Sucker For Pain

513 66 52
                                    

O som das ondas se quebrando contra a areia ecoava de maneira tranquilizadora. O silêncio quase absoluto poderia fazer aquele local transmitir paz absoluta, mas uma voz resmungona acabava quebrando esse clima.

—Eu odeio praias —Charlotte reclama ao sentir um pouco de areia entrar pelo cano de seu coturno.

Ela apoiou suas costas sobre uma enorme palmeira e tirou suas botas, jogando-as perto de um arbusto de pequenas flores silvestres.

—Não precisa ser tão reclamona —Bonnie caminhava, seu olhar fixo no mapa que segurava em suas mãos. —Estamos perto de achar o ascendente, já é uma coisa boa.

A herege voltou a caminhar, sentindo a areia se friccionar contra seu pé em cada passo, mesmo assim fez questão de ignorar.
Seus olhos espertos percorriam cada pedaço daquela ilha. As árvores altas e finas, os arbustos de flores tropicais e pequenas frutas, algumas rochas cinzas e marrons. Não que ela tivesse interesse no paisagismo local, só que o desespero em encontrar o ascendente a deixava desesperada e fazia ela se sentir insana.

—Vinte e seis dias...

Bonnie se virou para encarar Charlotte. Suas sobrancelhas estavam suavemente franzidas em uma expressão confusa.

—O que? —ela indaga.

—Hoje completa vinte e seis dias desde que aquela vadia nos prendeu nesse lugar.

Qualquer coisa que a lembrasse de Sybil fazia com que o seu sangue fervesse e suas mãos tremessem pelo desejo de destruir cada parte dela.

—Eu estou adorando a ideia de acharmos o ascendente e sair daqui, óbvio. Eu quero muito fazer isso —cada uma das palavras de Charlotte Salvatore saiam de seus lábios com um ódio repentino, como se algo tivesse sido inserido em sua mente junto com um choque de realidade. —Mas o que vai acontecer quando nós voltarmos?

Bonnie abaixou o mapa, intrigada aquela mudança de humor repentina e questionamentos retóricos.

—Que diabos você tá falando, Charlotte?

—Que não vamos conseguir fazer nada quando sairmos daqui —a herege diz entredentes. Ela caminhava em passos lentos para perto da bruxa. —Eu não sou a criadora das sereias, não tenho o poder de prender elas no inferno. Ou seja, matar elas seria tão inútil quanto quebrar o pescoço de um vampiro.

—E qual a sua sugestão? —Bonnie balançava a cabeça, irritada com aquilo. Ela olhou rapidamente para os lados e abriu seus braços. —Ficarmos apodrecendo aqui só por que não temos uma solução imediata?

—Não foi isso que eu disse —murmurou Charlotte.

—Mas é o que está parecendo que você quer. E sabe o que parece? —Bonnie erguia o queixo, encarando profundamente os olhos escuros da outra mulher. —Parece que você está com medo. Medo de reencontrar o Damon e o Enzo e ver que eles não vão agir como as pessoas que você ama. Tem medo de reencontrar o Kai e ver que ele não vai dar a mínima pra você por estar sendo controlado. Só que você é orgulhosa demais pra admitir que tem medo!

Charlotte se aproximou mais de Bonnie.

—E o que você vai fazer? —o lábio superior da herege se franziu como resultado de seu ódio. Suas palavras ecoavam frias e rancorosas. —Vai fingir que vai conseguir trazer a humanidade deles de volta ou que consegue matar a Sybil? Porque eu tenho uma notícia pra te dar... Você não consegue.

Na última vez que Bonnie viu Charlotte tão enfurecida tentando esconder o próprio medo, resultou em uma tortura que sem dúvidas fez a bruxa Bennett passar noites em claro.
Bonnie deu um passo pra trás, temerosa com a lembrança, mesmo assim se forçou a erguer a cabeça.

A Devil RomanceOnde histórias criam vida. Descubra agora