.
-E você...
-Ainda não terminei -ela interrompe com rispidez, erguendo seu indicador ao ar. -São nossos pecados. Mas ao contrário de você, eu tive a decência de assumi-los.
-É isso que você quer? Uma confissão? -ele indagou retoricamente. Seu tom desdenhoso. -Isso não fará nada, nem mesmo Deus, limpar sua alma suja.

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A Devil Romance
FanfictionKai Parker, a ovelha negra do Clã Gemini. Todos já sabemos da história de Kai Parker, o sociopata que matou toda a família... Mas na verdade a história é um tanto diferente do que pensávamos, apesar de tudo, Kai Parker já teve um amor épico, que o a...