Dynasty

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TW: Abuso

As reações de pessoas que sofreram abusos ou tentativas de abusos sexuais é algo individual, mas sabe-se que nunca é fácil.
Algumas mulheres tendem a se isolarem, temerosas com qualquer aproximação. A vergonha, culpa é medo também eram algumas das cruéis sensações.
Mas não importa a forma como reagiam, seja com raiva ou com tristeza, seja com o desejo de isolamento ou vingança... As coisas não eram fáceis de lidar.

Charlotte Salvatore sabia como era isso. O sentimento era familiar, pois já tinha passado por isso em 1854... Embora não tenha sido abusada, a tentativa também era algo tão cruel quanto o próprio ato. E o fato disso vir do seu próprio pai fez com que várias coisas mudassem na vida dela. Fez ela se tornar mais desconfiada, e por mais que se esforçasse para não perder o pouco do que a tornava emocionalmente humana, era impossível não sentir a própria empatia fugir entre seus dedos.

Ela estava deitada sobre uma das grandes camas de um dos quartos. Seus cabelos estavam molhados, já que ela tinha decidido tomar um banho para se sentir mais limpa, eles se amassavam contra o travesseiro. Seu olhar fitava o teto com pouca emoção, quase nenhuma. Mas a área da sua pálpebra inferior estava avermelhada de tanto limpar e impedir que alguma lágrima escorresse.

Charlotte se esforçava para não sentir o mesmo que sentiu quando tinha 17 anos, era difícil, mas ela supôs que estava fazendo um bom trabalho, provavelmente por já ter passado por aquilo e saber como lidar.
Ela se sentia suja, calculou mentalmente que em alguns dias não se sentiria mais assim.
Ela também sentia aquela sensação de ter algo roubado de si, o seu direito de escolha. Provavelmente o pior dos sentimentos, mas Charlotte sabia que o recuperaria da mesma forma que tinha feito antes...
E embora Charlotte tentasse acalentar a si mesma com essas palavras de consolo, uma voz em sua cabeça parecia estar disposta a dizer o contrário. Disferindo palavras insultuosas e cruéis sobre ela própria.

Ela suspirou com impaciência, então se mexeu sobre a cama de forma incomodada. Seu olhar ainda fixo sobre o teto, mesmo que não prestasse atenção nele.
Charlotte decidiu pensar em algo que não fosse os insultos que a própria mente gritava em seus ouvidos
Ela pensou sobre como era antes de se obrigar a virar vampira. Como era diferente do que se tornara hoje.
"Você era tão boa, Charlotte" -ela disse mentalmente.
Não que ela não gostasse de como era hoje, muito pelo contrário, admirava como tinha conseguido se tornar independente, esperta e forte... Mas as vezes se pegava pensando em como era antes.
E por mais que poucas pessoas soubessem, Charlotte tentava não perder tudo que a sua versão de 17 anos tinha. Tentava manter um pequeno padrão moral, as vezes até um pouco de empatia, algo que não permitisse que ela se tornasse uma versão apática de Giuseppe ou Lilian Salvatore...

-Aceita uma visita? -a voz de Damon ecoou perto da porta.

Charlotte continuava deitada, ela apenas virou um pouco a cabeça para o lado, e deu um leve sorriso.
Damon se sentou sobre a beirada da cama, observando a irmã. Parecia estar tomando cautela antes de dizer algo.

-Não precisa me tratar como se eu fosse digna de pena, pode me perguntar o que quiser -ela quebra o silêncio.

-Você é muito dura com você mesma, trata os seus sentimentos como se não fossem nada... -ele se deitou ao lado dela. -Como você está?

-Pergunta retórica, então, eu diria que bem -Charlotte respondeu com impulsividade. Ela continuava encarando o teto, então passou a mão pelo rosto. -Eu estou sendo rude sem motivo, desculpa... Sobre sua pergunta, não estou no meu auge, mas eu sei que vou ficar bem.

-Você vai ficar, eu te prometo que vai... -Damon se sentou sobre a cama. Apoiando suas costas sobre a cabeceira. Ele fez um gesto para que Charlotte se apoiasse sobre o braço estendido dele, então foi isso que ela fez. -Em 1854, eu prometi que não ia deixar isso acontecer de novo... Me perdoa por ter quebrado essa promessa.

A Devil RomanceOnde histórias criam vida. Descubra agora