Descobrir que o César tem moral a ponto de intervir nas minhas escolhas amorosas dentro da favela, me deixou completamente estressada. Meu baile acabou ali.
— O que foi, amiga? Marcola já foi te tontear?
— Não, amiga. Foi nada não. — menti e continuei séria, até chegarmos perto dos meninos.
Marcelo notou a mudança e veio pra perto de mim, já ia botando a mão na minha cintura, quando eu a segurei, afastando.
— Aqui não. Depois a gente conversa... — ele me olhou sem entender nada e a decepção estava nítida.
Não dei mais um sorriso naquele lugar, até que Deus tocou no coração dos meus amigos e eles tomaram a brilhante decisão de ir embora.
Chegamos na casa deles e e eu já fui logo caçando um banho, botei meu pijaminha e quando voltei, Jessica já tinha subido pra casa dela e o Marcelo estava na cozinha, com cara de poucos amigos.
— Vai comer?
— Vou sim. Fez pra dois?
— Claro, po. Nunca esqueço de tu... — sorriu no automático. — Dá o papo, qual foi lá do baile? Tava te embaçando? Se passei do limite, te peço desculpas.
— Nada disso, Linho. — respirei fundo. — É o babaca do teu irmão, mas amanhã, achei que eu acordar, vou direto no Pet, to cansada desse fantasma na minha vida.
— Qual foi? — passou a olhar pra mim. — Já sei... Ele botou os moleque atrás de nós dois. Ele falou mermo que ia fazer...
— Nem longe do morro esse babaca me deixa em paz... — bufei. — Não sei quem ele pensa que é, pra achar que pode mandar e desmandar na minha vida. Eu queria não sentir nada pelo teu irmão, mas eu sinto nojo. Maldita hora que eu conheci esse merda.
— Vou contigo, po.
— Não, Linho. É melhor evitar problema, se eu não conseguir resolver, te peço ajuda.
— Tem certeza? — fiz que sim com a cabeça. — Vou respeitar porque é tu pedindo. Mas também vou dar meus pulo, saco cheio do César, mermão. Saco cheio!!
Comemos, conversamos mais um pouco e fomos dormir. Outra noite em que não fizemos nada além de nos beijar e trocar carinhos... E eu acho isso incrível. O respeito que o Marcelo trata a mim, ao meu corpo, enfim... Eu sei que é o mínimo, mas muito gente não faz e não recebe nem isso.
Acordei mais cedo que ele dessa vez. Fiquei olhando ele dormir por um tempo... E minha mente começou a trabalhar. Por que não o conheci antes? Por que não trombei com ele ao invés do César? Por que tive que passar por tudo o que passei pra olhar pra ele com outros olhos?
E o pior: e se eu estiver maquiando toda uma situação? Se estivermos, os dois, tentando experimentar algo só pra mostrar pras pessoas que estamos bem e que ninguém pode nos mandar?
Confesso que to tentando viver um dia de cada vez, mas toda hora penso que se isso der errado, eu vou perder uma peça fundamental na minha vida. E não, eu não quero passar por isso.