cap 19

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Raissa Andrade

Ouvi um ronco baixo, olhei pro lado e a Naty tinha dormido, estava babando de boca aberta. A doida dorme feio em.

Eu não sei o que me deu na cabeça pra aceitar vim pra casa dela, eu estou assustada comigo mesmo, mas ver ela chorando, frágil, ali no carro, foi demais pra mim, eu queria proteger ela de qualquer coisa.

Eu nunca vivi em meio de preconceitos por causa da minha sexualidade, acho que era por ser filha do tão falado RB, tinham respeito por mim.

Quando eu me assumi pra ele, uma das primeiras coisas que ele fez, além de me dar apoio, ele fez uma lei na favela sobre esse bagulho de homofobia, a gente tenta controlar o máximo que dá, mas com certeza ainda rola, mas pode ter certeza que vamos achar esse filho da puta e eles vão ser cobrados.

Apesar de ser bruta e não me importar muito com as pessoas, eu sou muito observadora e deu pra perceber que isso foi um tipo de gatilho pra ela, o que atingiu, não foi apenas ver o amigo dela.

Fiquei em meios dos meus pensamentos, olhando ela dormindo, que nem prestei atenção, quando amanheceu, só vi uma brecha da janela, o sol.

Nathalia: Me admirando senhorita Nega? - perguntou de olhos fechados me dando um susto.

Nega: Porra que susto - ela riu e saiu de cima de mim.

Nathalia: Bom dia - acenei com a cabeça como resposta.

Ficamos cada uma em seus pensamentos e em um silêncio desconfortável, não tinha muito o que eu falar, nem nos conhecíamos.

Nathalia: Por favor liga pra seu amigo e pergunta se eu posso ver meu primo - falou ainda sem me encarar, nem lembrava que o Gael era primo dela.

Peguei meu radinho, sai de perto dela e falei que a Naty queria ver o Gael, ele disse que o primo dela também tava perguntando dela.

Nega: Aí pode ir lá - falei assim que ela saiu do banheiro - tu não sabe aonde é né? - ela assentiu com a cabeça.

Nathalia: Tu pode me levar la? - me olhou com uma cara triste.

Nega: Se troca ai, que eu te levo - fui saindo do quarto pra ela se trocar, a roupa que ela me deu estava confortável, era uma camisa largona pra ela, mas que ficou certinho em mim e um short de jogar bola, a unica coisa que eu estava usando repetido, era a minha cueca.

Depois dela se trocar, saiu do quarto e nem me ofereceu nada pra comer, estava na maior larica, mas nem falei nada. Saímos da casa dela fomos pro carro, ainda era cedo mais as velhas fofoqueiras ja estavam no seu plantão diário. No caminho parei enfrente da padaria do irmão.

Nega: Ai to na maior larica. Tu vai querer alguma coisa? - perguntei pronta pra sair do carro, ela assentiu.

Irmão: bom dia, o mesmo? - ele ja estava no balcão, parece que tinha adivinhado que eu estava vindo.

Nega: Dessa vez não, só me dá três reais de pão de frios e dois daqueles sucos ali de caixinha - apontei pros suquinhos de morando enquanto ele ia pegando o que eu pedi. 

Irmão: Minha filha eu não quis te perguntar nada por que eu fiquei meio receoso - falou me entregando as coisas - O que aconteceu com aquele menino Gael? Ele é um menino tão gente boa. 

Expliquei pra ele por alto o que eu sabia, que nem era muito, a gente trocou uma ideia sobre o que tinha acontecido e depois de pagar ele, eu fui pro carro. Cheguei la a maluca ja estava de cara feia.

Nathalia: Demoro em! Quero ir logo ver meu primo - pegou as coisas da minha mão.

Nega: Não pode dar liberdade mesmo,  tava comprando os bagulho - calada estava, calada ela ficou, mas agora comendo.

Chegamos enfrente a casa do Pedro, descemos do carro, tanto na minha casa como na dele, tinha uns menó que ficavam de segurança, cumprimentei eles com um toque, eles me cumprimento como sempre me chamando de "patroa", vi que a outra ficou meio que em um canto e quando eles me chamaram assim, ela ficou com uma cara nada boa, mas disfarçou e entramos sem bater.

Nega: PR - gritei e logo ouvi passos na escada.

Pedro: Vai lá Naty, ele tá te esperando - apontou pra escada depois de já ter descido - segunda porta a esquerda.

Nem precisou falar duas vezes, ela praticamente saiu correndo. Olhei pra cara do Pedro e ele estava bem estranho e bravo.

Sentei no sofá da sala, ele foi pra cozinha, eu queria ouvir o que tinha realmente acontecido, por mais que a Naty tenho me contado pra cima, não deu pra ter entendido muito bem. Ele voltou depois de um tempo com uma garrafinha de água e sentou no sofá.

Pedro: Ele me falou que estava no baile tranquilo, mas sentiu vontade de ir no banheiro, foi lá no bar na rua de frente do baile - colocou a cabeça no meu colo, quem visse de fora jamais ia falar que ali estava os dois que comandam o morro - por que ele não gosta de ir no banheiro improvisado, só que tinha muita gente na fila e ele tava muito apertado, daí ele teve que ir no banheiro que tava disponível ali, quando saiu tinha um cara olhando pra ele,  esse cara chamou ele, O Gael foi lá ver o que tanto ele queria, assim que o Gael chegou perto o cara chamou o outro e tamparam a boca do Gael e levou ele a força pra trás do banheiro.

Nega: filhos da puta - estava puro ódio, boladona mesmo e olha que ele nem tinha terminado de falar.

Pedro: O Gael falou que nem deixaram ele se defender nem nada - continuou a falar - só foi batendo nele e falando que o Gael era um viadinho, um nada - o Pedro já tava com a voz meio embargada - se tá ligada isso afeta o Gael né - confirmei com a cabeça.

Entre esses rolos do Pedro e do Gael, eu acabei ficando muito próxima do Gael, ele é como se fosse meu irmãozinho, ele tem um papo maneiro, e uns dias atrás quando a gente conversava, ele falou sobre o preconceito que ele viveu dentro da casa dele.

Nega: Tô ligada sim pô - ele se levantou pra beber água.

Pedro: Ele ficou todo abalado, nem quis deixar eu tocar nele, você tem noção Raissa? Ele estava com medo de mim cara - falou chorando.

Nega: Você tem que entender o lado dele, ele não está com medo de você, mas está dos homens que bateram nele, ele acha que tu pode fazer igual, lembra quando eu cheguei aqui, foi a mesma coisa - eu era péssima em conselhos, mas vê o quanto isso afetou o Pedro mexeu comigo.

Pedro: Minha vontade é de pegar esses filho da puta - passou a mão no cabelo - O pior é que eu tentei falar com o Gael, mas ele não lembra de muita coisa.

Fiquei conversando ali, até ele se acalmar, pelo menos tentei acalmar ele né, por que ele parecia possesso.

Nega: Da um tempo pra ele, qualquer coisa me liga - fiz um toque com ele - tenho que ir ver o Davi - Sai dali direto pra minha casa.

Davi: Mãe ainda bem que você chegou - apareceu na cozinha desesperado - o que aconteceu com o tio Gael? Ele tá bem? Tá muito machucado? - virou metralhadora.

Nega: Ele ta, Digamos que melhor eu acho, só fui na casa do Pedro levar a outra lá e acabei nem vendo ele - botei a água pra fazer um miojo no fogo.

Expliquei pro Davi até aonde eu sabia, depois comi meu miojo e fui dormi com a cabeça doendo pra caralho, nem fui na boca hoje.

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FEITICEIRA (Romance safico)Onde histórias criam vida. Descubra agora