Nearly Lost You

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Um dia depois...

Havia se passado um dia desde o último encontro de Charlotte e Kai, nenhum dos dois acreditavam muito em de alma gêmeas. Aquilo era patético de inúmeros sentidos.
Mas não podiam negar que existia uma ligação instantânea entre eles... A forma que mesmo com tão pouco tempo se conhecendo eles conseguiam se sentir confortáveis em falar de diversos assuntos.
Talvez algum segredo que os dois escondessem? Eles sabiam que eram a mesma espécie de bruxos, mas tinha algo mais em tudo aquilo.
Ambos sabiam que tinha algo a mais.

Não demorou muito tempo para Kai aparecer na casa de Charlotte, era uma casa simples, mas sem dúvidas era um lugar muito bonito e aconchegante.
Depois de uma batida na porta, ele não precisou esperar muito para ver a garota abrir a porta, seus cabelos continuavam com aqueles cachos delicados, ela definitivamente era uma das poucas mulheres que Kai conhecia que conseguia ficar tão feminina e sexy usando roupas grunge.

-Uau e eu achando que não acharia caras interessantes em Portland -ela dizia de forma descontraída e com um leve sorriso que logo se uniu a risada de Kai.

-Aposto que vai descobrir várias outras coisas interessantes em Portland -ele piscou para a garota, enquanto ela saia para o lado de fora da casa. -Gosta de torresmos? -ele perguntava para Charlotte, enquanto pegava um pacote de torresmos dentro da mochila de forma enérgica.

-E existe alguém que não gosta de torresmos? -ela perguntava retoricamente tomando um torresmo da mão de Kai e comendo.

Logo em seguida ambos saíram do lugar e começaram a caminhar por uma trilha em que Kai guiava Charlotte.
Era incrível como a conversa dos dois não acabava nunca, mas em um momento acabaram chegando em um assunto não tão bom para os dois...
Família.

-Você sabe um pouco sobre a minha família perturbada e você? A garota bonita e misteriosa, sozinha, sem amigos, família... Qual o seu mistério?

-Bom...Minha mãe era uma vadia insensível que morreu quando eu era mais nova, o meu pai... Ele não importa, já morreu também -ela dizia sobre a mãe como se não se importasse, mas ao se referir sobre o pai era possível ver a sua apreensão, mas era visível que ela era uma mulher forte. -Na verdade eu tenho dois irmãos mais novos, estão por aí vivendo a vida deles, provavelmente se embebedando com Bourbon.

Kai passou breves segundos em silêncio, ele não era um bom conselheiro.
O que ele diria para uma pessoa com pais mortos e irmãos com quem aparentemente não falava?

-Ah...-ele disse baixo tentando buscar palavras de forma apreensiva. -Eu sinto muito... Você sabe, sobre a sua família...

-Ah não, não precisa sentir muito, eu odeio todos eles- ela dizia com naturalidade, mas assim que ela e Kai se olhavam acabaram caindo na risada. -Mas e você? Parece não gostar muito da sua família também.

-Ser um sifão no meio de vários bruxos com magia própria, acho que você pode ter uma noção de como isso acaba -ele dizia de forma irônica para reprimir sua frustração, mas terminava o comentário da mesma forma sarcástica de Charlotte. -Mas como você disse, eu odeio todos eles.

Ambos riram de novo, enquanto continuavam pela caminhada.

-Na verdade eu não entendo bem, os meus pais eram humanos, então...

-É, então parece que você tem uma vida familiar tão ruim quanto a minha, deveria ter trazido champanhe para a gente brindar sobre isso- um sorriso automaticamente se formou no rosto dos dois.

Antes que a garota respondesse eles acabaram chegando no local, uma clareira com um lago de águas cristalinas e uma bela cachoeira.
A brisa batendo contra as folhas das árvores, aquele ambiente era definitivamente um conto de fadas.
Charlotte observava o local com a boca entreaberta, sem conseguir definir quais palavras usar.

-Uau, isso é...-Ela continuava olhando para o local, mas no final olhava novamente para Kai. -Uau!

Assim que Charlotte diz aquilo os dois voltaram a rir, talvez de uma forma verdadeira que nunca tivessem feito na vida.
E por alguns segundos puderam esquecer totalmente os problemas e traumas que carregavam em suas mentes.
Agora tendo consigo uma estranha e deliciosa sensação de conforto.

...

Narração: Kai Parker

Por alguns breves segundos um silêncio reinou no local, fazendo com que ouvissem apenas o som da cachoeira. O lugar era encantador, para alguns podia ser considerado o próprio paraíso.

Eu descobri aquele "esconderijo" quando eu era criança. As vezes eu fugia de casa para escapar dos insultos e tortura psicológica dos meus pais.
Até eu descobrir aquele pequeno paraíso. Mas eu sempre voltava para casa pela madrugada, sabia que não podia fugir para sempre. Embora eu tivesse certeza que meus pais não se importariam se eu nunca mais voltasse para casa.

-Você é cheio das surpresas, não é, Parker? -a voz da morena saiu com um misto de brincadeira e irônica, a princípio respondi apenas com uma risada.

-Você ainda não viu nada -falei de uma forma extrovertida e pisquei para ela.

Em seguida, estendi a mão para ajudar Charlotte a se sentar sobre as pedras que ficavam ao redor daquele lago cristalino. Ela segurou a minha mão e eu pude sentir o quanto sua pele era fria, mas apenas ignorei aquilo e me sentei ao seu lado.

-Agora me fala, quantas garotas já trouxe nesse lugar tentando encantar elas? -sua voz saia com naturalidade, mas ao mesmo tempo de forma brincalhona.

Eu tinha que admitir que adorava ver aqueles joguinhos que ela fazia...
Charlotte era uma mulher aparentemente perfeita e sabia disso.
E inclusive ela sabia que eu pensava isso a respeito dela e adorava brincar com isso. Adorava brincar comigo.

-Espera aí, deixa eu tentar fazer as contas -coloquei meu indicador em meu rosto queixo e olhei para o lado, fingindo estar pensando. -Bom...Você é a primeira.

Assim que terminei a minha fala olhei para a mesma e dei um sorriso com um ar de ironia.
Ela ficou quieta por alguns breves segundos, apenas me olhando como se tentasse ler os meus pensamentos, mas por fim ela quebrou o silêncio dando uma leve risada nasal.

-Acho que eu sou uma garota de sorte -seu olhar se mantinha indecifrável e sua voz continuava descontraída.

Ela tinha alguma coisa que mantinha escondida e eu queria saber o que poderia se esconder por trás daqueles olhos angelicais.

-Você... Você tem algo diferente, eu só não consegui descobrir o que é -comentei após alguns instantes de silêncio. Ela inclinou a cabeça para o lado se mantendo impassível e de certa forma me hipnotizando com o seu olhar negro.

-É, eu tenho algo diferente -Charlotte respondeu calmamente e impassível, inclinando um pouco seu corpo pra minha frente. -Só não sei se você aguenta.

Conforme Charlotte fez, eu inclinei meu corpo para frente ficando ainda mais próximo dela. Deixando aqueles curtos centímetros de distância entre os nossos rostos.
Ela queria brincar, então eu faria o mesmo com ela.

-Eu tenho certeza que aguento -respondia com naturalidade e dei um leve sorriso sarcástico no canto do rosto, em seguida desviei meu olhar para baixo e fiquei brincando com os cachos nas pontas dos seus cabelos.

-E como eu vou ter certeza que você não vai contar o meu segredinho para o seu clã? Não me leve a mal, mas não estou afim de ser queimada em uma fogueira como as bruxas na época medieval -ela deu uma leve risada irônica, mas parecia falar sério.

-Eu podia te falar que dou a minha palavra, mas eu acho que isso não vale muita coisa -assim que falei retribui o seu sorriso irônico e me afastei, olhando para o lado pensando em algumas coisas. -Eu detesto minha família, acha mesmo que eu vou te entregar pra eles?

Aquilo era verdade, tudo o que eu dizia para ela era verdade.
Mas eram apenas palavras, as chances de que ela confiasse em mim eram poucas. E eu não me sentia ofendido por aquilo. Mas eu secretamente ansiava pela confiança dela.

-Você odeia mesmo a sua família, não é?

Pela primeira vez em todo esse tempo pude ver um olhar de Charlotte que eu não conhecia.
Um demônio por trás daquele doce olhar...
E aquilo me chamou ainda mais a atenção.

A Devil RomanceOnde histórias criam vida. Descubra agora