Judas

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Era um local escuro e vazio, não tinha aparência definitiva, mas mesmo assim inspirava medo e uma onda de energia negativa. O lugar era abafado, o ar sujo e pesado, como se o fogo queimasse constantemente e a fumaça o contaminasse. Cada vez que tentavam inalar aquele ar sentiam seus pulmões se contraírem dolorosamente e sufocarem sem razão.
Talvez, o que tornasse o inferno tão impiedoso não fosse sua aparência, e sim todo aquele excruciante ambiente.

A tortura mental e física unida com os traumas vinha a tona incessantemente, fazendo o medo se tornar o único e inseparável aliado.
Mas o pavor sempre os acompanhava. Não sabiam se era fruto das torturas proporcionadas por Cade, ou pelo simples fato de saberem que estavam no inferno, aquilo já era o suficiente para enlouquecer e amedrontar cada um.
Podiam ouvir o som das correntes sendo arrastadas, sendo acompanhado com os contínuos gritos agonizantes, que ecoavam junto com murmúrios de espíritos que assombravam a todos...
Bom, para descrever totalmente o inferno, seria necessário ir ao "vivo" e a cores.

Charlotte estava sobre o chão áspero, sentada sobre um canto. Suas mãos amarradas atrás do próprio corpo com correntes quentes o suficiente para queimar sua pele. Ela evitava se mover para não sentir a verbena e o enxofre arderem contra a carne viva.
Todos os hematomas de sua vida humana estavam vívidos em sua pele. Dezenas de machucados roxos manchavam, cruelmente, todas as partes de seu corpo.

Olheiras escuras cobriam seus olhos, e o contorno de seu rosto estava bastante fundo. Sua pele tinha se tornado mais pálida do que nunca e seus lábios estavam roxos pela falta de oxigênio.
Ela fixava seu olhar em um ponto qualquer, apenas para evitar ver alguma alucinação de um dos seus fantasmas do passado.
Momento ou outro, sua cabeça tombava para frente, seus olhos lutavam para permanecerem abertos. A fraqueza parecia corroer cada um de seus ossos, e ela podia sentir como se aquela estaca ainda estivesse enfiada, dolorosamente, sobre o seu peito... Ela nunca se acostumava com aquilo.
Charlotte desejou estar morta, até se lembrar que já estava...

Ela riu para si mesma ao lembrar que o local onde estava era uma parte menos cruel do inferno... Só bastava um estalar de dedos e o diabo faria ela voltar a ala principal do tormento. Aquela que a faria sentir aquela mesma dor, porém 10 vezes pior.

-Olá, Charlotte -o homem adentrou pela sala. Uma luz fraca surgiu, apenas o suficiente para que pudesse reconhecê-lo.

Ele tinha a aparência de Giuseppe. Charlotte o olhou e deixou uma risada falha escapar, sabia que era uma das tentativas de Cade de amedrontá-la.

-Nada mal, mas ele provavelmente diria: "Charlotte querida" -ela ironiza, sua voz rouca e arrastada.

Cada palavra que saia da boca de Charlotte parecia consumir toda a sua energia. Parecia rasgar sua garganta.

-Você é uma boa companhia. Eu sempre me divirto com as nossas visitas -Cade se agachou para ficar na altura dela, retomando sua aparência normal. -Eu estava visitando a sua amiga, Bonnie, e descobri uma coisa interessante... Sabia que Kai Parker conseguiu fugir?

Charlotte o encarou, seu cenho se franziu com certa dúvida, mas ela sorriu ao ver que Cade estava falando sério. Ela sentiu um alívio percorrer sobre si, esquecendo totalmente suas dores.

-Kai está vivo... -sua cabeça se apoiou sobre a parede, e ela suspirou aliviada.

Com movimentos rápidos, Cade segurou a mandíbula dela e a apertou contra sua mão. Charlotte deixou um gemido de dor escapar, seus ossos pareciam tão frágeis naquele lugar, e ela sentia como se fossem se quebrar nas mãos dele.

-Não é uma boa notícia pra mim, então me poupe do seu alívio -Cade esbravejou. -Vai ser pior quando eu encontrar Kai... E você vai continuar aqui, presa junto comigo.

A Devil RomanceOnde histórias criam vida. Descubra agora