cap 66

6.3K 523 44
                                    

Raissa Andrade

Fui pra boca rapidão, cabeça ta estourando, não ta nada legal.

Estava muito bom pra ser verdade, tinha uma cota que eu tava percebendo que a favela ta calma.

Sem ameaça, ninguém tentando invadir, aliados sempre junto e pelo menos na minha comunidade, nenhum do contra estava batendo na minha porta.

Aí veio logo uma ligação de manhã cedo, um dos canas que eu pago pra ficar de X9 lá dentro e ele logo mandou o papo pra mim que tão planejando uma invasão.

Diz ele que já tem uns dois meses, mas o filha da puta não tem tanto poder lá dentro e só ficou sabendo que vai ser daqui uma semana.

Mas o desgraçado não tem nem certeza, falou que eles podem entrar aqui a qualquer momento.

Que quer entrar aqui pra ver minha cabeça rolando abaixo esse morro.

Ele mandou as fotos tudo, lá do dia que eu saí do morro, pra ir em reunião, ir naquela chácara la, tinha foto da minha família também.

Esse que o foda, o sistema não vê isso, ou não quer ver o quão filha da puta eles são, envolver família, o que vê pela frente, eles tão atirando, ninguém quer saber se é trabalhador, de família, se não é envolvido com o tráfico, se é criança...

Pedro: Solta o verbo Nega - olhei envolta pra ver se todo mundo estava aqui.

Raissa: O negócio é o seguinte, nosso informante lá de dentro do canas, mandou o papo que eles tão planejando invasão - já mudaram a postura.

Carol: E coé dessas fitas Nega? Eles querem o que dessa vez? - soltei a fumaça do meu cigarro.

Raissa: Minha cabeça, o X9 deixou bem claro, nem uma vírgula a mais e nem uma vírgula a menos.

– Qual é o plano? - olhei pra ele.

Raissa: Bagulho é o seguinte, vai todo mundo avisar a comunidade, sem festa, as loja, bar e qualquer comércio, vão sempre ficar atento, até o nosso aviso - assentiram - vamo dividir os pontos...

Dividi com os cara tudo certinho, sem erro, todos vão estar armando, quero ver eles conseguirem subir aqui.

Depois de tudo planejado, os caras foi embora, só ficou eu, o Pedro e a Carol.

Pedro: Tu não vai entrar nessa não - olhei já feião pra ele - tá maluca Nega? Tu tá aí com tua família agora, Nathalia vai precisar de tu com a Rayane, e tu mesmo sabendo que eles querem tua cabeça, tu quer entrar nessa? - fui falar, mas a Carol me cortou.

Carol: É isso aí que o PR falou mermo, tu tem esse tanto de mavambo pra que? A gente fica na tua segurança, ou tu mete o pé daqui com eles.

Raissa: Vocês tão escutando o que tão falando? Eu vivo e morro pelo minha favela, tá tirando onda com a cara de bandido é? Eu vou sim nessa, cês acham que é quem pra falar o que eu devo ou não devo fazer? Daqui pra fora, nois é irmão, mas dentro do sistema nois só é mais um desgraçado que eles tão pouco se fudendo.

Nem falaram mais nada, eu também sai dali só querendo relaxar.

Eu amo o que eu tenho, tô ligado que eu posso perder tudo isso, mas por esse morro eu me arrisco.

Fui pra casa achando que eu não tinha ninguém, só queria um tempo pra respirar mermo.

Assim que eu entrei tudo em silêncio, do jeito que eu queria.

Fui direto pro meu quarto pra pegar a minha maconha, estava la logo a Nathalia com a Rayane.

Namoral mermo, eu não vejo a hora de me ajuntar com esse pitoco de gente, minha mulher e o Davi.

Meu porto seguro são eles, eu tô vivendo isso aqui, por eles...

Só peguei o que eu queria e sai dali, fui pra lajem, quero acordar ninguém.

Sentei no banquinho tento a visão do meu morro.

•••

Tava destruída quando eu ouvi gente subindo a escada, achei logo que era a Nathalia e já apaguei meu cigarro, já nem sei quantos foi.

Pai da Raissa: Qual foi? - olhei pra ele - apagou porquê? Queria da uns trago.

Raissa: Tá maluco? Minha coroa me mata - ri negando e ele puxou um banquinho pra sentar do meu lado.

Pai da Raissa: Tava daquele jeito de manhã porquê? Abre o bico pro teu coroa, já falei.

Raissa: Os canas vão invadir - ele me olhou - é pô, fiquei sabendo hoje de manhã.

Pai da Raissa: Mas tu já tá acostumada, coé dessa vez? - respirei fundo e parei de olhar pra ele.

Raissa: Antes eu só tinha o Davi de preocupação, agora tem a Nathalia, a Rayane... - limpei a lágrima que escorreu - os canas quer minha cabeça e eu já nem sei mais o que fazer.

Pai da Raissa: Não vai ser diferente não Raissa, toda vez que eu saia de casa, eu já voltava pensando nas três pessoas que tava me esperando, tomava cuidado aqui fora, pra quando eu bater na porta, minha mulher tava com a milha família me esperando.

Raissa:  Tô ligada, dessa vez pode sair nada errado, tem muita coisa em jogo - ele me puxou pra um abraço.

Troquei uma ideia maneira com ele. É isso que eu gosto no meu pai, é com ele que eu posso me abrir, sem vergonha.

Foi bom ter essa conversa com ele...

Votem e comentem!

FEITICEIRA (Romance safico)Onde histórias criam vida. Descubra agora