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Meus olhos estão pesados demais, como se o peso dos meus cílios fosse de duas baleias ou algo assim. Começo a sorrir sozinha com a ideia de duas baleias nos meus olhos, mas não tenho certeza se realmente estou sorrindo ou é só um delírio.

Tento me mexer, mas de novo parece que tem uma baleia em cima de mim, me impedindo de mexer. Porém... Eu sei que não tem nenhuma baleia em cima de mim, porque se estivesse eu provavelmente estaria morta e eu não estou morta.

Fecho os olhos com força e forço eles a abrirem.

– Anna, consegue me dizer quantos dedos tem aqui? - minha visão está embaçada, mas consigo perceber o médico apontando uma lanterna no meu olho.

– Se você tirar essa lanterna do meu rosto, talvez eu posso dizer quantos dedos tem - estou com dificuldades pra falar, como se uma baleia estiver na minha boca.

Tá, ok! Tenho que parar de pensar em baleias.

– Oh, desculpe, só estava verificando... - ele fala umas coisas que não entendo.

– Tem 5 dedos aí - fecho os olhos. A claridade desse quarto está me cegando e minha cabeça está latejando - Alguém pode me dizer o que aconteceu? - pergunto.

– Eu irei fazer algumas perguntas, para ter certeza que seu cérebro não sofreu nenhuma mudança ou algo do tipo, e aí seu amigo pode te explicar o que aconteceu com você - concordo - De onde você é, Anna?

– Eu sou de Brasil - digo.

– O que faz no Brasil, Anna?

– Estou estudando. Um curso de escrita criatividade - passo a mão pelo meu rosto. Cinto una fios roçarem minha pele.

– Quantos anos você tem? - ele pergunta.

– 24 anos - susurro. Estou ficando sem ar, estou me sentindo sufocada, esse fios... esse homem fazendo muitas perguntas.

– Seus pais, quem são seus pais e o que eles fazem da vida? - o médico pergunta.

– Já respondi perguntas demais, já dá pra ver que eu estou bem - passo a mão pelo meu rosto. Esses fios...

– Este é a última, só mais esse - ele assegura.

– Minha mãe é professora de universidade e meu pai ele.... - ar, onde está o ar?

– Anna, fique calma - o médico segura minha mão.

Um apito chato começa a soar na sala.

– Fique calma, seus batimentos cardiacos estão acelerados - ele anda até um carrinho e trás uma seringa.

– Não, o que é isso? - olho assustada e tento me levantar.

– Calma, mantenha a calma - ele aplica a seringa no meu pulso - Respire - puxo o ar.

– Saia daqui - ouço uma voz forte, mas demora a perceber que é a voz do Aaron - Ela vai ficar mais calma se você estiver bem longe - não olhei pra eles, mas ouço a porta do quarto se fechar - Ei... - sinto ele alisar meu rosto.

– Não saia, não me deixa... Por favor - seguro a mão dele e aperto, mas começo a ficar sem forças - Baleias nos meus cílios - fecho os olhos e durmo.

...

Quando eu acordo de novo, não sinto Baleias em meus cílios e não sinto dor de cabeça.

– Você ficou 4 horas longe, onde esteve? - não abro os olhos, mas escuto Aaron falando com alguém.

– Tive que resolver o problema do Antôni e depois o Connor quis falar comigo. Preciso conversar com você, Aaron - é o Trevor.

– Depois conversamos - Aaron diz - Não te falaram que é feio escutar conversar alheia - percebo o tom zombeteiro do Aaron.

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