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No dia seguinte, quando termino de tomar meu café, Trevor aparece na cozinha. Ele está vestindo o terno casual de sempre, azul escuro, os cabelos estão alinhados perfeitamente sobre a cabeça e o perfume dele invade o ambiente.

- Tenho uma reunião de urgência na empresa, precisam de mim lá. Chamei minha mãe para te fazer companhia, mas estarei aqui antes da sua sessão de fisioterapia - ele beija o topo da minha testa - Não posso esperar ela chegar, porque já estou atrasado. Vai ficar bem até ela chegar? - perguntou.

- Eu já sou adulta, sei me cuidar. Vou me trancar naquele biblioteca e escrever até meus dedos doerem - sorrio pra ele.

- É um escritório - dou de ombros - Leve sua garrafa de água e algumas frutas para você. Não se esqueça de se alimentar - aceno em concordância - Até mais, princesa!

- Até logo, Príncipe! - vejo ele sorrir e revirar os olhos.

- Me liga qualquer coisa - ele grita antes de fechar a porta da casa.

Pego meu prato e meu copo, e ponho em cima do meu colo. Com uma certa dificuldade levo a cadeira até a pia e deixo o prato sujo ali.

Finalmente consigo chegar a biblioteca do Trevor. Vou para trás da mesa dele e rio sozinha, de felicidade por conseguir escrever.

Teve um tempo, quando tinha 17 anos, que eu escrevi um livro no meu notebook, mas não lembro muito sobre ele. Só sei que quando eu estava escrevendo, tudo a minha volta sumia, e eu amava a sensação.

Mexo nas folhas que o Trevor me disse e levo 10 delas até a máquina. Quando ia começar a escrever, uma folha como o meu nome nela chama minha atenção.

Essa folha é diferente das outras. O papel é grosso, meio amarelado e tem alguns detalhes na ponta.

Para: Anna Quillan
De: Trevor Branelle.

Hoje é seu aniversário e eu não me vejo te dando outro presente que não seja este. Sei que você ama ler, mas não sei ao certo qual é sua opinião sobre a escrita, porém.... No final do seu curso, você vai precisar escrever um livro e essa máquina aqui é ótima para isso.
Não quero que essa minha atitude seja muito exagerada, mas também não me importo se ela acabar sendo.
Você pode pensar que eu estou me precipitando em relação a máquina de escrever, até porque você ainda está no começo do curso e não sabe se essa chance de publicar um livro vai ser sua. Mas eu não te daria um presente assim se não soubesse da sua capacidade. Então, de coração espero que goste do presente.

Anna, um dia eu estava lendo um livro que dizia essa seguinte frase " Você nunca saberá o valor de um momento, até que se torne memória" e sabe o que eu pensei quando li isso?! Bem, eu pensei em todos os nossos momentos,por que mesmo com a distância, foram especiais. Lembrei de quando você me fez aquela piada sem graça, lembrei de quando você me ligou -bêbada- e ficou falando coisas sem noção em português, lembrei de quando EU te liguei - bêbado- e falei coisas sem noção em alemão e claro, também lembrei do dia em que você deixou de ir pra uma festa para virarmos a noite ( Ou no seu caso, a tarde) conversando sobre tudo, sobre nossas ambições e sobre nossos medos. E cara, essas memórias estão guardadas em um lugar especial no meu coração, mas a cada momento que passa elas estão se tornando mais distante e isso me assusta, porque não estou pronto para te deixar, nunca estive. Essas memórias tem valor, sempre tiverem, mas você não é minha, Anna.
Eu realmente entendo o motivo de não dermos certo. Somos de mundos diferentes e sei que você está feliz com o escritor, isso é o que importa para mim.
Tem emoções, sorrisos e até arrepios que eu jamais teria experimentado se eu não tivesse te conhecido. Você, Anna, só você, consegue despertar o melhor em mim e eu amo isso.

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