Feelings Are Hard

1.8K 206 101
                                    

Alguns dias depois...

Já haviam se passado alguns dias desde que a fusão havia sido realizada. Kai e Charlotte continuavam juntos em Portland. Eles estavam vivendo a vida da forma mais intensa possível, tão intensa e despreocupada quanto viviam nos anos 90.
Eles saiam diariamente para karaokês, cinemas, bares. Viviam sempre assistindo filmes, cozinhando, lendo livros e fazendo seu passatempo favorito, matando.

Charlotte estava sentada no tapete da sala. Em seu colo um grande grimório e em sua frente um copo cheio de água.
Ela fechou os olhos e respirou fundo, suas mãos próximas do copo de vidro.

-Phasmatos radium calaraa... -ela sussurrou.

As velas ao seu redor começaram a se acender e a água dentro do recipiente começou a borbulhar.
Charlotte abriu os olhos novamente, vendo a água aos poucos se tornar ácido.
Os movimentos de suas mãos que até então eram sutis, passaram a se tornar bruscos. E com breves acenos a taça se estilhaçou, as chamas das velas triplicaram de tamanho.

-Parece que você não perdeu o jeito -Kai se aproximou dela e se sentou no sofá da sala. Ele estendeu um pouco a mão fazendo o fogo das velas ficar ainda mais alto e intenso.

E com um estalar de dedos Charlotte fez elas se apagarem.

-Eu tinha esquecido o tanto que eu gostava de fazer isso -ela sorri e se levanta do chão, ela juntava as velas, ignorando a cera derretida escorrer pelos seus dedos.

A garota colocava as velas sobre o balcão, então voltou sua atenção para Kai que estava sentado no sofá olhando para um canto da sala.

-O que você tem?

-O que? -questiona Kai.

-É. Você está calado, não fez nenhuma piada sarcástica e ainda não colocou nenhuma música da Nirvana ou da Green Day no volume máximo -ela se aproximou de Kai, e se sentou no colo dele. -E eu te conheço o bastante pra saber que algo tá rolando.

-Qual a chance de você rir da minha cara? -Kai pergunta de forma irônica, seu olhar voltado para Charlotte, ele acaba rindo ao ver ela o olhar de forma entediada. -Você sabe como a fusão Gemini funciona. No final um gêmeo acaba absorvendo o outro, eu acho que nisso tudo eu devo ter absorvido algo do Luke. Eu acho que absorvi um pouco da bondade do Luke.

Charlotte arqueia as duas sobrancelhas de forma surpresa.

-Kai, como você absorveu a bondade do Luke sendo que nós matamos 5 pessoas há dois dias atrás?

-Só que a diferença é que agora eu tô sentindo remorso por isso -diz Kai, apoiando sua mão sobre a coxa da garota. -Eu sei, é irritante. Eu detesto isso, mas eu estou há horas pensando nisso. Pensando no que eu fiz com a Liv e o Luke, sendo que eles nunca tiveram nada a ver com essa história. Eu machuquei muitas pessoas durante esse tempo... Você deve estar achando isso patético.

-São sentimentos, Kai, por que eu acharia isso patético? -ela apoia sua mão sobre o ombro dele e oferece um sorriso acolhedor. -Vamos tentar dar um jeito nisso.

Kai a olhou por alguns segundos e retribuiu o sorriso.

-Eu acho que eu passei tantos anos com a minha família me julgando por tudo que acabo esquecendo que você não faz o mesmo -ele brinca com os cabelos dela. -Quando você era mais nova, como você lidava com essas emoções?

-Sabe que eu não te julgaria por nada, ainda mais por algo tão comum quanto sentimentos -Charlotte passou as unhas delicadamente pela nuca de Kai, então olhou para o lado ao ouvir seu questionamento, ela ficou pensando na resposta por alguns segundos. -Acredita que eu não tenha nenhuma resposta saudável? O maior trauma que eu já tive na minha vida foi com o meu pai, eu superei ele com violência. Tipo, joguei um balde de água fervente no rosto dele, matei algumas pessoas e depois de alguns anos matei ele.

-É, acho que jogar um balde de água fervente na cara de alguém não vai ajudar com o meu remorso -ele responde com certo cínismo e acaba rindo ao ver Charlotte fazer uma careta. -Que tal procurar no Google? Dizem que lá tem todas as respostas, aposto que vai ter algo pra ajudar.

Charlotte ergue um pouco seu corpo e pega seu celular que estava no bolso, logo voltando a se aconchegar no colo de Kai.

-Por que Kurt Cobain é a tela de fundo do seu celular? -Kai franze o cenho, em seguida arqueia uma sobrancelha olhando para a Charlotte.

-Eu estou tentando uma boa resposta pra isso, mas você tirou todos os meus argumentos -antes que Kai tivesse a chance de retrucar, Charlotte interrompe. -Olha, achei. Aqui diz que uma boa forma de lidar com as emoções é escrever cartas para as pessoas que te magoaram e que você magoou, e depois queimá-las.

-Isso não faz sentido, e ainda é mal explicado -Kai fala de forma confusa e um tanto revoltada. -Tipo, o que eu devo queimar? As pessoas ou as cartas?

-Eu acho que deve ser as pessoas. Você queima as pessoas que te magoaram e isso vai trazer alívio emocional -Charlotte voltou a ler o texto em seu celular. -Ah, aqui disse é pra queimar as cartas.

-Eu não vou fazer isso, é um completo desperdício de papel e de tempo.

Charlotte se levantou e caminhou até a escrivaninha do canto. Pegando algumas folhas de papel e uma caneta, então estendendo para Kai.

-Você vai fazer isso, porque nenhum de nós dois sabemos outra forma de lidar com sentimentos assim -ela comenta.

-Não vou fazer não -Kai cruza os braços. -Eu vou aprender a lidar com essas emoções, não precisa desperdiçar papel. Sabia que várias árvores morrem pra fazer esse papel?

-Se você não fazer isso eu vou te obrigar a ir em um terapeuta.

-Você não teria coragem.

-Eu teria sim. Eu te desmaiaria, hipnotizaria um psicólogo e te deixaria trancado até você começar a falar sobre essas emoções -retruca Charlotte, então ela estende novamente o papel para Kai. -Vai mesmo duvidar?

Kai a olhou pro alguns breves segundos, então deu um leve sorriso sarcástico no canto do rosto e pegou o papel e a caneta da mão dela.

-Tá, você ganhou. Eu vou escrever isso.

...

Alguns minutos se passaram, então Kai continuou a escrever algumas cartas.
Charlotte ficou jogada no chão da sala, comendo alguns torresmos, enquanto observava silenciosamente Kai escrever.
Ele juntou algumas cartas que ele havia escrito, então as colocou em um canto no chão e fechou os olhos, um murmúrio de um feitiço soou, e em seguida as cartas começaram aos poucos a virarem cinzas devido ao fogo.

-Tá tudo bem? -ela questiona ao ver Kai baixar a cabeça, então se aproxima dele.

Antes que Charlotte visse, Kai passou a mão pelo rosto com certa brutalidade impedindo que uma lágrima caísse se seus olhos.

-É como que os meus olhos quisessem excretar fluidos, é nojento -ele ironiza com desgosto, ainda olhando para o lado.

A garota dá uma breve risada com pouca graça e se senta em frente a ele no chão. Ela apoia uma de suas mãos sobre o rosto de Kai, fazendo ele a olhar.

-Você quer chorar, isso não é motivo de vergonha e nem de fraqueza. Não vindo de uma pessoa tão forte quanto você -ela sorri com doçura.

Charlotte puxa Kai para mais perto, fazendo ele apoiar sua cabeça no ombro dela e o abraçando em seguida. Algumas lágrimas desceram com relutância dos olhos de Kai, Charlotte pôde sentir elas caírem sobre sua pele e sentiu ele a abraçar com mais firmeza.

-Tá tudo bem, não tem nada errado em se sentir assim -ela sussurrava, passando sutilmente seus dedos pelos cabelos de Kai como um cafuné. -Eu sempre vou estar aqui.

-Foi mal por ficar te enchendo com essas baboseiras -ele responde. Um sútil tom irônico que sempre era usado para encobrir as suas emoções.

-Fala sério, você ainda não aprendeu? -Charlotte se afastou um pouco e colocou sua mão sobre o rosto de Kai, fazendo ele a olhar. -Nada que envolve você vai ser uma baboseira pra mim. Nada, ouviu?

Ela selou os seus rápidos. Oferecendo a ele um beijo rápido e doce, mas que ao mesmo tempo trazia uma boa dose de conforto.

A Devil RomanceOnde histórias criam vida. Descubra agora