cap 67

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Nathalia Prado

Tá tudo muito estranho aqui, tá as coisas tudo fechando cedo, as crianças eu tô quase não vendo mais.

Raissa pediu pra mim essa semana dormir na casa dela, mas tá saindo de madrugada de casa, pra ir em boca.

Ela tá andando toda armada, os que anda com ela também.

Isso me lembra quando a favela ficava atenta por causa de invasão, mas na real acho que eu não quero aceitar, ela não conversou nada comigo.

Me levantei pra ir trabalhar, hoje eu só tomei banho e passei uma mão por cima do meu cabelo.

Rayane tá essa semana com a minha mãe, ela foi lá pra casa dos parentes do Pedro.

Loirin: Hoje tu saiu mais cedo patroa - Raissa também mandou ele pra me levar e buscar.

Nathalia: Quero tomar café lá no irmão - entrei no carro - bora lá, tu toma café comigo - ele assentiu.

Fomos lá no irmão, já achei estranho assim que cheguei, o portão quase todo fechado, nem entendi.

Loirin: Ae irmão! - ele apareceu.

Fizemos nosso pedido, nunca mais eu falo que vou pagar alguma coisa pro Loirin, o bichinho é magro de ruim, como três vezes mais que eu.

Nathalia: Irmão fala uma coisa pra mim - ele me encarou - porque teu portão tá quase todo fechado? - ele me olhou estranho.

Irmão: Tá sabendo não  minha filha?  - neguei - tua mulher mandou avisar a comunidade toda pra ficar atento, a polícia tá querendo entrar aqui.

Nathalia: Ela não me falou, mas obrigada aí - ele assentiu e foi atender outra mulher que tinha entrado.

Eu só queria saber o porquê ela não me falou?

Terminei de comer ali, o Lorin também, sem falar nada.

Ele me deixou enfrente do meu trabalho, eu já entrei sem falar com ninguém.

•••

Acho que todo mundo percebeu que eu não estou legal, tô morrendo de dor de cabeça também, só me tranquei na minha sala e fiquei lá o dia todo, nem comi.

Hoje fui liberada mais cedo, eu ia ligar pro Loirin vim me buscar, mas eu queria pensar um pouco.

Então eu fui de ônibus mesmo, dessa vez ele apareceu até que rápido.

Eu não sei se eu não prestei atenção no caminho, não sei o que que deu, mas foi rápido viu.

Fui andando, sabe quando tu tá no mundo da lua? E não tá prestando atenção em nada? Eu estava bem assim.

Cheguei na ponta na favela, tudo fechado, uma movimentação estanha, uns meninos na lajem com radinho.

Aí eu me liguei, minha única reação foi sair correndo.

Fui indo entre os becos, aonde eu sabia que cortava caminho, pra casa da Raissa.

Minha casa era mais perto, mas eu só consegui pensar no Davi sozinho.

Carol: O que tu tá fazendo aqui? - tomei um susto com ela na ponta do beco, toda armada.

Nathalia: Sai mais cedo, tô cortando o caminho pra ir pra casa da Nega.

Carol: Bora, sobe aqui - ela nem esperou eu subir direito e já meteu o pé.

Ela me deixou enfrente a casa, falando pra mim não sair e explicou aonde o Davi estava.

Assim que eu cheguei , começou os tiros, eu fui correndo aonde o Davi tava.

Nathalia: Davi? Davi? - ele saiu de dentro do guarda roupa.

A única coisa que a gente fez foi ficar abaixados no cantinho, enquanto os tiros só ficavam mais altos.

Depois de um tempo ouvimos baterem na portar, o Davi já levantou.

Davi: As vezes tem alguém machucado, talvez minha mãe - falou baixo - vamo lá ver.

Levantei ainda meio assim, nunca se sabe, meus pais me ensinaram a não abrir, quando tá tendo invasão, mas eu nunca fiquei na casa de outra pessoa, enquanto estava tendo.

Ele tentou ver pela brechinha da porta, mas nem ele estava conseguindo ver.

Eu mesmo fui abrir, depois que eu fiquei pensando que poderia ser alguém machucado.

Assim que eu destranque a porta, já abriram com tudo, três policiais com a arma apontada pra gente, na hora eu só coloquei o Davi atrás de mim.

– Tu que é a mulher da Nega? - Não neguei e nem concordei - eu sei que tu é - riu e deu três tapas na minha cara, eu já estava chorando.

– Chora não princesa - um que ta mais pra trás falou - só fala pra gente aonde ela guarda as drogas  e dinheiro, aqui no barraco dela.

Nathalia: Eu não sei - solucei e me mantive no lugar - eu não faço ideia de onde ela guarda nada.

– O muleque aí atrás deve saber né - neguei - é o filhinho dela, não vai falar mesmo aonde tá?

Nathalia: A gente não sabe aonde tá - um deles puxou o Davi de trás de mim - só não faz nada com ele, por favor.

– Você - apontou pro outro que estava na porta - vai lá encima, procura em todo canto - ele assentiu e foi.

– O que eu faço com o muleque? - ele encarou o outro.

– só segura ele pra não sair daí, eu vou dar um jeitinho na boneca aqui - foi me levando pra parte de trás da casa.

Eu continuei calada, estava com muito medo de falar alguma coisa errada e ele acabar fazendo alguma coisa com o Davi.

Ele começou a passar mão em mim, olhando pros meus olhos, pegou no meu peito, quando eu vi que ele estava descendo mais a mão eu comecei a me debater.

– Fica quieta caralho - me deu um tapa no rosto - não é assim que aquela bandida que tu deita faz, não é? - eu neguei e comecei a pedir pra ele parar.

Ele tentou de novo, mas eu não deixei e me debatia cada vez mais.

Não deu outra, quando ele percebeu que eu não ia deixar fazer nada, ele começou a me espancar, sem pena alguma.

A única coisa que eu ouvi depois de um tempo, foi a voz do Davi, ele me gritando.

Davi: Nathalia não dorme - bateu no meu rosto, tentando me acordar - olha aqui pra mim.

Ouvi os polícias discutindo, e logo depois eles pararam e só sairam, deixando eu e o Davi.

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FEITICEIRA (Romance safico)Onde histórias criam vida. Descubra agora