MARIANE
Saímos da ducha, eu vesti uma calcinha e a camisa dele, amassamos um pouco do japa que estava ali, ele estourou o champanhe e nós brindamos.
— À nos. — disse ele.
— À tudo que vivemos juntos e ainda vamos viver. — encostei minha taça na dele e em seguida, tomei um gole. Não sou muito fã.
— Espero que seja coisa pra caralho ainda... — ele disse e o semblante mudou.
— Papo é esse, Danilo? — franzi a testa e apoiei a taça na mesinha.
— Ah, preta... — respirou fundo. — Tá ligada que eu disse que agora meu rosto é conhecido? — assenti. — Então, os gambé estão na minha cola. Na nossa, na verdade. Minha e do patrão. Tô passando um tempo afastado por isso... Eles sabem que achando um, vão achar o outro, sabem que o Frank não vai largar o morro na mão de ninguém e que mais cedo ou mais tarde, ele vai voltar pra casa. — pausou.
— Fala tudo logo. — eu disse, estava mais do ansiosa.
— Não quero oferecer perigo pra vocês, tá ligado? Só tenho tu e o Victor na minha vida, e Deus não quer não, mas e se essas cara me pega com um de vocês? E se tu vira alvo? E se o Victor presencia alguma parada? Eu não sei o que fazer. — seu rosto estava triste e ele não conseguia me olhar nos olhos.
— Eu não sei o que dizer, amor. — havia um nó em minha garganta. — Eu entendo tudo isso, entendo a sua preocupação, mas eu não quero ficar longe de você.
— Nem eu quero, preta. Tá maluco! — puxou minha cadeira, me levando mais próxima à ele. — Tu não tem noção do que fez na minha vida, de como você me faz enxergar as paradas. Tu pode não levar fé quando eu te digo que não era de colar com ninguém, mas quando olhei pra tu, eu sabia que era contigo que ia ficar, pelo resto dos meus dias...
A última frase me fez arrepiar, o modo como ele falou era como se ele soubesse que estava com os dias contados, que mais cedo ou mais tarde, algo aconteceria com ele.
— Para de falar assim, Danilo. — eu tentei falar sem chorar, mas não aguentei... As lágrimas começaram a rolar pelo meu rosto, enquanto ele carinhosamente as secava. — Eu acredito em você, apesar de dizer que não... Desde que batemos de frente no açougue, em um domingo de manhã, eu sabia que de uma forma ou outra, você ia estar na minha vida. Eu só não imaginava que ia ser de forma tão intensa, de uma forma tão linda. — ele deixou um sorriso escapar. — E eu te agradeço por ter sido insistente, por ter quebrado todas as barreiras que eu pus.
— Você tinha que ser minha, Mari. A verdade é essa... — disse de forma descontraída. — Teu destino sou eu. E é isso que me deixa mais aflito. — coçou a cabeça. — Vamo casar?
— Que?
— Casa comigo! A gente já mora junto mermo... — deu de ombros. — Vou mandar o moleque levar uma aliança amanhã pra você, já que não posso botar a cara no morro, por enquanto.
— Mas eu aceitei?
— Vai negar? Amanhã eu morro e tu vai se arrepender...
— Para de falar em morte, Danilo. — bufei. — Que saco!
Mudamos de assunto e eu, acabei sem dizer se aceitava ou não esse pedido repentino de casamento. Danilo também não tinha notícias do César, afinal, depois da operação muita gente teve que correr pros morros aliados e até o contato se restabelecer, ia demorar.
— Eu vou procurar saber dele pra tu, preta. — já estávamos deitados, nos preparando pra dormir.
— Eu te agradeço, é pela mãe dele, porque por mim... Tanto faz.
— Eu to ligado. E acho maneiro que a mãe dele o ama incondicionalmente, amor de mãe mesmo, papo de coisa que nunca tive...
Ele não tem um bom relacionamento com os pais e nós já conversamos sobre isso. Ele não fala com eles desde quando ele entrou pra vida do crime, o que deve ter mais ou menos uns 10 anos. Eu sinto que esse é um dos assuntos que mais o incomoda, queria muito fazer algo quanto a isso, porém, ele não curte a ideia de tentar reencontra-los.