BÔNUS

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Sofia

Minha vida nunca foi fácil, apesar de todo mundo achar que é.

Desde os meus treze anos, eu sou praticamente obrigada a sentar pra bandidos, pra maridos dos outros, só para ter o que comer dentro de casa.

Eu moro com meus pais e com o meu irmãozinho pequeno, o Miguel.

Meus pais nunca nem ligaram pra mim, vivia no mundo das drogas, e vivem até hoje.

Sempre me ensinaram as coisas erradas, sempre foi eu por mim mesma, ninguém da minha família tentou me ajudar quando via meus pais me ensinando coisa errada.

Quando eu fiz treze anos, minha mãe achou que já era uma idade boa e eu poderia muito bem, já ficar com uns caras pra me sustentar, era assim que ela falava.

Eu no começo relutei, mas depois que eu vi que isso dava alguns dinheiro, eu comecei a fazer porque eu queria mesmo, sem ela impor nada, eu ia tudo pros baile.

Me jogava pros que não tinha muito alcance, esses era o que gostava de novinha, que mesmo que quisessem me por no nome, era eu só eu dar uma desculpa e já era.

Eu sempre esperta, quando estava no último ano da escola, comecei a juntar dinheiro, pra eu poder fazer um curso e parar com essa vida.

Mas foi bem aí que minha mãe deu a notícia que estava grávida do Miguel.

Eu até pensei em não ligar e seguir a vida, mas não deu, eu não consegui e me arrependeria com certeza.

Continuei nessa vida, cada dia mais estava piorando, eu não conseguia mais dinheiro como antes, a minha mãe já estava quase ganhando o Miguel, porque ele nasceu prematuro.

Eu me deixei mais uma vez ser influenciada pelos meus pais e acabei fazendo o que eles falaram, inda atrás da Nega.

Na real eu sempre olhei pra ela, sempre quis ter uma oportunidade de ficar com ela, mas ela não dava espaço, principalmente quando soube que eu ficava com outros cara.

Mas eu já nem estava ganhando dinheiro com eles, então me afastei de todos até consegui uma chance com ela.

Dei o meu talento no dia, como eu nunca tinha feito com ninguém.

Depois de um tempo, eu só ficava com os outros escondido porque ela não gostava de pegar outras, que todos passavam a mão.

Miguel nasceu e ele foi como meu filho, desde a primeira vez que eu vi aquele rostinho, eu disse pra mim mesma, que não ia deixar que ele tivesse a vida que eu levo.

O foda foi esse, a ganância, por mais que fosse pro bem, quanto mais eu ganhava, mais eu queria.

Então eu não estava nem aí pro que o povo falava, usava mesmo, fazia mesmo, quem tivesse falando que fale.

O importante pra mim era o Miguel ir pra escolinha, ter o que comer, o que vestir e só!

Mas foi tudo abaixo quando a Nega encontrou a Naty, achei que não ia dar em nada no começo, mas eu me enganei legal.

Eu tinha era inveja da Naty, ela conseguiu fazer com a Nega o que eu não consegui fazer em dois anos.

A minha sorte era os rolos que eu tinha e o dinheiro que eu tinha guardado, se não, eu ia passar fome junto com o Miguel.

Meus pais saiam de casa e voltavam, uma semana depois, nem ligava pra gente, pelo menos pro Miguel, eles deveriam ligar, mas nem isso...

Quando eu vi que não tinha jeito eu decidi falar com meus pais, deixei bem claro a situação.

Pois nesse dia eu escutei poucas e boas, e eles deixaram bem claro.

"Ou você arruma alguém pra bancar você e esse aí ou tu não come nada e ainda vai sair de casa, já não basta ter que aguentar vocês"

Eu chorei sozinha, como uma bebê, sem ter apoio de ninguém e olha que eu sempre ajudava o povo da minha família, os meus amigos...

Fui atrás de quem mais dava dinheiro, os casados, minha chance de começar a ajuntar dinheiro do zero.

Tentei com muitos, mais nem durou, só que teve um que estava tendo problema com a mulher e queria esquecer um pouco.

Ele esquecia todo dia né, já que sempre estava me ligando, eu chorava pra não ter que ir, mas acabava indo.

Só que felicidade de pobre não dura muito, fiquei dois meses com ele, o cara me bancava legal, nem sabia de onde ele tirava tanto dinheiro.

A mulher dele depois de um mês veio me mandar indireta, sempre ficava na cola do marido, sempre andava com as amiguinhas dela.

Eu morria de medo, real, eu não malho, não faço nada, nem brigar eu sei, da um sopro em mim, eu vou longe.

Mas ela acabou me pegando, cortou meu cabelo, era longo e ela deixou curtinho, pelo menos não raspou, mas me deixou no beco com a roupa rasgada, suja, nunca fui tão humilhada.

E bem no dia subiu os canas pra dentro da favela, eu só pensava no Miguel sozinho em casa, estava com os dois lá, mas era a mesma coisa que nada.

Falando nisso, os dois tava muito de cochicho, sorrindo pro vento, certeza que tava aprontando alguma, espero que essa invasão não tenha nada haver.

A minha sorte mais uma vez foi a Nega, ela mandou um tal de Loirin vim me bota em um barraco pra poder pelo menos tomar um banho, mas aproveitei que ele estava de moto e falei pra ele, deixar eu na minha casa.

Ele ficou meio assim, mas me deixou na porta, eu não queria nem saber se estava tendo tiroteio ou não.

Agradeci ele e entrei em casa, lá fora o maior barulho, mas em casa, o maior silêncio, nem entendi, minha primeira reação foi ir procurar o Miguel.

Estava aonde eu deixei, na minha cama, mas ele tinha alguns brinquedos e sentado.

Meus pais? Nem sinal, sumiram e até hoje não apareceu aqui, e eu espero que eles fiquem aonde estão.

O Miguel colocou a mão na minha boca e deu um sorriso, é isso que mais me alegra, um sorriso dele.

Sofia: Você tá com fome né - peguei ele no colo e fui pra cozinha.

Fiz um mexidão ali pra ele, coloquei batata e uns legumes que já tinha feito antes, nem eu gosto, mas tem que dar pra ele.

Me deu fome e não tinha nada pra eu comer, eu fui pra cantina, estava com preguiça de fazer comida em casa.

Peguei o Miguel, tadinho, estava morrendo de sono, mas eu tinha que levar ele comigo.

No caminho acabei encontrando aquele Loirin, a gente anda se encontrando no meio da rua, as vezes a gente até se fala.

Ele estava com uns cara então eu só ia passar direto, mas ele veio na minha direção eu achei estranho, mas parei mesmo assim.

Loirin: E aí tá tranquila? - assenti - tá indo aonde?

Sofia: La na cantina - ele parou pra pensar um pouco.

Loirin: Marca um dez aí, eu só vou pegar minhas coisas e já vou contigo - olhei estranho - se tu preferir comer sozinha, eu nem vou.

Sofia: Não pô, tá tranquilo, precisa disso aí não, vai lá pegar suas coisas que eu tô aqui com ele.

Ele foi demorou até mais do que tinha falado, mas eu esperei ele.

Loirin: É teu filho? - perguntou depois de um silêncio.

Sofia: quase isso,.. - ele assentiu

Fomos o caminho todo conversando, ele levou até o Miguel no colo, ele é um cara legal.

"Toda história tem dois lados"

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FEITICEIRA (Romance safico)Onde histórias criam vida. Descubra agora