Fell On Black Days

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Mystic Falls, 1854. (Flashback).
(Parte 1)
...

Era um lugar escuro, tinha somente as poucas iluminações de velas e alguns raios de sol conseguiam penetrar pela pequena janela daquele porão.
"Poderia ser pior" pensou a jovem Charlotte consigo mesma enquanto ignorava o som dos morcegos que ficavam naquele velho porão da Mansão Salvatore, era um lugar feio e assustador, nada digno de uma mansão, mas era espaçoso.
Giuseppe Salvatore tentava sempre manter o lugar limpo para Charlotte.
Tinha uma pequena cama no canto no quarto e uma mesa em que Charlotte podia usar para escrever e desenhar o que quisesse. Era uma tremenda tortura, era um lugar frio e inapropriado para qualquer pessoa, mas ela vivia naquele lugar desde os 7 anos, tinha se acostumado com aquilo.

Naquele dia, Charlotte usava um vestido fino da cor branca, seus cabelos não estavam tão arrumados, não tinha o porquê de se arrumar.
Ela ficava trancada naquele lugar, recebendo apenas a visita do pai uma vez por dia para levar água e comida para ela, pelo menos era uma quantidade considerável para que ela não passasse sede ou fome.

Charlotte sabia que se quisesse poderia tentar fugir, mas fugir para onde?
Ela era uma abominação, não é?
Pelo menos era o que sua mãe dizia quando estava viva. Lily Salvatore havia morrido dois anos atrás, o que surpreendeu Charlotte quando ela sentiu uma alegria a dominar, ao invés de lágrimas surgirem em seu rosto.

Ela estava perdida em seus pensamentos.
Damon e Stefan haviam ido para uma viagem de negócios junto com seu pai.
Ela se perguntava como eles estavam, como estava a vida deles, enquanto ela apodrecia todos os anos naquele porão.
Mas Emily Bennett sempre dizia para ela a mesma coisa. "Eles estão bem, são bonitos e fortes como você", as vezes Charlotte recebia cartas deles, eram seu maior consolo.
Ela pensava o quanto aquilo era patético, receber cartas de seus irmãos dizendo que sentiam sua falta e perguntando como estava o colégio interno.
Sendo que era apenas uma mentira para omitir que ela estava trancada em um porão por ser uma bruxa sem magia própria.

Mas Charlotte foi tirada de seus pensamentos ao ouvir o som do ranger da porta. Ela ajeitou sua postura e observou a pessoa que estava prestes a entrar.

-Aceita uma visita? -Katherine perguntou de forma amigável com um leve sorriso no rosto enquanto segurava uma bandeja com suas mãos e usava seu quadril para fechar a porta.

Katherine havia chegado recentemente em Mystic Falls, havia dito a Giuseppe Salvatore que era uma órfã e não tinha onde ficar, e gentilmente ele havia oferecido para ela e Emily Bennett uma boa casa no vilarejo próximo.
Damon e Stefan ainda não conheciam Katherine, eles viviam indo para viagens com seu pai. E nessa idade Damon começava com os treinamentos militares para guerras que podiam acontecer.
Então, os dois irmãos Salvatore nunca haviam visto Katherine pessoalmente, nada além dos pequenos rumores que ouviam.

Katherine tentou não demonstrar a preocupação que sentiu ao ver Charlotte naquela forma.
A pele de Charlotte era uma extremamente pálida já que nunca saia daquele porão para tomar sol. E ela estava magra, magra até demais. Uma refeição por dia não era o suficiente para mantê-la forte.

-Katherine? -Charlotte se levantou com certa animação. -Não me diga que matou os funcionários do meu pai para vir me visitar?

-Mais ou menos isso -respondeu Katherine com um sorriso travesso, colocando a bandeja sobre a escrivaninha. -Seu pai e seus irmãos não estão em Mystic Falls, então decidi fazer uma visita, imagino que não deve ser fácil ficar nesse lugar sozinha.

-Eu já me acostumei com isso -Charlotte deu de ombros e abriu a bandeja, pegando uma taça com vinho que Katherine havia trazido. -Não vou ficar reclamando, as coisas podiam ser bem piores, não é?

Katherine olhou para ela sem dar uma resposta e então se sentou na beirada da cama, enquanto respirava fundo.

-Somos parecidas, não acha? -Katherine quebrou aquele curto silêncio. -Nossas famílias nos desprezavam, tivemos que sobreviver da forma que podíamos e sabe o melhor? Nós não nos vitimizamos com isso, esse é o nosso maior poder.

-Eu não consigo imaginar nós duas chorando aos cantos e dependendo de outras pessoas para nos salvar... Seria patético -respondeu Charlotte com sarcasmo, então as duas riram.

Charlotte bebeu um gole de seu vinho e tampou a comida, era melhor guardar aquilo para um momento em que realmente tivesse fome.

-Charlotte? -a vampira falou baixo, chamando a atenção de Charlotte para si. -O seu pai... Ele tentou te... Te machucar?

A voz de Katherine era pausada como se ela buscasse as palavras e a entonação certa para fazer aquela pergunta. Charlotte desviou o olhar e colocou seu copo sobre a escrivaninha, passando a mão pelos seus cabelos em uma tentativa de aliviar a tensão que sentiu com aquela pergunta.

-Isso não importa, Katherine -era evidente que as palavras saíram da boca de Charlotte de forma arrastada.

-É claro que isso importa -Katherine se levantou e caminhou até a outra. -Você é a minha melhor amiga e não vamos fingir que o seu pai é uma boa pessoa, eu vejo como ele te olha. Deixa eu te tirar daqui, Charlotte.

-Ele nunca me machucou e nem me tocou, Katherine -Charlotte disse, enquanto observava sua amiga. -Ele me deixa viver e é melhor para mim do que minha mãe jamais foi. Tudo o que ele faz é para me proteger, então pare de ser paranóica.

As duas se olharam um pouco e Katherine concordou com a cabeça, enquanto se sentava novamente sobre a cama.

-Você seria mais forte ainda se fosse uma vampira, talvez seria melhor que eu, se é que isso é possível -Katherine comentou de forma brincalhona e irônica ao mesmo tempo.

-Eu vou ser, mas no momento certo -retrucou Charlotte com um leve sorriso no rosto.

A Devil RomanceOnde histórias criam vida. Descubra agora